São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2005 |
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LUÍS NASSIF Paroxismo e inação Quando ocorreu o desastre da desvalorização
cambial, em janeiro de 1999, o
então presidente do Banco Central Chico Lopes foi jogado às feras. Todos que o conheciam minimamente -de jornalistas a
amigos- sabiam que não tinha
havido dolo na sua atuação no
episódio. Mas foi sacrificado pela vontade do príncipe.
Quando ocorreu o episódio do
vazamento de fitas do BNDES
(Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), as
conversas entre Luiz Carlos
Mendonça de Barros e André
Lara Rezende mostravam interferência do governo no processo,
com a preocupação de criar
competição na privatização das
telecomunicações. Ambos eram
fundamentais para a futura
mudança da política cambial e
do rumo do governo. Foram degolados pelo príncipe.
Faltou lealdade ao príncipe?
Talvez. Mas, em momentos graves de crise, a lógica da governabilidade se impõe, exige rapidez,
determinação, corte na própria
carne. Fernando Henrique Cardoso não era indeciso. Tinha
enorme enfado em construir o
futuro e conduzir o dia-a-dia.
Mas, nos momentos de crise,
não vacilava.
A grande ameaça à governabilidade é a vacilação de Lula.
Neste momento há algumas dezenas de bombas de alto calibre
plantadas na administração.
São militantes petistas ou funcionários cooptados atuando
em cargos-chave do governo e
sujeitos a tiros sobre o que estão
fazendo ou sobre o que já fizeram.
Há um paroxismo capaz de
transformar até contratos de R$
7.000 em denúncia. E esse paroxismo é diretamente proporcional à falta de respostas do governo para a crise.
Daqui para a frente haverá
três tipos de escândalo. Os letais,
aqueles dos quais a opinião pública (e até o próprio governo)
vierem a saber pela mídia, com
os autores ainda no exercício do
seu cargo. Os menos perigosos,
que vierem a explodir depois da
demissão de seus autores. E os
virtuosos, aqueles apurados pelo próprio governo.
Se quiser preservar a governabilidade, a primeira coisa que
Lula deveria estar fazendo seria
o mapeamento de todos os cargos críticos da administração, a
avaliação sobre o potencial de
escândalo de cada um e a demissão imediata de quem representar perigo -independentemente de ser inocente ou não.
Demissão não é condenação. O
importante é passar dois sinais
para a opinião pública de descontaminação da máquina.
O segundo sinal é ampliar o
mais rapidamente possível o governo eletrônico. O governo já
anunciou a extensão do pregão
de compras para todas as áreas
da administração pública. A
certificação digital já é uma realidade pronta e acabada. A partir do momento em que forem
eletrônicos todos os preços de
compras e licitações, todas as
transferências de verbas, todos
os pagamentos, o jogo começa a
mudar. E a opinião pública começará a se dar conta de que a
crise serviu para alguma coisa.
Se não houver ação rápida de
Lula, a probabilidade de não
terminar o governo crescerá exponencialmente.
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