São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fuga de dólares é a maior desde 2002

Influenciado pela saída de investimentos da Bolsa, saldo no mercado de câmbio ficou negativo em US$ 2,7 bi em junho

Para analista, resultado não deve se repetir devido aos altos juros brasileiros; no semestre, fluxo de dólares foi positivo em US$ 23,1 bi

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dados do Banco Central mostram que houve uma saída recorde de dólares do país no mês passado. Consideradas todas as operações fechadas no mercado de câmbio em junho, o fluxo de divisas para o Brasil ficou negativo em US$ 2,676 bilhões, valor mais alto registrado pelo BC desde outubro de 2002.
Boa parte desse resultado se deve à fuga de recursos observada nas chamadas operações financeiras -que incluem, entre outras, investimentos estrangeiros em empresas e no mercado financeiro e pagamentos da dívida externa. Contabilizadas todas as entradas e saídas de recursos nesse segmento, o saldo de junho ficou negativo em US$ 6,251 bilhões.
Os dólares obtidos por meio de exportações compensaram, em parte, o número negativo do mês passado. Em junho, o volume de dólares vendidos pelos exportadores superou o total comprado por importadores em US$ 3,575 bilhões.
Segundo Mário Battistel, diretor da corretora Novação, as remessas recordes refletem a saída de investidores estrangeiros da Bovespa (veja texto abaixo), mas não devem se manter nos próximos meses. "Com essa taxa de juros absurda que a gente tem aqui, é muito difícil que aconteça uma saída mais forte dos investidores", afirma.
Atualmente, a taxa básica de juros brasileira está em 15,25% ao ano, enquanto nos Estados Unidos ela está em 5,25% ao ano. A elevada taxa praticada no Brasil proporcionaria, portanto, uma rentabilidade bem maior aos investidores do que os juros norte-americanos. Para Battistel, esse cenário deve continuar atraindo divisas para o país.
O gerente de câmbio do banco Prosper, Jorge Knauer, diz que o fluxo negativo de câmbio em junho ficou "mais ou menos dentro do esperado" pelo mercado. Segundo ele, o que vai ditar o rumo da cotação do dólar daqui para a frente vai ser a situação do cenário externo. "Se formos olhar só para o cenário interno, há uma tendência de queda clara da taxa de câmbio."
Knauer ressalta, porém, que ainda há muitas incertezas no mercado internacional, o que pode afetar o Brasil. Embora tenha havido uma maior tranqüilidade nos últimos dias, continuam as dúvidas sobre o futuro dos juros praticados nos Estados Unidos: sinais de inflação têm obrigado o Fed (o banco central dos EUA) a elevar seguidamente sua taxa, o que tem feito muitos investidores reduzirem suas aplicações em países emergentes para direcionar mais recursos a títulos norte-americanos.

Retração
Dados do BC divulgados no final de junho já apontavam para uma retração no fluxo de capital externo para o país. Os investimentos estrangeiros diretos no país, por exemplo, somavam apenas US$ 300 milhões até o dia 21 do mês passado, contra US$ 1,6 bilhão em maio.
Nesse mesmo período, as empresas instaladas no Brasil haviam refinanciado apenas 24% das parcelas de dívidas contraídas no exterior -os 76% restantes tiveram que ser efetivamente pagos.
Apesar do resultado negativo de junho, o fluxo de dólares para o Brasil acumulado desde janeiro ficou positivo: no semestre, o saldo líquido de capital externo foi de US$ 23,130 bilhões, contra US$ 9,253 bilhões no mesmo período de 2005.


Texto Anterior: Veículos: Executivos de GM e Renault discutem parceria tríplice
Próximo Texto: Cenário externo derruba Bolsas pelo mundo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.