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Fuga de dólares é a maior desde 2002
Influenciado pela saída de investimentos da Bolsa, saldo no mercado de câmbio ficou negativo em US$ 2,7 bi em junho
Para analista, resultado não deve se repetir devido aos altos juros brasileiros; no semestre, fluxo de dólares foi positivo em US$ 23,1 bi
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dados do Banco Central
mostram que houve uma saída
recorde de dólares do país no
mês passado. Consideradas todas as operações fechadas no
mercado de câmbio em junho,
o fluxo de divisas para o Brasil
ficou negativo em US$ 2,676 bilhões, valor mais alto registrado pelo BC desde outubro de
2002.
Boa parte desse resultado se
deve à fuga de recursos observada nas chamadas operações
financeiras -que incluem, entre outras, investimentos estrangeiros em empresas e no
mercado financeiro e pagamentos da dívida externa. Contabilizadas todas as entradas e
saídas de recursos nesse segmento, o saldo de junho ficou
negativo em US$ 6,251 bilhões.
Os dólares obtidos por meio
de exportações compensaram,
em parte, o número negativo do
mês passado. Em junho, o volume de dólares vendidos pelos
exportadores superou o total
comprado por importadores
em US$ 3,575 bilhões.
Segundo Mário Battistel, diretor da corretora Novação, as
remessas recordes refletem a
saída de investidores estrangeiros da Bovespa (veja texto abaixo), mas não devem se manter
nos próximos meses. "Com essa taxa de juros absurda que a
gente tem aqui, é muito difícil
que aconteça uma saída mais
forte dos investidores", afirma.
Atualmente, a taxa básica de
juros brasileira está em 15,25%
ao ano, enquanto nos Estados
Unidos ela está em 5,25% ao
ano. A elevada taxa praticada
no Brasil proporcionaria, portanto, uma rentabilidade bem
maior aos investidores do que
os juros norte-americanos. Para Battistel, esse cenário deve
continuar atraindo divisas para
o país.
O gerente de câmbio do banco Prosper, Jorge Knauer, diz
que o fluxo negativo de câmbio
em junho ficou "mais ou menos
dentro do esperado" pelo mercado. Segundo ele, o que vai ditar o rumo da cotação do dólar
daqui para a frente vai ser a situação do cenário externo. "Se
formos olhar só para o cenário
interno, há uma tendência de
queda clara da taxa de câmbio."
Knauer ressalta, porém, que
ainda há muitas incertezas no
mercado internacional, o que
pode afetar o Brasil. Embora
tenha havido uma maior tranqüilidade nos últimos dias,
continuam as dúvidas sobre o
futuro dos juros praticados nos
Estados Unidos: sinais de inflação têm obrigado o Fed (o banco central dos EUA) a elevar seguidamente sua taxa, o que tem
feito muitos investidores reduzirem suas aplicações em países emergentes para direcionar
mais recursos a títulos norte-americanos.
Retração
Dados do BC divulgados no
final de junho já apontavam para uma retração no fluxo de capital externo para o país. Os investimentos estrangeiros diretos no país, por exemplo, somavam apenas US$ 300 milhões
até o dia 21 do mês passado,
contra US$ 1,6 bilhão em maio.
Nesse mesmo período, as
empresas instaladas no Brasil
haviam refinanciado apenas
24% das parcelas de dívidas
contraídas no exterior -os 76%
restantes tiveram que ser efetivamente pagos.
Apesar do resultado negativo
de junho, o fluxo de dólares para o Brasil acumulado desde janeiro ficou positivo: no semestre, o saldo líquido de capital
externo foi de US$ 23,130 bilhões, contra US$ 9,253 bilhões
no mesmo período de 2005.
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