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Fundador da Enron morre antes de prisão
Ken Lay, 64, condenado em dez processos em maio, aguardava definição de sentença de até 165 anos de reclusão
Amigo de Bush e protagonista do maior escândalo financeiro dos EUA, executivo teria sofrido infarto em Aspen
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK
Morreu ontem em Aspen
(Colorado), aparentemente de
infarto e aos 64 anos, Kenneth
L. Lay, fundador e ex-presidente da empresa de energia Enron
e protagonista do maior escândalo financeiro dos EUA.
Condenado em maio em dez
processos por fraude e conspiração, Lay aguardava em liberdade a definição da pena, prevista para outubro. Podia pegar
165 anos de reclusão.
Com sua morte, perde-se a
oportunidade de conhecer a
história do escândalo que
transformou o mundo corporativo global nos detalhes que só
seu principal protagonista poderia revelar.
A Enron, gigante americana
do setor elétrico, entrou em
concordata em dezembro de
2001, após denúncias de fraudes contábeis e fiscais (leia texto nesta página).
A causa da morte de Lay ainda não foi confirmada, embora
médicos falem de uma provável
parada cardíaca. Os parentes se
limitaram à seguinte nota: "Os
Lay têm uma família muito
grande, com a qual têm de se
comunicar. Por respeito a eles
não divulgaremos mais informações neste momento".
A Enron chegou a ser a sétima maior empresa de capital
aberto dos EUA, com capitalização de US$ 100 bilhões na
bolsa. Nos anos que seguiram
ao escândalo, vários episódios
-como o suicídio de Cliff Baxter, ex-vice-presidente da empresa, e perseguições do FBI-
revelaram o envolvimento de
bancos de investimento, empresas de auditoria e negócios
que a Enron mantinha clandestinamente e à revelia do governo americano.
"Acredito que Deus tem o
controle de tudo. Ele trabalha
para o bem daqueles que amam
o Senhor", foi a última declaração pública de Lay após ouvir a
condenação de um tribunal federal em Houston (Texas), há
seis semanas. No julgamento,
havia explicado à Justiça um
gasto de US$ 200 mil para a festa de aniversário da mulher,
Linda, num cruzeiro: "É difícil
acabar com esse estilo de vida".
Queria ser prefeito de Houston,
cidade-sede da Enron.
Defensor da desregulamentação do setor elétrico, Lay se
beneficiou da política de liberalização conduzida pelos ex-presidentes Ronald Reagan e
George Bush pai. Sua renda
anual chegou a US$ 22 milhões,
e sua fortuna, a US$ 52 milhões
em 2001, às vésperas da quebra.
Ex-ativista republicano e
amigo da família Bush, Lay tinha uma vasta rede de relações
políticas. Apoiou (injetou dinheiro) as campanhas para governador do Texas e para presidente dos EUA de George W.
Bush, que o chamava de
"Kenny Boy", antes de se afastar definitivamente com a falência da Enron.
O porta-voz da Casa Branca,
Tony Snow, recusou-se a comentar a morte do ex-amigo do
presidente. "Eles eram apenas
conhecidos, e muitos conhecidos do presidente já morreram
ao longo desses seis anos de
mandato", desconversou.
Natural de Tyrone, Estado de
Missouri, Lay trabalhou na
Humble Oil, que mais tarde se
transformou na Exxon. Foi
subsecretário do Departamento do Interior, executivo da
Florida Gas, da Transco Energy
em Houston e chegou a dirigir a
Houston Natural Gas. Em 1985,
comandou a fusão da HNG com
a InterNorth (de Nebraska),
que deu origem à Enron.
Outro executivo da Enron,
Jeffrey Skilling, também foi
condenado pelo escândalo que
levou a empresa à falência. O
Departamento de Justiça se recusou a comentar as implicações da morte de Lay no processo de Skilling, considerado
culpado em 20 acusações.
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