São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006

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Fundador da Enron morre antes de prisão

Ken Lay, 64, condenado em dez processos em maio, aguardava definição de sentença de até 165 anos de reclusão

Amigo de Bush e protagonista do maior escândalo financeiro dos EUA, executivo teria sofrido infarto em Aspen

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

Morreu ontem em Aspen (Colorado), aparentemente de infarto e aos 64 anos, Kenneth L. Lay, fundador e ex-presidente da empresa de energia Enron e protagonista do maior escândalo financeiro dos EUA.
Condenado em maio em dez processos por fraude e conspiração, Lay aguardava em liberdade a definição da pena, prevista para outubro. Podia pegar 165 anos de reclusão.
Com sua morte, perde-se a oportunidade de conhecer a história do escândalo que transformou o mundo corporativo global nos detalhes que só seu principal protagonista poderia revelar.
A Enron, gigante americana do setor elétrico, entrou em concordata em dezembro de 2001, após denúncias de fraudes contábeis e fiscais (leia texto nesta página).
A causa da morte de Lay ainda não foi confirmada, embora médicos falem de uma provável parada cardíaca. Os parentes se limitaram à seguinte nota: "Os Lay têm uma família muito grande, com a qual têm de se comunicar. Por respeito a eles não divulgaremos mais informações neste momento".
A Enron chegou a ser a sétima maior empresa de capital aberto dos EUA, com capitalização de US$ 100 bilhões na bolsa. Nos anos que seguiram ao escândalo, vários episódios -como o suicídio de Cliff Baxter, ex-vice-presidente da empresa, e perseguições do FBI- revelaram o envolvimento de bancos de investimento, empresas de auditoria e negócios que a Enron mantinha clandestinamente e à revelia do governo americano.
"Acredito que Deus tem o controle de tudo. Ele trabalha para o bem daqueles que amam o Senhor", foi a última declaração pública de Lay após ouvir a condenação de um tribunal federal em Houston (Texas), há seis semanas. No julgamento, havia explicado à Justiça um gasto de US$ 200 mil para a festa de aniversário da mulher, Linda, num cruzeiro: "É difícil acabar com esse estilo de vida". Queria ser prefeito de Houston, cidade-sede da Enron.
Defensor da desregulamentação do setor elétrico, Lay se beneficiou da política de liberalização conduzida pelos ex-presidentes Ronald Reagan e George Bush pai. Sua renda anual chegou a US$ 22 milhões, e sua fortuna, a US$ 52 milhões em 2001, às vésperas da quebra.
Ex-ativista republicano e amigo da família Bush, Lay tinha uma vasta rede de relações políticas. Apoiou (injetou dinheiro) as campanhas para governador do Texas e para presidente dos EUA de George W. Bush, que o chamava de "Kenny Boy", antes de se afastar definitivamente com a falência da Enron.
O porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, recusou-se a comentar a morte do ex-amigo do presidente. "Eles eram apenas conhecidos, e muitos conhecidos do presidente já morreram ao longo desses seis anos de mandato", desconversou.
Natural de Tyrone, Estado de Missouri, Lay trabalhou na Humble Oil, que mais tarde se transformou na Exxon. Foi subsecretário do Departamento do Interior, executivo da Florida Gas, da Transco Energy em Houston e chegou a dirigir a Houston Natural Gas. Em 1985, comandou a fusão da HNG com a InterNorth (de Nebraska), que deu origem à Enron.
Outro executivo da Enron, Jeffrey Skilling, também foi condenado pelo escândalo que levou a empresa à falência. O Departamento de Justiça se recusou a comentar as implicações da morte de Lay no processo de Skilling, considerado culpado em 20 acusações.


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