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São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2003

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DRAGÃO ADORMECIDO

Taxa no mês passado foi -0,08%; instituto não registrava deflação em junho e julho desde 1949

Fipe já prevê inflação anual abaixo de 8%

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A inflação volta a entrar nos trilhos e já caminha na casa dos 5% na estimativa dos próximos 12 meses. Em julho, os preços recuaram 0,08% em São Paulo, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. É a primeira vez, desde 1998, que julho registra deflação -o mês é sempre pressionado pelos reajustes de tarifas.
O arrocho na política econômica do governo fez efeito, provocando dois meses seguidos de deflação. Desde 1949 a Fipe não registrava queda de preços nos meses de junho e julho.
As maiores dificuldades econômicas já passaram. Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, está otimista com a economia nos próximos meses. Os índices não registrarão mais deflação, mas a alta das taxas será moderada.
Este mês deve registrar taxa de 0,80%. Em setembro, a inflação fica em 0,50%. Já para o último trimestre, Heron prevê taxa mensal de 0,30%. Nesse cenário, a inflação acumulada deste ano ficaria em 7,5%, bem próxima à das previsões do início do ano.
Mas o economista da Fipe tem receio desses sustos na economia, como o do início desta semana, quando o dólar e o risco-país subiram. No caso do dólar, a alta não afeta a inflação.
A moeda norte-americana já bateu nos R$ 4 e esse custo foi repassado. O biscoito, que subiu muito devido à alta do trigo no segundo semestre de 2002, ainda não devolveu a queda que o cereal teve neste ano, diz ele.
"O que preocupa são os boatos de demissões no governo. Esses poderão ter efeitos mais desastrosos na inflação e na economia", diz o economista.
Esses sustos na economia não devem ser empecilhos para o Banco Central manter a política de redução dos juros. O risco-país, por exemplo, mesmo que suba, não deve interferir nessa trajetória de queda de juros. É dada muita importância ao risco, diz ele. "É o rabo balançando o cachorro", conclui.
Na opinião de Heron, a taxa de juros deve cair pelo menos 1,5 ponto percentual na reunião do Copom deste mês. Se for aprovada a reforma da Previdência em primeiro turno, a desaceleração deve aumentar para pelo menos dois pontos, diz.

Cenário inverso
A aceleração rápida da inflação reduziu a renda dos consumidores, diminuiu a demanda e estimulou a baixa nos preços no primeiro semestre. A deflação vai provocar um efeito contrário agora. Os preços estão em queda e as reposições salariais atuais são feitas pela inflação passada, que é elevada. Esses dois fatores melhoram a demanda.
Além da melhora das condições financeiras dos consumidores -que terão pequena melhora na renda e na oferta de crédito-, governo e indústrias também gastarão mais neste final de ano, acelerando o ritmo da economia. Com uma definição melhor das reformas econômicas, as expectativas mudam e teremos "um Natal feliz", acrescenta Heron.

Mudança de patamar
A inflação desceu um degrau. Nas contas da Fipe, 54% dos 525 produtos pesquisados pela instituição, tiveram variações na faixa de -1% a +1%. Apenas quatro produtos tiveram reajuste acima de 10% e outros seis registraram quedas superiores a 10%.
A taxa recuou para 5,21% nos sete primeiros meses deste ano e atingiu 13,36% no acumulado de 12 meses. Até maio, estava em 5,46% e 14,74%, respectivamente.


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