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DRAGÃO ADORMECIDO
Taxa no mês passado foi -0,08%; instituto não registrava deflação em junho e julho desde 1949
Fipe já prevê inflação anual abaixo de 8%
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A inflação volta a entrar nos trilhos e já caminha na casa dos 5%
na estimativa dos próximos 12
meses. Em julho, os preços recuaram 0,08% em São Paulo, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. É a primeira
vez, desde 1998, que julho registra
deflação -o mês é sempre pressionado pelos reajustes de tarifas.
O arrocho na política econômica do governo fez efeito, provocando dois meses seguidos de deflação. Desde 1949 a Fipe não registrava queda de preços nos meses de junho e julho.
As maiores dificuldades econômicas já passaram. Heron do Carmo, coordenador do Índice de
Preços ao Consumidor da Fipe,
está otimista com a economia nos
próximos meses. Os índices não
registrarão mais deflação, mas a
alta das taxas será moderada.
Este mês deve registrar taxa de
0,80%. Em setembro, a inflação fica em 0,50%. Já para o último trimestre, Heron prevê taxa mensal
de 0,30%. Nesse cenário, a inflação acumulada deste ano ficaria
em 7,5%, bem próxima à das previsões do início do ano.
Mas o economista da Fipe tem
receio desses sustos na economia,
como o do início desta semana,
quando o dólar e o risco-país subiram. No caso do dólar, a alta
não afeta a inflação.
A moeda norte-americana já
bateu nos R$ 4 e esse custo foi repassado. O biscoito, que subiu
muito devido à alta do trigo no segundo semestre de 2002, ainda
não devolveu a queda que o cereal
teve neste ano, diz ele.
"O que preocupa são os boatos
de demissões no governo. Esses
poderão ter efeitos mais desastrosos na inflação e na economia",
diz o economista.
Esses sustos na economia não
devem ser empecilhos para o
Banco Central manter a política
de redução dos juros. O risco-país, por exemplo, mesmo que
suba, não deve interferir nessa
trajetória de queda de juros. É dada muita importância ao risco, diz
ele. "É o rabo balançando o cachorro", conclui.
Na opinião de Heron, a taxa de
juros deve cair pelo menos 1,5
ponto percentual na reunião do
Copom deste mês. Se for aprovada a reforma da Previdência em
primeiro turno, a desaceleração
deve aumentar para pelo menos
dois pontos, diz.
Cenário inverso
A aceleração rápida da inflação
reduziu a renda dos consumidores, diminuiu a demanda e estimulou a baixa nos preços no primeiro semestre. A deflação vai
provocar um efeito contrário agora. Os preços estão em queda e as
reposições salariais atuais são feitas pela inflação passada, que é
elevada. Esses dois fatores melhoram a demanda.
Além da melhora das condições
financeiras dos consumidores
-que terão pequena melhora na
renda e na oferta de crédito-, governo e indústrias também gastarão mais neste final de ano, acelerando o ritmo da economia. Com
uma definição melhor das reformas econômicas, as expectativas
mudam e teremos "um Natal feliz", acrescenta Heron.
Mudança de patamar
A inflação desceu um degrau.
Nas contas da Fipe, 54% dos 525
produtos pesquisados pela instituição, tiveram variações na faixa
de -1% a +1%. Apenas quatro produtos tiveram reajuste acima de
10% e outros seis registraram
quedas superiores a 10%.
A taxa recuou para 5,21% nos
sete primeiros meses deste ano e
atingiu 13,36% no acumulado de
12 meses. Até maio, estava em
5,46% e 14,74%, respectivamente.
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