São Paulo, sexta-feira, 06 de agosto de 2004

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ALTA TENSÃO

Suspeitas contra presidente do BC e novo recorde da commodity levam Bolsa de SP à maior queda em quase três meses

Meirelles e petróleo derrubam mercado

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Notícias negativas não faltaram, e o mercado financeiro refletiu essa turbulência ontem: a Bovespa caiu 3,82%; dólar, juros futuros e risco-país fecharam em alta. Além de o preço do barril do petróleo atingir mais um recorde, novas denúncias de suspeitas contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tumultuaram os negócios pela tarde.
O novo recorde alcançado pelo petróleo afetou o mercado desde a abertura, com a Bolsa em baixa e dólar e juros pressionados. Há o temor de que a alta do produto seja repassada internamente para os preços dos combustíveis. Isso pressionaria a inflação e poderia fazer o BC elevar as taxas de juros.
A denúncia de transações suspeitas de Meirelles com doleiros azedou o mercado de vez.
A Bolsa de Valores de São Paulo já iniciou o pregão em baixa, influenciada também pelas perdas das ações de energia elétrica. Com o fracasso do governo na tentativa de arquivar no STF (Supremo Tribunal Federal) as ações do PSDB e do PFL contra a lei que criou o novo modelo do setor elétrico, os papéis das empresas do setor desabaram no pregão de ontem, registrando as maiores perdas.
"O mercado começou o dia ruim e piorou com as denúncias. Para Meirelles, o acúmulo desses episódios tem gerado grande desgaste. A pergunta é se ele agüentará a pressão", diz Rodrigo Boulos, economista do banco Santos.
O dólar registrou alta de 0,52% e fechou a R$ 3,071, maior valor em dez dias. O risco-país, espécie de termômetro da confiança do investidor estrangeiro, fechou em alta de 1,34%, aos 606 pontos. A Bovespa teve a maior baixa em um pregão em quase três meses. Apenas 2 das 55 ações mais negociadas na Bolsa fecharam em alta ontem.
"A reação do mercado foi bem negativa, mesmo antes de [os investidores] saberem ao certo do que se tratavam as novas denúncias. É difícil dizer se o Meirelles vai acabar saindo [da presidência do BC], mas, se isso acontecer, será em um momento bem ruim para o governo", avalia Guilherme da Nóbrega, economista-chefe do banco Fibra, referindo-se aos indicadores que sinalizam a retomada da economia.
Nas mesas de operações dos bancos, analistas especulam sobre o alcance e impacto das denúncias e se essas podem acabar derrubando o presidente do BC.
Na quarta-feira, a informação de que a Comissão de Fiscalização e Controle do Senado convidou Meirelles e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, a prestarem esclarecimentos sobre as denúncias de supostas sonegação e evasão não tinha chegado a levar turbulência ao mercado.
A elevação do petróleo fez com que as apostas na possibilidade de o BC aumentar a taxa básica de juros da economia (Selic, hoje em 16% ao ano) crescessem.
No pregão da Bolsa de Mercadorias & Futuros, a taxa do contrato DI -que acompanha os juros praticados entre os bancos- com vencimento na virada do ano subiu de 16,74% para 16,88% anuais. No contrato com prazo de vencimento daqui a um ano, a taxa foi de 17,83% para 18,14%.


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