São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2008

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Tarifa e crise no mercado seguram o lucro do Itaú

Mesmo com juro maior, banco não espera desaceleração do crédito neste ano

Novas regras do BC derrubam em 9,2% a receita com tarifas; tesouraria tem queda de 17,8% nos ganhos com piora no mercado

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os grandes bancos brasileiros seguem reportando desaceleração no ritmo crescente de lucros vistos até o ano passado por conta de ganhos não-recorrentes, perda de receita de tarifas bancárias e de resultados fracos de suas tesourarias com a turbulência nos mercados.
Ontem foi a vez do Itaú, segundo maior banco privado, anunciar um aumento de apenas 1,7% no lucro liquido no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2006.
O banco teve ganho de R$ 4,084 bilhões no período, resultado pouco inferior aos R$ 4,105 bilhões apurados pelo Bradesco, que cresceu só 2,4% em relação ao ano anterior. No segundo trimestre, o Itaú lucrou R$ 2,041 bilhões -3,4% menos do que em 2007.
Em ambos os bancos, os lucros em patamar elevado refletem a expansão do crédito, que não dá sinais de desaceleração mesmo com o recente aumento nos juros do BC. No caso do Itaú, a carteira de crédito somou R$ 148 bilhões no final de junho, um aumento de 41,3% em relação a 2007. O ritmo é superior até ao obtido pelo banco no ano passado, auge do boom do crédito -36,5%.
O crescimento fraco dos lucros também decorre de ganhos não-recorrentes que os bancos tiveram em 2007 -com a venda de participações na Serasa e o prédio do BankBoston, caso do Itaú- e que não se repetem neste ano. Sem esses ganhos, o lucro do Itaú teria crescido 6,2% no período.
Para Silvio de Carvalho, diretor de controladoria do Itaú, o crescimento modesto do lucro se deve também ao recuo na receita de tarifas bancárias e a um resultado pior da tesouraria, após o aumento da turbulência nos mercados financeiros.
Com as novas regras tarifárias, que entraram em vigor no final de abril, a receita de tarifas do banco caiu 9,2% em relação ao primeiro semestre do ano passado - passou de R$ 1,023 bilhão para R$ 928 milhões.
"Nesse primeiro semestre de 2008, emprestamos mais, mas com "spreads" [diferença entre juros captados e repassados] menores. Também diminuiu a receita de serviços. Não podemos mais cobrar tarifa de abertura de conta. Só vou conseguir crescer a receita de tarifas aumentando a base de clientes."
Já a Tesouraria do Itaú, que compra e vende papéis no mercado, viu seu resultado recuar 17,8% no período, passando de R$ 1,448 bilhão para R$ 1,191 bilhão do primeiro semestre de 2007 para o de 2008.
"O ambiente do primeiro semestre foi muito diferente do que foi no ano passado. Aumentou muito a volatilidade. É muito complexo fazer uma previsão para a tesouraria", disse.
O Itaú previa um crescimento de sua carteira de crédito para pessoa física entre 25% e 30% neste ano. Só no primeiro semestre, a expansão foi de 38,3% em relação a 2007, atingindo R$ 62,3 bilhões. O financiamento de veículos teve expansão ainda maior, de 61,7%.
"Hoje estamos mais próximos de crescimento de 30% do que de 25%. Ainda achamos que a demanda por crédito vai ser forte neste ano. A subida dos juros deve reduzir um pouco a demanda como também a oferta. Vamos analisar mais os pedidos [de empréstimo]."
Ainda no crédito, o destaque ficou por conta dos financiamentos para empresas, que cresceram 47,8% no período, somando R$ 46,9 bilhões. Com a crise nos mercados globais, as grandes empresas perderam o acesso a linhas de financiamento externo e deixaram de fazer IPOs [abertura de capital].
As pequenas e médias são a que mais recorreram ao crédito, que teve expansão de 66,2%.


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