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BC reduz ritmo de corte na taxa de juros
Decisão de reduzir Selic em 0,25 ponto percentual foi unânime, e nota gera dúvidas quanto a novos cortes neste ano
Foi a 18ª redução seguida
da taxa básica, em decisão
já esperada pelo mercado por causa da forte alta
dos preços dos alimentos
FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central reduziu o
ritmo de corte dos juros. Ontem, por unanimidade, o Copom (Comitê de Política Monetária) aprovou a diminuição da
Selic em 0,25 ponto percentual,
para 11,25% ao ano.
Nas duas reuniões anteriores, a redução havia sido de
0,50 ponto. O corte, o 18º consecutivo, completa período de
dois anos de quedas ininterruptas da taxa básica. A decisão
era esperada pelo mercado financeiro e também pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O texto divulgado pelo colegiado após a decisão despertou
dúvidas nos analistas sobre a
continuidade dos cortes em outubro: "O Copom avaliou a conjuntura macroeconômica e
considerou que, neste momento, o balanço de riscos para a
trajetória prospectiva da inflação ainda justificaria estímulo
monetário adicional".
Para o economista-chefe do
Itaú BBA, Alexandre de Ázara,
a frase deixa aberta a possibilidade de o corte de ontem ser o
último do ano.
"O comitê irá monitorar
atentamente a evolução do cenário macroeconômico até sua
próxima reunião para, então,
definir os próximos passos",
completa a nota do BC.
A taxa brasileira segue como
a segunda mais alta do mundo.
Estudo da Consultoria UpTrend mostra que o juro real
está em 7,3%, abaixo do da Turquia, que tem 9,4%.
A diminuição do ritmo dos
cortes era esperada por praticamente todo o mercado financeiro e já havia sido sinalizada
na ata da reunião de julho do
Copom. Naquele texto, diretores do BC, cuja última decisão
unânime havia sido em março
(queda de 0,25 ponto), alertaram de que o ritmo de expansão
da demanda doméstica poderia
"colocar riscos para a dinâmica
inflacionária".
O problema, dizem os analistas, é que o quadro descrito pelo BC mudou para pior nas últimas semanas. A remarcação de
preços em cinco dos mais importantes itens da cesta básica
-carne, leite, milho, soja e trigo- pressionou os principais
índices de inflação, que registraram alta em ritmo mais forte
que o esperado. Na terça-feira,
o ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que o aumento
de preços acendeu o "sinal
amarelo" no governo.
Para o economista-chefe do
Itaú BBA, foi esse cenário que
mudou a avaliação dos diretores do BC. Ázara diz que, apesar
de o cenário externo preocupar
muito mais após a crise imobiliária nos EUA, a decisão do BC
foi muito mais baseada no cenário interno.
"Temos inflação crescente e
demanda em expansão. Isso
preocupa qualquer autoridade
monetária", disse Ázara.
O professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Carlos Thadeu de Freitas Filho reforça essa avaliação
e lembra que serviços também
têm aumentado de preço. Isso
pode ser entendido como reflexo da alta da demanda, diz ele.
Diante desse cenário, o departamento de conjuntura econômica da UFRJ revisou para
cima a projeção do IPCA, usado
nas metas de inflação. Para
2008, o número passou de 4,3%
para 4,6%, acima do centro da
meta de 4,5% para o ano que
vem.
Agora, a expectativa passa
para a ata da reunião, que será
divulgada em uma semana. Para o economista-chefe do Banco Safra, Eduardo de Faria Carvalho, o documento vai balizar
as apostas sobre o comportamento do Copom nas próximas
reuniões.
Por enquanto, o mercado de
juros futuros aposta que o último corte do juro em 2007 será
em outubro, fechando o ano em
11% anuais. A pesquisa anterior
do BC previa que a taxa fecharia o ano em 10,75%. Mas o comunicado de ontem e uma possível maior preocupação do BC
com a inflação podem reforçar
o cenário de juros estáveis na
próxima reunião. Essa hipótese
já era ouvida no mercado financeiro antes da decisão de setembro do Copom. A próxima
reunião do comitê acontece em
16 e 17 de outubro.
Entre janeiro e julho, o IPCA,
usado para verificar o cumprimento da meta de inflação, acumulou alta de 2,32% A meta de
inflação para este ano é de
4,5%, com variação de dois
pontos percentuais para cima
ou para baixo.
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