São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2007

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BC reduz ritmo de corte na taxa de juros

Decisão de reduzir Selic em 0,25 ponto percentual foi unânime, e nota gera dúvidas quanto a novos cortes neste ano

Foi a 18ª redução seguida da taxa básica, em decisão já esperada pelo mercado por causa da forte alta dos preços dos alimentos

FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central reduziu o ritmo de corte dos juros. Ontem, por unanimidade, o Copom (Comitê de Política Monetária) aprovou a diminuição da Selic em 0,25 ponto percentual, para 11,25% ao ano.
Nas duas reuniões anteriores, a redução havia sido de 0,50 ponto. O corte, o 18º consecutivo, completa período de dois anos de quedas ininterruptas da taxa básica. A decisão era esperada pelo mercado financeiro e também pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O texto divulgado pelo colegiado após a decisão despertou dúvidas nos analistas sobre a continuidade dos cortes em outubro: "O Copom avaliou a conjuntura macroeconômica e considerou que, neste momento, o balanço de riscos para a trajetória prospectiva da inflação ainda justificaria estímulo monetário adicional".
Para o economista-chefe do Itaú BBA, Alexandre de Ázara, a frase deixa aberta a possibilidade de o corte de ontem ser o último do ano.
"O comitê irá monitorar atentamente a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para, então, definir os próximos passos", completa a nota do BC.
A taxa brasileira segue como a segunda mais alta do mundo. Estudo da Consultoria UpTrend mostra que o juro real está em 7,3%, abaixo do da Turquia, que tem 9,4%.
A diminuição do ritmo dos cortes era esperada por praticamente todo o mercado financeiro e já havia sido sinalizada na ata da reunião de julho do Copom. Naquele texto, diretores do BC, cuja última decisão unânime havia sido em março (queda de 0,25 ponto), alertaram de que o ritmo de expansão da demanda doméstica poderia "colocar riscos para a dinâmica inflacionária".
O problema, dizem os analistas, é que o quadro descrito pelo BC mudou para pior nas últimas semanas. A remarcação de preços em cinco dos mais importantes itens da cesta básica -carne, leite, milho, soja e trigo- pressionou os principais índices de inflação, que registraram alta em ritmo mais forte que o esperado. Na terça-feira, o ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que o aumento de preços acendeu o "sinal amarelo" no governo.
Para o economista-chefe do Itaú BBA, foi esse cenário que mudou a avaliação dos diretores do BC. Ázara diz que, apesar de o cenário externo preocupar muito mais após a crise imobiliária nos EUA, a decisão do BC foi muito mais baseada no cenário interno.
"Temos inflação crescente e demanda em expansão. Isso preocupa qualquer autoridade monetária", disse Ázara.
O professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Carlos Thadeu de Freitas Filho reforça essa avaliação e lembra que serviços também têm aumentado de preço. Isso pode ser entendido como reflexo da alta da demanda, diz ele.
Diante desse cenário, o departamento de conjuntura econômica da UFRJ revisou para cima a projeção do IPCA, usado nas metas de inflação. Para 2008, o número passou de 4,3% para 4,6%, acima do centro da meta de 4,5% para o ano que vem.
Agora, a expectativa passa para a ata da reunião, que será divulgada em uma semana. Para o economista-chefe do Banco Safra, Eduardo de Faria Carvalho, o documento vai balizar as apostas sobre o comportamento do Copom nas próximas reuniões.
Por enquanto, o mercado de juros futuros aposta que o último corte do juro em 2007 será em outubro, fechando o ano em 11% anuais. A pesquisa anterior do BC previa que a taxa fecharia o ano em 10,75%. Mas o comunicado de ontem e uma possível maior preocupação do BC com a inflação podem reforçar o cenário de juros estáveis na próxima reunião. Essa hipótese já era ouvida no mercado financeiro antes da decisão de setembro do Copom. A próxima reunião do comitê acontece em 16 e 17 de outubro.
Entre janeiro e julho, o IPCA, usado para verificar o cumprimento da meta de inflação, acumulou alta de 2,32% A meta de inflação para este ano é de 4,5%, com variação de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.


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