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Plano de infraestrutura exige
mais R$ 60 bi
Novos projetos, que incluem os primeiros investimentos do pré-sal, vão requerer neste ano 50% a mais de crédito do que em 2008
Empresários reclamam da dificuldade de obter recursos em banco privado; Febraban afirma que não há poupança de longo prazo no Brasil
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil terá de ampliar em
R$ 60 bilhões a oferta de crédito para bancar os investimentos em infraestrutura projetados para este ano.
Segundo a Abdib (Associação
Brasileira da Infraestrutura e
Indústrias de Base), a carteira
de investimentos em infraestrutura previstos para o ano soma R$ 161 bilhões, o que inclui
projetos nas áreas de petróleo e
gás (já agregando os primeiros
investimentos no petróleo do
pré-sal), energia, transporte e
logística, saneamento e telecomunicações.
O montante não inclui ainda
projetos como o Trem-Bala ou
a usina hidrelétrica de Belo
Monte, no Pará. Procurada, a
Casa Civil não informou como
pretende viabilizar ofertas de
crédito para assegurar o financiamento da carteira de empreendimentos anunciados.
Mal ou bem, o país conseguiu
cobrir a demanda de crédito de
R$ 106 bilhões criada por empreendimentos contratados ao
longo de 2008, mas a preocupação da Abdib é conseguir novas
fontes, sem as quais muitos
projetos não sairão do papel.
Trata-se de uma demanda em
expansão no país.
A Abdib calcula que, entre
2003 e 2004, a demanda de crédito para cobrir operações do
mercado de infraestrutura somava R$ 56 bilhões. Subiu para
R$ 75 bilhões ao ano entre
2005 e 2006 e alcançou os
R$ 90 bilhões em 2007.
Paulo Godoy, presidente da
associação, afirma que a capitalização do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) ajuda,
bem como a determinação do
governo de envolver o BB (Banco do Brasil) e a CEF (Caixa
Econômica Federal) no mesmo
esforço, mas ele acha que é preciso mais do que isso para dar
conta dos volumes de projetos
que estão em andamento.
Os R$ 161 bilhões previstos
para este ano, segundo ele, são
o novo patamar de investimentos também para os próximos
anos, o que exigirá o surgimento de novos financiadores, entre os quais os fundos de pensão e os bancos privados. Godoy explica que dois terços do
patrimônio dos fundos de pensão repousam sobre operações
de renda fixa. "É preciso que
parte desse capital venha financiar os projetos de energia e
logística, entre outros", defende o dirigente, membro do grupo de infraestrutura do CDES
(Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social).
Limites ao crédito
Na reunião do grupo na quinta-feira, o setor cobrou atitude
mais ativa dos bancos privados
na abertura de crédito para
operações direcionadas à infraestrutura. Godoy criticou,
por exemplo, o critério de uso
dos limites de crédito impostos
às companhias que participam
dos empreendimentos.
A Abdib afirma que os bancos
têm descontado do limite de
crédito da empresa os recursos
cedidos para esses projetos.
"Os recursos para financiar os
projetos têm garantias do próprio empreendimento. Essa é
uma maneira de ampliar a oferta de crédito", disse Godoy.
Presente na reunião do Conselho, Ronaldo Sardenberg,
economista-chefe da Febraban
(Federação Brasileira dos Bancos), disse que as instituições
financeiras têm critérios próprios e não há qualquer orientação geral sobre o assunto.
Para ele, a principal explicação para a dificuldade dos bancos privados de abrir linhas de
crédito para infraestrutura está
na falta de poupança de longo
prazo. Os depósitos em poupança ou CDBs, por exemplo,
requerem, em geral, liquidez
em meses, ao passo que os financiamentos de projetos de
longo prazo exigem alocação de
capital para retorno em longo
prazo -10, 15, 20 anos.
Uma saída apresentada por
ele seria o fortalecimento do
chamado mercado secundário
de títulos privados, algo incipiente no país. "Com ele, teríamos aumento da poupança de
longo prazo, o que ajudaria no
financiamento dos projetos."
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