São Paulo, domingo, 06 de setembro de 2009

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Plano de infraestrutura exige
mais R$ 60 bi

Novos projetos, que incluem os primeiros investimentos do pré-sal, vão requerer neste ano 50% a mais de crédito do que em 2008

Empresários reclamam da dificuldade de obter recursos em banco privado; Febraban afirma que não há poupança de longo prazo no Brasil

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil terá de ampliar em R$ 60 bilhões a oferta de crédito para bancar os investimentos em infraestrutura projetados para este ano.
Segundo a Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), a carteira de investimentos em infraestrutura previstos para o ano soma R$ 161 bilhões, o que inclui projetos nas áreas de petróleo e gás (já agregando os primeiros investimentos no petróleo do pré-sal), energia, transporte e logística, saneamento e telecomunicações.
O montante não inclui ainda projetos como o Trem-Bala ou a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Procurada, a Casa Civil não informou como pretende viabilizar ofertas de crédito para assegurar o financiamento da carteira de empreendimentos anunciados.
Mal ou bem, o país conseguiu cobrir a demanda de crédito de R$ 106 bilhões criada por empreendimentos contratados ao longo de 2008, mas a preocupação da Abdib é conseguir novas fontes, sem as quais muitos projetos não sairão do papel. Trata-se de uma demanda em expansão no país.
A Abdib calcula que, entre 2003 e 2004, a demanda de crédito para cobrir operações do mercado de infraestrutura somava R$ 56 bilhões. Subiu para R$ 75 bilhões ao ano entre 2005 e 2006 e alcançou os R$ 90 bilhões em 2007.
Paulo Godoy, presidente da associação, afirma que a capitalização do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ajuda, bem como a determinação do governo de envolver o BB (Banco do Brasil) e a CEF (Caixa Econômica Federal) no mesmo esforço, mas ele acha que é preciso mais do que isso para dar conta dos volumes de projetos que estão em andamento.
Os R$ 161 bilhões previstos para este ano, segundo ele, são o novo patamar de investimentos também para os próximos anos, o que exigirá o surgimento de novos financiadores, entre os quais os fundos de pensão e os bancos privados. Godoy explica que dois terços do patrimônio dos fundos de pensão repousam sobre operações de renda fixa. "É preciso que parte desse capital venha financiar os projetos de energia e logística, entre outros", defende o dirigente, membro do grupo de infraestrutura do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social).

Limites ao crédito
Na reunião do grupo na quinta-feira, o setor cobrou atitude mais ativa dos bancos privados na abertura de crédito para operações direcionadas à infraestrutura. Godoy criticou, por exemplo, o critério de uso dos limites de crédito impostos às companhias que participam dos empreendimentos.
A Abdib afirma que os bancos têm descontado do limite de crédito da empresa os recursos cedidos para esses projetos. "Os recursos para financiar os projetos têm garantias do próprio empreendimento. Essa é uma maneira de ampliar a oferta de crédito", disse Godoy.
Presente na reunião do Conselho, Ronaldo Sardenberg, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), disse que as instituições financeiras têm critérios próprios e não há qualquer orientação geral sobre o assunto.
Para ele, a principal explicação para a dificuldade dos bancos privados de abrir linhas de crédito para infraestrutura está na falta de poupança de longo prazo. Os depósitos em poupança ou CDBs, por exemplo, requerem, em geral, liquidez em meses, ao passo que os financiamentos de projetos de longo prazo exigem alocação de capital para retorno em longo prazo -10, 15, 20 anos.
Uma saída apresentada por ele seria o fortalecimento do chamado mercado secundário de títulos privados, algo incipiente no país. "Com ele, teríamos aumento da poupança de longo prazo, o que ajudaria no financiamento dos projetos."


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