São Paulo, domingo, 06 de setembro de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

Quanto vale o show do PIB?


Mesmo com alta de 2% no trimestre, PIB deve fechar 2009 em torno de zero, mas 2010 exige número "positivo"

NA PRÉVIA oficiosa divulgada pelo ministro Guido Mantega, a economia cresceu 1,9% no segundo trimestre (em relação ao primeiro). O resultado oficial do PIB sai na sexta-feira. Mantega já deve ter recebido uma estimativa quase final. No mercado, as previsões são até um tico melhores.
Crescer 2% num trimestre é uma raridade no Brasil recente, pós-real. Aconteceu apenas quatro vezes desde 1996. Mas, como não somos a China, tal resultado tem indicado que a economia está superaquecida, à beira de alguma inflação, ou que apenas cresce sobre o nada: se recupera de uma recessão, como agora.
Confirmado o 1,9% de Mantega, para que o PIB no final do ano tenha apenas estagnado ("crescimento zero" em relação a 2008) ainda será preciso que a economia cresça 1,5% no terceiro e no quarto trimestres.
E daí? Apesar da queda forte da atividade econômica, esta crise foi felizmente estranha -o sofrimento foi muito menor do que o de outras ocasiões em que o PIB caiu na mesma proporção. A vida de quase ninguém vai mudar se o PIB crescer algo como 1% em vez de 1,5% nos próximos trimestres. Mas há a política.
Lula fica perturbado com a ideia de o PIB fechar abaixo de zero em 2009, em "recessão". FHC, um indivíduo muito mais racional do que Lula, ainda presidente também ficava incomodado quando se dizia que tal ano de seu governo fora "recessivo". De pronto retrucava que em nenhum ano o PIB fechara abaixo de zero. Bobagem? É. Mas 2010 é ano de eleição. Espera-se que Lula não recorra ao "pau na máquina" a fim de evitar um "sinal de menos" diante do número do PIB de 2009. O presidente, porém, volta-se mais e mais para o futuro, 2010. Hoje, estará em cadeia nacional de rádio e TV fazendo propaganda do pré-sal.
Não se deve subestimar o capricho politiqueiro. Em dezembro do ano passado havia intensa polêmica politiqueira sobre o PIB de 2009.
Mantega falava em crescimento de 4% em 2009. Na verdade, o ministro dizia que essa era a sua "meta". "Se cruzássemos o braço, esse crescimento seria de 2%, 2,5%. Mas não vamos poupar esforços", dizia então. Foi espinafrado, pelo mercado ainda mais, embora já no caótico dezembro o mercado previsse 2,5% de alta para o PIB de 2009. Três meses depois, o banco Morgan Stanley previa queda de 4,5% para 2009. Enfim, era uma sucessão de disparates públicos e privados: política, mentiras, mentiras malditas e estatísticas.
Mantega soltou sua prévia oficiosa do PIB em Londres, na reunião dos ministros econômicos do G20.
Lá começa a discussão sobre "estratégias de saída" da política de estímulo estatal à economia. Na verdade, ninguém quer tirar o pé do acelerador fiscal e monetário e correr o risco de um novo mergulho na recessão, que nem acabou no mundo rico. Mantega disse em Londres que o Brasil nem deve aumentar nem diminuir o estímulo à economia.
Ok. Mas não é o que ocorre no Brasil. O Orçamento federal para 2010 é inflado. O governo gasta muito além do que seria preciso a fim de evitar contração excessiva da economia.
Um pibinho maior que zero vai prestar para muito discurso em que Lula espinafrará os "urubus" que previam "recessão neste país". Quanto vale o show? Ou quanto custará?

vinit@uol.com.br


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