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MERCADO
Economistas levantam dúvidas sobre novas quedas futuras na taxa; prêmios de risco menores ajudam na redução
Juro real cairá em 2004, mas com limite
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A melhora nas contas externas e
a política fiscal do governo deram
a partida para uma redução acentuada das taxas de juros reais
-acima da inflação- no país, de
acordo com economistas do governo. Mas eles afirmam que, em
2004, a economia ainda poderá
conviver com taxas em torno de
10% ao ano, um percentual limite
estabelecido pelo mercado.
Ou seja, embora autoridades do
governo tenham falado em taxas
reais de 8% ao ano em 2004, esse
percentual não estaria relacionado à taxa básica de juros (Selic).
Segundo o Ministério do Planejamento, a taxa de 8% se refere à
correção média da dívida pública,
um pouco menor que a Selic.
"Com o sucesso do controle inflacionário, as taxas de juros esperadas para os próximos meses são
menores, sinalizando a expectativa dominante de um processo de
queda ainda maior das taxas reais
de juros", afirma o secretário de
Política Econômica do Ministério
da Fazenda, Marcos Lisboa.
As taxas reais refletem o ganho
do investidor porque levam em
conta o impacto da inflação. Nos
últimos anos, essa taxa tem ficado
acima de 10% pela necessidade de
atrair capitais para o financiamento da dívida pública. Entre
1995 e 1999, as taxas de juros reais
médias chegaram a 25%.
Para o consumidor, a queda da
taxa de juros básica que vem
ocorrendo nos últimos meses é
importante porque está sendo
acompanhada de queda da taxa
real. Ao ganhar menos com a
compra de títulos públicos, a economia começa a se voltar para o
setor produtivo.
No mês passado, o ministro da
Casa Civil, José Dirceu, disse aos
bancos que era preciso uma queda mais expressiva das taxas praticadas nas agências. E, em tom de
alerta, afirmou que as taxas reais
cairão para 8% no ano que vem.
Para José Carlos Miranda, chefe
da Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento, o ministro apenas lembrou que a economia está se recuperando e que a
demanda por crédito deverá aumentar.
"Os bancos que cobrarem altas
taxas de juros perderão clientes
para os seus concorrentes e, dessa
forma, perderão em volume de
negócios e lucros", comentou.
Miranda explicou, porém, que a
taxa de 8% ao ano citada pelo ministro Dirceu -que está nas projeções do PPA (Plano Plurianual)
2004-2007- é dada por um cálculo diferente das utilizadas pelo
mercado financeiro para a apuração da taxa real.
O cálculo do PPA leva em conta
a taxa que corrige a dívida pública, um pouco menor que a Selic, e
o deflator do PIB. "Essa taxa de
8% é consistente com uma taxa
Selic real entre 9% e 10%". O PPA
projeta queda da taxa real até
atingir 4,1% ao ano em 2007.
Limite
Se há um limite para a queda das
taxas de juros reais, ele não está
comprovado, segundo os economistas do governo. Recentemente
o economista Pérsio Arida lançou
um debate sobre o tema, ressaltando a necessidade de buscar as
razões para taxas reais elevadas.
O diretor-adjunto do Departamento do Hemisfério Ocidental
do Fundo Monetário Internacional, Jorge Márquez-Ruarte, também chefe das missões negociadoras com o Brasil, criticou as altas taxas brasileiras há duas semanas e colocou em dúvida a sua redução futura.
Lisboa admite que, no passado,
quando o Banco Central fixou a
Selic em um nível próximo a 15%,
constatou-se uma tendência de
aumento da inflação. A inflação
esperada naquele momento era
de 5% a 7%.
Mas o economista diz que essa
constatação ocorreu em um momento de "relativa estabilidade da
economia". "Com a mudança
profunda no regime cambial em
1999, temos uma série de dados
bastante curta que não permite
identificar regularidades estatísticas mais confiáveis", disse Lisboa.
Para o secretário, a possibilidade de redução das taxas reais é dada pela política fiscal austera e pela consequente queda dos prêmios de risco (a redução das taxas
adicionais associadas à compra
de títulos brasileiros).
"No passado, a estrutura fiscal
apresentava desequilíbrios que se
refletiam em aumento da dívida
ou em aumento da carga tributária, gerando uma dinâmica fiscal
instável", explicou o secretário.
Essa dinâmica contaminava as
expectativas dos agentes econômicos. "Como consequência, tivemos prêmios de risco elevados
e baixas taxas de investimento."
Para Miranda, com a redução
da vulnerabilidade externa pela
melhora no saldo comercial do
país, é possível reduzir as taxas de
juros sem comprometer a estabilidade cambial.
"Nos últimos anos, a manutenção do câmbio estável dependeu
da atração de capitais externos.
Era necessário manter uma taxa
de juros elevada para defender a
moeda nacional."
Segundo o economista Roberto
Padovani, da consultoria Tendências, a taxa de juros real hoje está
em torno de 13%. "Acredito que
os juros reais de alguma forma
acompanhem os prêmios de risco." Padovani concorda que o limite de 10% está baseado em um
período muito curto de avaliação.
Mas afirma que o espaço para redução em 2004 é pequeno.
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