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LUÍS NASSIF
A história se repete
Os tempos são outros, o
país é diferente, mas, a
cada evento político, mais semelhante fica o momento histórico atual com a Velha República. A Nova República
surgiu em reação a um modelo
conservador-centralizador
que fazia água por todos os poros -como a Proclamação da
República em relação à Monarquia. Seguiu-se um governo egresso do regime anterior,
de composição, sem condições
de definir de imediato um novo pacto político, lançando o
país em uma crise -Deodoro
e Sarney. É sucedido por um
governante de perfil forte, autoritário, que se incompatibiliza politicamente com as forças
dominantes -Floriano e Collor.
Na seqüência, a crise financeira do Estado é debelada à
custa de forte arrocho fiscal,
que poupa os credores externos, mas contingencia todas as
verbas que deveriam voltar na
forma de serviços à população
-Campos Salles e Fernando
Henrique Cardoso. A legitimação desse modelo se dá por
meio de economistas formados
em universidades norte-americanas, com pouca identificação com o país e forte ligação
com grupos brasileiros internacionalizados, detentores do
capital rentista -os "financistas" do início do século, os economistas do Real, do final.
A grande força da economia
reside nesse capital rentista,
que migra do país em períodos
de turbulência e retorna sob a
capa de instituições estrangeiras -os financiamentos britânicos no início do século, os
fundos "offshore" no final do
século.
Essa arbitragem proporciona lucros fantásticos e emperra qualquer tentativa de estabilizar o câmbio, deixando a
economia à mercê de flutuações cambiais que, ciclicamente, jogam o país em crises que
obstruem o processo de desenvolvimento.
Por outro lado, lá como cá, o
mundo atravessa forte fase de
liquidez financeira e de inovações tecnológicas. A liquidez
fortalece a posição dos rentistas. As inovações tecnológicas,
a estagnação local e a comparação com a pujança de outros
países -com o Japão e a Argentina no início do século,
com a China e os asiáticos no
fim- criam um desconforto
interno crescente.
As novas idéias começam a
ganhar corpo, mas não conseguem penetrar na couraça dos
partidos existentes, presos ao
imediatismo da governabilidade. O que acaba predominando é o pacto de coronéis,
com o partido no poder fechando acordos com coronéis,
utilizando os recursos federais
para consolidar alianças regionais que garantam a perpetuidade do poder -Fernando
Henrique Cardoso e Lula.
Na primeira metade do século, a falta de visão de futuro do
sistema político resultou no
movimento tenentista e na intervenção do Exército -desde
a Guerra do Paraguai, a única
organização em que predominava o profissionalismo, a meritocracia e a visão estratégica
de país.
Os tempos são outros, e o governo Figueiredo conseguiu
desmoralizar o papel dos militares na condução política do
país -o que foi bom-, mas
também os valores desenvolvimentistas que abraçavam -o
que foi mau.
O grande enigma é sobre
quando e, principalmente, como será rompido esse nó górdio político do país.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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