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CONCORRÊNCIA
Conselho não volta atrás na decisão de barrar a compra da Garoto pela multinacional suíça, que vai recorrer
Cade rejeita oferta da Nestlé e mantém veto
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Oito meses após determinar que
a Nestlé venda a Chocolates Garoto, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) voltou
a vetar a fusão da multinacional
suíça com a empresa brasileira.
Em uma votação apertada -três
votos a dois-, o conselho não
aceitou a proposta de desinvestimento parcial oferecida pelas empresas para manter a operação.
A Nestlé afirmou que vai recorrer da decisão. Segundo o diretor
corporativo da multinacional,
Carlos Faccina, haverá uma análise jurídica para decidir se a empresa entrará com recurso no
próprio conselho ou na Justiça.
Entre as possibilidades em estudo está um pedido de nulidade do
julgamento por decurso de prazo.
Pela legislação, o Cade deveria julgar o caso em 60 dias -exceto os
dias de suspensão da contagem
por motivos específicos. O caso já
dura dois anos e sete meses.
Em fevereiro deste ano, ao analisar a fusão Nestlé-Garoto, o Cade entendeu que a fusão gera alta
concentração de mercado. No
segmento cobertura de chocolate
líquida, por exemplo, a participação chega a 100%. Na ocasião, o
conselho deu 150 dias para a venda da Garoto.
Mas a Nestlé entrou com recurso no conselho pedindo a reapreciação do caso. No pedido, a empresa propunha o desinvestimento de 20% do mercado das duas
empresas no caso de cobertura de
chocolate. Para o segmento de
chocolate sob todas as formas, a
venda parcial seria de 10% do
mercado conjunto.
No julgamento de ontem, o Cade avaliou que o plano de desinvestimento da Nestlé não garantirá competição no setor.
"A operação não demonstra
que não serão gerados problemas
à concorrência", declarou o conselheiro Roberto Pfeiffer em seu
voto. Pfeiffer presidiu o julgamento do caso porque a presidente do Cade, Elizabeth Farina, está
impedida. Antes de assumir o cargo, neste ano, ela foi contratada
pela Nestlé e emitiu um parecer
técnico favorável à fusão.
Outros dois votos foram contrários ao pedido da Nestlé. Um deles foi do ex-relator do caso, o ex-conselheiro Thompson Andrade.
O outro voto é do conselheiro
Luiz Fernando Rigato. "O plano
não instaura as condições mínimas de concorrência", declarou.
Para os conselheiros vencidos
-Luiz Alberto Scaloppe e Luiz
Carlos Prado-, o Cade deveria
aceitar o plano da multinacional,
pois isso significaria menor intervenção do Estado na economia.
Prado citou o princípio constitucional que trata da ordem econômica. "A concorrência é um
princípio, não pode ser um bem
em si", afirmou o conselheiro.
Já o conselheiro Scaloppe disse
que a venda parcial dos ativos assegura os interesses dos consumidores e dos trabalhadores da fábrica da Garoto em Vila Velha
(ES). Depois do julgamento, em
nota, a Cadbury reafirmou seu interesse em comprar a Garoto.
Na sessão de ontem, a disputa
política interna voltou a provocar
tumultos. O conselheiro Scaloppe, que perdeu a disputa para a vice-presidência do Cade, afirmou
que foi vítima de pressões internas da procuradora-geral do Cade, Maria Paula Dallari, e do conselheiro Ricardo Cueva.
"Repilo todas as insinuações
questionando a isenção da Procuradoria", defendeu-se Maria Paula. Cueva chegou a bater boca
com Scaloppe.
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