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TRABALHO
Para presidente do tribunal, que tentou mediar acordo, negociação conjunta de bancos públicos e privados emperra discussões
Greve não deverá se prolongar, avalia TST
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Vantuil Abdala, 61,
presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho), avalia que a
greve dos bancários não deverá se
prolongar. Para ele, a paralisação
já está em "processo decrescente"
e os bancos deverão oferecer uma
"saída honrosa" que possa ser
aceita para a categoria. Depois,
Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, estatais, negociariam à
parte com seus funcionários.
Segundo ele, só não houve acordo até o momento porque, pela
primeira vez, os trabalhadores de
bancos públicos e privados resolveram negociar juntos. Isso teria
causado uma divisão na base sindical, inviabilizando novas propostas por parte dos bancos.
Abdala diz não acreditar que
haverá pedido de dissídio coletivo
(quando a Justiça arbitra a greve)
porque a tradição de bancários e
bancos é de negociar. Além disso,
não estaria havendo grandes prejuízos à população que justificassem a intervenção do Ministério
Público do Trabalho.
Folha - Os bancários geralmente
não levam negociações para dissídio. Agora há um impasse. O sr.
avalia que ainda há solução negociada ou terá que haver dissídio?
Vantuil Abdala - Do lado dos trabalhadores ligados à CUT [Central Única dos Trabalhadores] há
uma tradição de não solicitar intervenção da Justiça do Trabalho.
Do lado dos empregadores, têm
tradição de muitos anos de não se
socorrerem da Justiça. Existe a
possibilidade de ajuizamento de
dissídio coletivo pelo Ministério
Público do Trabalho, mas só na
hipótese de a greve estar causando prejuízos muito grandes à sociedade. A greve, nem no seu momento de pico, causou prejuízo
intenso para a sociedade.
Folha - Qual seria a solução?
Abdala - Há que se buscar uma
solução negociada. Há uma minoria mais radical que está sustentando a greve, por divergência
interna no próprio sindicato, e os
empregadores não cedendo em
nada, mas isso não vai poder se
alongar por muito mais tempo.
Vai chegar o momento em que
ambas as partes vão ter que ceder.
Folha - Está havendo então radicalização?
Abdala - O que argumentam os
empregadores é que houve um
processo de negociação longo, de
cerca de três meses, em que finalmente eles concordaram com a
proposta final feita pelos empregados. Mas, quando os líderes sindicais levaram a proposta para a
assembléia, para surpresa deles
não foi aprovada, sob o argumento que era uma proposta governamental, isso principalmente vindo dos servidores dos bancos públicos, que vêm com uma defasagem salarial maior. Daí um certo
descontentamento maior do pessoal do Banco do Brasil e da Caixa, levado por uma ala do sindicato que já era contrária politicamente às lideranças que estão
ocupando a direção do sindicato.
Folha - Então, se a Caixa e o Banco
do Brasil estivessem negociando
em separado, a greve já teria acabado no resto dos bancos?
Abdala - Sim, sem dúvida. Se a
negociação fosse em separado, seria possivelmente uma negociação mais fácil.
Folha - O governo então, já que é
o dono da Caixa e do Banco do Brasil, não deveria ter uma postura
mais ativa para que esses bancos
façam uma proposta em separado?
Abdala - Como se firmou um
compromisso de que a negociação fosse única, acho muito difícil
que isso pudesse acontecer a essa
altura. O que eu creio que vai acabar acontecendo é uma negociação global e depois, em particular,
de acordo com as suas especificidades, o Banco do Brasil conceda
mais alguma vantagem aos seus
trabalhadores, e a Caixa, por sua
vez, conceda outras vantagens.
Folha - Os bancos também não estavam radicais nesse processo?
Abdala - O que aconteceu é que
eles negociaram as bases de um
acordo durante três meses, chegaram a um ponto comum, acertaram. Para surpresa de todos, não
houve a aprovação da assembléia.
Do lado dos banqueiros, eles avaliaram que ficaram sem condições de abrir outra proposta, porque qualquer outra poderia não
ser aprovada em assembléia e virar novo piso para negociação.
Folha - Os bancários têm frisado
sempre que os bancos têm tido
grandes lucros nos últimos anos.
Isso deve ser levado em conta no
processo de negociação salarial?
Abdala - Em todas as categorias
que se verifique que as empresas
estão tendo um rendimento
maior, os trabalhadores querem
recuperar uma parte daquilo que
vieram perdendo nos anos de recessão econômica. Do lado do
empregador [bancos], ele argumenta que está em sua proposta.
Folha - O sr. disse que a greve não
causou grandes transtornos. Isso
pode se reverter contra a categoria, parada há mais de 20 dias?
Abdala - Segundo notícia que temos, menos de 10% das agências
estão sem atividade. Então é muito difícil que uma greve se sustente dessa forma. Essa grave não
tem condição de se sustentar por
muitos dias a mais. Creio que dificilmente vão retornar pura e simplesmente, sem que haja um aceno de boa vontade.
Folha - Uma proposta intermediária?
Abdala - Sim, até para uma saída
honrosa para o impasse. Que pode ser até, além do não-desconto
dos dias parados, uma reformatação da proposta já feita, antecipando algum pagamento, dando
alguma vantagem imediata.
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