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Leroy Merlin adapta seus serviços para cada público
Nova loja da rede, em área popular, terá cursos de pedreiro e encanador
Em outras regiões, loja faz atendimento a arquitetos que atendem classe A; informalidade do setor é maior desafio do grupo
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
O curso de faça-você-mesmo
da loja da Leroy Merlin em
Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro, que deve ser inaugurada
no fim do mês, ganhou cara de
Brasil. Em vez das orientações
para classe média, tão comuns
na rede varejista na Europa, os
clientes aprenderão a erguer
paredes, colocar encanamento
e assentar azulejos e pisos.
"Nós nos adaptamos à realidade brasileira", afirma Alain
Ryckeboer, diretor-geral da Leroy Merlin no Brasil.
Isso significa que, quando
instalada numa região de menor poder aquisitivo, como no
caso da 15ª loja da rede no Brasil, além de a maioria dos produtos serem de linhas mais baratas e de os financiamentos de
longo prazo, os cursos também
são direcionados para esse
cliente. No caso, o chamado
consumidor formiga, aquele
que ergue a casa com as próprias mãos e aos poucos.
"Enquanto na Europa 80%
das pessoas fazem suas próprias reformas por causa do
custo da mão-de-obra e também por lazer e prazer, no Brasil a distorção de classes sociais
nos obrigou a mudar o modelo
de negócios", diz Ryckeboer.
Assim, além de ter em algumas lojas o mix para classe C, a
empresa também tem trabalhado em carteiras de fidelidade para arquitetos e decoradores que prestam serviços à classe A. E em linhas específicas de
atendimento para a classe média, que compra nas lojas, mas
não tem idéia de como por a
mão na massa. "A não ser em
cursos de decoração ou de texturização, por exemplo", diz
Ryckeboer.
Outra iniciativa é um cartão
de financiamento específico
para pequenas empresas. Com
ele, condomínios, pequenas
empreiteiras e escritórios podem fazer compras sem necessidade de aprovar crédito e outras burocracias.
"As empresas varejistas estrangeiras apanham bastante
quando entram em outros países", diz José Lupoli Junior,
professor e consultor do Provar
(Programa de Administração
do Varejo), da USP. "A curva de
aprendizagem é muito mais
longa do que para a indústria,
por exemplo, já que toda venda
diz respeito a hábitos culturais
e envolve imagem, marca, ambiente e atmosfera únicos em
cada país."
Segundo o professor, ao abrir
o leque e voltar-se também para a classe C, a Leroy Merlin pode correr o risco de perder os
clientes de maior poder aquisitivo. "A solução tradicional seria fazer uma bandeira mais popular", diz ele. "Porém dar treinamento é extremamente positivo porque o consumidor percebe como diferencial."
Informalidade
A maior preocupação de
Ryckeboer, entretanto, não diz
respeito à popularização da
marca, mas sim à informalidade do setor. Somadas, Leroy
Merlin, C&C e Telhanorte não
atingem 8% da receita da área.
"Não é fácil ganhar dinheiro no
Brasil", diz Ryckeboer. "A informalidade e a carga fiscal são
altíssimas."
Mesmo assim, a empresa,
que faturou R$ 855 milhões no
Brasil em 2006, crescerá acima
de dois dígitos neste ano. O setor espera aumentar as vendas
em 8%. "Neste ano, o varejo de
material de construção voltou a
ter crescimento significativo",
afirma Eugênio Foganholo, sócio da Mixxer, consultoria especializada em varejo. "Com a
melhoria no poder aquisitivo,
depois do carro chegou o momento de o consumidor de
classes B e C construir."
Para acompanhar o movimento, a Leroy tem inaugurado
duas lojas em média no país,
por ano, e não hesitará em fazer
uma aquisição, quando encontrar oportunidade. "O problema é que as oportunidades de
crescimento por aquisição são
restritas", diz Ryckeboer.
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