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ARTIGO
Déficit menor nos EUA pode remodelar negócios globais
Exportações americanas estão crescendo a um ritmo quase três vezes superior ao das importações, o que levou o déficit comercial a cair de 7% para 5% do PIB
JIM O'NEILL
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"
EM MEIO a tanta preocupação com a crise das
hipotecas "subprime",
seu contágio para o dinheiro
grande e os mercados de crédito e o temor de uma recessão total nos Estados Unidos,
os sinais de uma grande melhora na balança exterior estão recebendo muito pouca
atenção. O déficit comercial
dos Estados Unidos poderia
estar desaparecendo?
Os últimos dados mensais
mostraram que o déficit comercial dos Estados Unidos
estava em cerca de US$ 59 bilhões. Em uma base anualizada, isso é pouco mais de 5% do
PIB, uma melhora em relação
aos 7% de pouco tempo atrás.
Nos detalhes também há alguns sinais marcantes.
O crescimento das exportações está perto de 14,8% ano a
ano, enquanto o crescimento
das importações está em
"apenas" 5,1%. As exportações estão aumentando em
um ritmo que é quase o triplo
das importações. Isso é quase
inédito para os EUA - exceto
quando o país se livrou brevemente de seus déficits externos no final dos anos 1980. O
antigo adágio de que as importações americanas são o
dobro das exportações não é
mais válido. Na verdade, as
exportações estão perto de
70% das importações.
No atual ritmo de crescimento relativo das exportações e importações, em mais
12 meses o déficit poderá cair
abaixo de 4% do PIB. Talvez
esteja na hora de perguntar o
inimaginável: "O que acontecerá se ele desaparecer de novo?"
Se isso acontecesse, levantaria diversos problemas para
a economia mundial, entre
eles sua dependência do consumidor americano, a excessiva confiança nas exportações para os EUA, o futuro desempenho do dólar e as relativas oportunidades econômicas e de investimento no
mundo.
Com relação ao consumidor americano, muitas pessoas temem há anos que em
70% do PIB só haveria um rumo para as grandes tendências de consumo no país.
Para a balança comercial
seria uma boa notícia. Se as
conseqüências dos problemas imobiliários nos EUA se
disseminarem, como parece
provável, é altamente provável que o crescimento das importações desacelere ainda
mais. Se o crescimento das
importações chegasse a zero,
e se o crescimento das exportações ficasse perto de 15%, o
déficit comercial chegaria
perto de 3% do PIB dentro de
um ano.
Para muitos analistas, a
barreira de 3% seria um importante limite para a balança
de pagamentos mais ampla e
até para o dólar. Parece estranho, depois de um significativo corte de juros nos EUA, escrever sobre um futuro mais
brilhante para as verdinhas.
Mas com o dólar acima de
US$ 2 em relação à libra e cerca de US$ 1,40 por euro, a
perspectiva de o déficit comercial americano voltar a
cair abaixo de 3% do PIB sugere que isso não deve ser
descartado. Um mundo em
que a balança externa dos
EUA estivesse abaixo de 3%
do PIB não seria tão interessante para um urso dólar, me
parece.
Os ursos econômicos do
mundo dizem que os EUA representam um terço do PIB
global, e como o consumidor
está finalmente morrendo o
fim do mundo está próximo.
Não é mais o caso. É por isso
que as exportações americanas estão crescendo tão perto
dos 15%. O mundo está mudando. As vendas no varejo na
China aumentaram 17,1% em
julho, mais de cinco vezes a
taxa de crescimento dos EUA.
Enquanto a China é "apenas"
6 a 7% do PIB mundial, as
vendas no varejo chinesas já
contribuem com o mundo
tanto quanto as dos EUA. Os
outros países "Bric" - Brasil,
Rússia e Índia - também estão experimentando um crescimento de dois dígitos nas
vendas no varejo.
Enquanto os exportadores
para os EUA sem dúvida terão um futuro menos agradável que o passado, os países e
as companhias realmente
bons em exportações já sabem disso há algum tempo.
Os Brics representam hoje de
15 a 16% do PIB global, cerca
de metade da parcela dos
EUA. O aumento dos gastos
de seus consumidores é de
mais de 10% coletivamente,
mais que o dobro do dos EUA.
Eles já estão mudando de
marcha. Sejam japoneses, coreanos, alemães ou até as próprias multinacionais baseadas nos EUA, o setor de consumo está mudando rapidamente. Os investidores precisam acompanhar, porque as
empresas já estão.
Enfrentamos um futuro
econômico excitante, embora
desafiador, que vai ajudar os
EUA assim como o resto de
nós. O mundo não acabou,
nem vai acabar.
O déficit comercial dos
EUA poderá não desaparecer
completamente, mas um grave risco que paira sobre o
mundo está melhorando de
maneira drástica e agradável.
JIM O'NEILL é diretor de pesquisa econômica
global no Goldman Sachs.
Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES
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