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Disparada de ações cria "gigantes" na Índia
Alta na Bolsa e valorização da moeda local fazem empresas do país ficarem mais valiosas do que grandes grupos ocidentais
Crescimento pode gerar uma onda de parcerias com estrangeiros, compra de marcas internacionais e concorrência por recursos
HEATHER TIMMONS
DO "NEW YORK TIMES", EM NOVA DELHI
A disparada nas Bolsas de Valores mundiais e no valor da rúpia está criando novas gigantes
do mercado de ações na Índia.
Essas novas líderes rapidamente superaram alguns concorrentes ocidentais estabelecidos há muito tempo, em termos de capitalização de mercado. O crescimento acelerado
pode resultar em nova temporada de parcerias com grupos
internacionais, tomadas de
controle acionário de empresas
estrangeiras e concorrência
por recursos e talentos.
Alimentados em parte por
investidores internacionais à
procura de refúgio contra a bagunça no mercado norte-americano de crédito imobiliário de
risco, os preços das ações nos
mercados indianos superaram
os das demais Bolsas asiáticas
nas últimas semanas. O índice
Sensex, da Bolsa de Valores de
Mumbai, bateu recordes em 10
de seus 11 últimos pregões.
O Sensex registra uma alta de
mais de 14% desde o dia 17 de
setembro. O índice teve 28% de
alta até agora no ano, de acordo
com a Bloomberg Data, e acumula 102% de avanço nos últimos 24 meses.
"Repentinamente, a Índia
tem essas empresas oferecendo
desempenho de classe mundial, com capitalização de mercado séria, em diversos setores
econômicos", disse L. Brook
Entwistle, presidente-executivo do Goldman Sachs na Índia.
As ambições mundiais das empresas indianas "continuam a
crescer", segundo ele.
O grupo imobiliário DLF, por
exemplo, que abriu seu capital
com uma oferta pública inicial
de ações no valor de US$ 2,3 bilhões, em julho, agora tem capitalização de mercado superior
a US$ 37 bilhões, o que faz com
que seu valor se assemelhe ao
da soma das capitalizações de
mercado dos grupos Hilton e
Marriott International. Na
quinta-feira, a empresa anunciou que estava estudando a
possibilidade de aquisições internacionais e de levantar fundos no exterior e informou que
decidiria sobre isso na próxima
reunião de seu conselho.
A Reliance Industries, a
maior empresa de capital aberto da Índia, atingiu capitalização de mercado superior a US$
85 bilhões na semana passada,
ante US$ 6,5 bilhões em janeiro
de 2003. A Reliance, uma empresa que atua nos setores petroleiro, químico e industrial,
tem agora valor cerca de duas
vezes superior ao da Dow Chemical. A capitalização de mercado da Bharti Airtel, uma gigante do setor de telecomunicações, atingiu quase US$ 46
bilhões nesta semana, o que
confere a ela valor quase três
vezes superior ao da Qwest e
maior que o da Telecom Italia.
A rúpia forte e o dólar forte
também estão ajudando as empresas indianas a parecer mais
robustas, na comparação com
concorrentes estrangeiras, mas
seu porte continua a depender
predominantemente da confiança dos investidores quanto
ao potencial de crescimento da
Índia em longo prazo.
Transações
Um grande aumento na capitalização de mercado não quer
dizer necessariamente que as
empresas do país sairão às
compras. Muitas das companhias indianas têm suas ações
negociadas apenas em Bolsas
locais, o que significa que elas
não podem ser usadas em transações de aquisição de grupos
estrangeiros. Mesmo que essas
empresas planejem levantar
dinheiro no exterior, poucas
têm em mente aquisições grandiosas, dizem os banqueiros.
As empresas indianas estão
investindo primeiro no país,
antes de procurar o exterior,
disse Chanda Kochhar, diretor-executivo assistente do Icici
Bank. "O setor corporativo indiano fala em investir US$ 500
bilhões em projetos no país nos
próximos três anos."
Também há planos de aquisições mas não necessariamente
com o objetivo de ampliar bases de clientes, como seria o caso em economias mais desenvolvidas, disse Kochhar. Em lugar disso, as empresas estão interessadas em adquirir fornecedores -por exemplo, uma
empresa de energia adquiriria
minas de carvão- ou redes de
distribuição. Há dezenas de
transações desse tipo sendo negociadas, segundo ele.
Uma grande capitalização de
mercado também faz das empresas indianas concorrentes
ainda mais fortes por toda espécie de item -de matérias-primas a talentos, passando por
parceiros e clientes. Os números altos atraem a cobertura de
analistas dos bancos e corretoras internacionais, e isso por
sua vez ajuda a atrair ainda
mais investidores estrangeiros.
De fato, uma capitalização de
mercado crescente pode ocasionalmente tornar mais fácil o
crescimento ainda maior das
empresas. As companhias indianas que tentaram levantar
pequenos montantes em capital -por volta de US$ 10 milhões- no mercado externo foram ignoradas pelos grandes
investidores institucionais estrangeiros, disse Shriram Iyer,
diretor de pesquisa da Edelweiss Securities em Mumbai.
Agora que elas cresceram e estão interessadas em levantar
entre US$ 50 milhões e US$
100 milhões, "o investimento
se torna significativo".
Até agora, neste ano, empresas indianas emitiram US$ 42,6
bilhões em títulos de dívida e
ações em todo o mundo, de
acordo com a Thomson Financial, ante US$ 32 bilhões no ano
passado. Em 2003, o valor foi
de US$ 5,8 bilhões.
As empresas chinesas também registraram saltos em seu
valor de mercado, dadas as
grandes compras de ações por
investidores. Mas esse crescimento não se traduziu num
boom de transações, disseram
executivos bancários, devido à
oposição estrangeira a tomadas
de controle acionário conduzidas por estatais chinesas.
Novos negócios
As companhias indianas podem aproveitar de diversas maneiras a alta nos preços de suas
ações, por meio de aquisições
pagas integralmente em ações
para tomar o controle de empresas mais baratas, de venda
de ativos para levantar capital
ou de recrutamento de funcionários por meio da oferta de
ações como parte da remuneração, disse Nilesh Jasani, estrategista do Credit Suisse para o
mercado indiano.
As empresas indianas seriam
inteligentes, caso começassem
a transformar o alto valor de
suas ações negociadas publicamente em outras formas de
caução. Há constante preocupação quanto à possibilidade de
que o mercado indiano esteja
sendo superestimado, até mesmo de parte do governo da Índia. O ministro das Finanças, P.
Chidambaram, alertou nesta
semana que investidores de varejo deveriam estudar com cautela sua entrada no mercado,
fazendo suas lições de casa, ou
optar, em lugar, disso por adquirir cotas em fundos mútuos.
"As empresas indianas e suas
ambições mundiais não estão
imunes ao que está acontecendo nos mercados de crédito, em
termos mundiais", disse Entwistle. Elas muitas vezes dependem de financiamento externo para conduzir suas transações, afirma. E isso precisa
ser levado em conta antes que
sejam previstas quaisquer
aquisições de grande porte.
Ainda assim, o clima na Índia
é otimista. "Não existem muitas aquisições de grande porte
que se possa fazer na Índia,
porque ninguém quer vender",
disse Iyer. Em lugar disso, "todo mundo deseja crescer".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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