São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2007

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Disparada de ações cria "gigantes" na Índia

Alta na Bolsa e valorização da moeda local fazem empresas do país ficarem mais valiosas do que grandes grupos ocidentais

Crescimento pode gerar uma onda de parcerias com estrangeiros, compra de marcas internacionais e concorrência por recursos

HEATHER TIMMONS
DO "NEW YORK TIMES", EM NOVA DELHI

A disparada nas Bolsas de Valores mundiais e no valor da rúpia está criando novas gigantes do mercado de ações na Índia.
Essas novas líderes rapidamente superaram alguns concorrentes ocidentais estabelecidos há muito tempo, em termos de capitalização de mercado. O crescimento acelerado pode resultar em nova temporada de parcerias com grupos internacionais, tomadas de controle acionário de empresas estrangeiras e concorrência por recursos e talentos.
Alimentados em parte por investidores internacionais à procura de refúgio contra a bagunça no mercado norte-americano de crédito imobiliário de risco, os preços das ações nos mercados indianos superaram os das demais Bolsas asiáticas nas últimas semanas. O índice Sensex, da Bolsa de Valores de Mumbai, bateu recordes em 10 de seus 11 últimos pregões.
O Sensex registra uma alta de mais de 14% desde o dia 17 de setembro. O índice teve 28% de alta até agora no ano, de acordo com a Bloomberg Data, e acumula 102% de avanço nos últimos 24 meses.
"Repentinamente, a Índia tem essas empresas oferecendo desempenho de classe mundial, com capitalização de mercado séria, em diversos setores econômicos", disse L. Brook Entwistle, presidente-executivo do Goldman Sachs na Índia.
As ambições mundiais das empresas indianas "continuam a crescer", segundo ele.
O grupo imobiliário DLF, por exemplo, que abriu seu capital com uma oferta pública inicial de ações no valor de US$ 2,3 bilhões, em julho, agora tem capitalização de mercado superior a US$ 37 bilhões, o que faz com que seu valor se assemelhe ao da soma das capitalizações de mercado dos grupos Hilton e Marriott International. Na quinta-feira, a empresa anunciou que estava estudando a possibilidade de aquisições internacionais e de levantar fundos no exterior e informou que decidiria sobre isso na próxima reunião de seu conselho.
A Reliance Industries, a maior empresa de capital aberto da Índia, atingiu capitalização de mercado superior a US$ 85 bilhões na semana passada, ante US$ 6,5 bilhões em janeiro de 2003. A Reliance, uma empresa que atua nos setores petroleiro, químico e industrial, tem agora valor cerca de duas vezes superior ao da Dow Chemical. A capitalização de mercado da Bharti Airtel, uma gigante do setor de telecomunicações, atingiu quase US$ 46 bilhões nesta semana, o que confere a ela valor quase três vezes superior ao da Qwest e maior que o da Telecom Italia.
A rúpia forte e o dólar forte também estão ajudando as empresas indianas a parecer mais robustas, na comparação com concorrentes estrangeiras, mas seu porte continua a depender predominantemente da confiança dos investidores quanto ao potencial de crescimento da Índia em longo prazo.

Transações
Um grande aumento na capitalização de mercado não quer dizer necessariamente que as empresas do país sairão às compras. Muitas das companhias indianas têm suas ações negociadas apenas em Bolsas locais, o que significa que elas não podem ser usadas em transações de aquisição de grupos estrangeiros. Mesmo que essas empresas planejem levantar dinheiro no exterior, poucas têm em mente aquisições grandiosas, dizem os banqueiros.
As empresas indianas estão investindo primeiro no país, antes de procurar o exterior, disse Chanda Kochhar, diretor-executivo assistente do Icici Bank. "O setor corporativo indiano fala em investir US$ 500 bilhões em projetos no país nos próximos três anos."
Também há planos de aquisições mas não necessariamente com o objetivo de ampliar bases de clientes, como seria o caso em economias mais desenvolvidas, disse Kochhar. Em lugar disso, as empresas estão interessadas em adquirir fornecedores -por exemplo, uma empresa de energia adquiriria minas de carvão- ou redes de distribuição. Há dezenas de transações desse tipo sendo negociadas, segundo ele.
Uma grande capitalização de mercado também faz das empresas indianas concorrentes ainda mais fortes por toda espécie de item -de matérias-primas a talentos, passando por parceiros e clientes. Os números altos atraem a cobertura de analistas dos bancos e corretoras internacionais, e isso por sua vez ajuda a atrair ainda mais investidores estrangeiros.
De fato, uma capitalização de mercado crescente pode ocasionalmente tornar mais fácil o crescimento ainda maior das empresas. As companhias indianas que tentaram levantar pequenos montantes em capital -por volta de US$ 10 milhões- no mercado externo foram ignoradas pelos grandes investidores institucionais estrangeiros, disse Shriram Iyer, diretor de pesquisa da Edelweiss Securities em Mumbai.
Agora que elas cresceram e estão interessadas em levantar entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões, "o investimento se torna significativo".
Até agora, neste ano, empresas indianas emitiram US$ 42,6 bilhões em títulos de dívida e ações em todo o mundo, de acordo com a Thomson Financial, ante US$ 32 bilhões no ano passado. Em 2003, o valor foi de US$ 5,8 bilhões.
As empresas chinesas também registraram saltos em seu valor de mercado, dadas as grandes compras de ações por investidores. Mas esse crescimento não se traduziu num boom de transações, disseram executivos bancários, devido à oposição estrangeira a tomadas de controle acionário conduzidas por estatais chinesas.

Novos negócios
As companhias indianas podem aproveitar de diversas maneiras a alta nos preços de suas ações, por meio de aquisições pagas integralmente em ações para tomar o controle de empresas mais baratas, de venda de ativos para levantar capital ou de recrutamento de funcionários por meio da oferta de ações como parte da remuneração, disse Nilesh Jasani, estrategista do Credit Suisse para o mercado indiano.
As empresas indianas seriam inteligentes, caso começassem a transformar o alto valor de suas ações negociadas publicamente em outras formas de caução. Há constante preocupação quanto à possibilidade de que o mercado indiano esteja sendo superestimado, até mesmo de parte do governo da Índia. O ministro das Finanças, P. Chidambaram, alertou nesta semana que investidores de varejo deveriam estudar com cautela sua entrada no mercado, fazendo suas lições de casa, ou optar, em lugar, disso por adquirir cotas em fundos mútuos.
"As empresas indianas e suas ambições mundiais não estão imunes ao que está acontecendo nos mercados de crédito, em termos mundiais", disse Entwistle. Elas muitas vezes dependem de financiamento externo para conduzir suas transações, afirma. E isso precisa ser levado em conta antes que sejam previstas quaisquer aquisições de grande porte.
Ainda assim, o clima na Índia é otimista. "Não existem muitas aquisições de grande porte que se possa fazer na Índia, porque ninguém quer vender", disse Iyer. Em lugar disso, "todo mundo deseja crescer".


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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