São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2005

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POLÍTICA MONETÁRIA

Redução da vulnerabilidade compensa desvantagens nas compras de dólares pelo BC, afirmam especialistas

Apesar do custo, analistas defendem reservas

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Acumular reservas internacionais custa caro no Brasil, mas o país ainda precisa de um volume maior de dólares em caixa se quiser se prevenir contra crises no mercado internacional. Apesar de as contas externas terem melhorado, o país ainda é vulnerável a reviravoltas na economia mundial, dizem economistas.
A controvérsia a respeito do custo da política do Banco Central de comprar dólares para recompor as reservas foi apimentada há algumas semanas, quando o economista José Alexandre Scheinkman, em artigo publicado nesta Folha, escreveu que as reservas brasileiras "parecem mais do que adequadas". Ele ainda lembrou que cada dólar das reservas custa, anualmente, US$ 0,12 ao país.
A maioria dos analistas concorda com Scheinkman quanto ao alto custo de manter as reservas brasileiras. As taxas de juros internas são altas. As reservas rendem pouco. Apenas por essa disparidade o país já incorre em um custo de oportunidade de manter dólares aplicados a taxas baixas.
Esse, claro, não é o único custo. Para comprar dólar, o BC tem duas opções: ou aumenta a base monetária, emitindo reais, ou vende títulos públicos para adquirir reais e trocá-los por dólares. Em tese, um país com câmbio flutuante, como o Brasil, não precisa ter reservas. Afinal, não é necessário defender o câmbio de fluxos e refluxos de dinheiro externo. Mas a teoria econômica, ainda assim, recomenda alguma acumulação de reservas a fim de:
1) preparar o país para enfrentar momentos de crise no mercado de crédito internacional;
2) diminuir o custo dos financiamentos, já que um nível adequado de reservas reduz a desconfiança dos investidores internacionais a respeito da capacidade de pagamento do país;
3) reduzir a volatilidade das taxas de câmbio.
Os economistas tentam medir o "nível ótimo de reservas", o que é muito difícil. Afinal, lembram analistas, só é possível saber o nível adequado quando se enfrenta a crise e, dado o tamanho do problema, as reservas provam ser suficientes. "A resposta chega a ser até muito pessoal. Mas nós, por exemplo, olhamos com atenção para o risco de crédito de um país e, desse ponto de vista, quanto mais reservas, melhor. O risco de calote é menor", resume Mauro Leos, vice-presidente da Moody's.
Leos lembra que a relação entre as reservas brasileiras e a dívida de curto prazo somada com a exigência de pagamento de principal de dívidas em um ano é igual a um. Ou seja, hoje, as reservas cobririam um ano de pagamentos. É um indicador bom, diz ele, mas está longe do de países emergentes como Rússia e China.
Afirma, no entanto, que é difícil dizer qual é o "nível ótimo" de reservas. "Para China, sabemos que é mais do que suficiente. Mas é relativamente fácil dizer quando é muito claro." O nível de reservas atuais não "preocupa" os analistas, argumenta Leos.
"É verdade que, no caso brasileiro, as taxas de juros internas são altas e, por isso, o custo de acumular reservas também é. Mas é aquela velha história do seguro. Se você paga um seguro de carro durante 15 anos e nada acontece, você pode achar que perdeu dinheiro. Se seu carro é roubado no terceiro mês, você fica feliz", diz Rafael Guedes, diretor-executivo da Fitch Ratings.
Guedes lembra que hoje a situação brasileira é muito mais confortável do que na época do câmbio fixo, quando o país chegou até a ter mais reservas. Afinal, o BC não precisa defender o valor da moeda. Mas, diz Guedes, falar em otimizar a relação "custo/benefício" de acumular reservas é uma visão muito estreita. O custo, diz ele, é perda de crescimento, por conta de falta de investimento e dificuldade de acesso aos mercados de crédito. "É fácil computar o custo, mas muito difícil calcular os benefícios do nível de reservas", diz David Beker, da Merrill Lynch. O Brasil, diz ele, apesar dos avanços dos últimos anos, continua sendo um país emergente e, portanto, vulnerável às condições de liquidez global. "Não tem cálculo mágico", diz o analista.

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