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POLÍTICA MONETÁRIA
Redução da vulnerabilidade compensa desvantagens nas compras de dólares pelo BC, afirmam especialistas
Apesar do custo, analistas defendem reservas
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Acumular reservas internacionais custa caro no Brasil, mas o
país ainda precisa de um volume
maior de dólares em caixa se quiser se prevenir contra crises no
mercado internacional. Apesar de
as contas externas terem melhorado, o país ainda é vulnerável a
reviravoltas na economia mundial, dizem economistas.
A controvérsia a respeito do
custo da política do Banco Central
de comprar dólares para recompor as reservas foi apimentada há
algumas semanas, quando o economista José Alexandre Scheinkman, em artigo publicado nesta
Folha, escreveu que as reservas
brasileiras "parecem mais do que
adequadas". Ele ainda lembrou
que cada dólar das reservas custa,
anualmente, US$ 0,12 ao país.
A maioria dos analistas concorda com Scheinkman quanto ao alto custo de manter as reservas
brasileiras. As taxas de juros internas são altas. As reservas rendem
pouco. Apenas por essa disparidade o país já incorre em um custo de oportunidade de manter dólares aplicados a taxas baixas.
Esse, claro, não é o único custo.
Para comprar dólar, o BC tem
duas opções: ou aumenta a base
monetária, emitindo reais, ou
vende títulos públicos para adquirir reais e trocá-los por dólares.
Em tese, um país com câmbio flutuante, como o Brasil, não precisa
ter reservas. Afinal, não é necessário defender o câmbio de fluxos e
refluxos de dinheiro externo. Mas
a teoria econômica, ainda assim,
recomenda alguma acumulação
de reservas a fim de:
1) preparar o país para enfrentar
momentos de crise no mercado
de crédito internacional;
2) diminuir o custo dos financiamentos, já que um nível adequado de reservas reduz a desconfiança dos investidores internacionais a respeito da capacidade de pagamento do país;
3) reduzir a volatilidade das taxas de câmbio.
Os economistas tentam medir o
"nível ótimo de reservas", o que é
muito difícil. Afinal, lembram
analistas, só é possível saber o nível adequado quando se enfrenta
a crise e, dado o tamanho do problema, as reservas provam ser suficientes. "A resposta chega a ser
até muito pessoal. Mas nós, por
exemplo, olhamos com atenção
para o risco de crédito de um país
e, desse ponto de vista, quanto
mais reservas, melhor. O risco de
calote é menor", resume Mauro
Leos, vice-presidente da Moody's.
Leos lembra que a relação entre
as reservas brasileiras e a dívida
de curto prazo somada com a exigência de pagamento de principal
de dívidas em um ano é igual a
um. Ou seja, hoje, as reservas cobririam um ano de pagamentos. É
um indicador bom, diz ele, mas
está longe do de países emergentes como Rússia e China.
Afirma, no entanto, que é difícil
dizer qual é o "nível ótimo" de reservas. "Para China, sabemos que
é mais do que suficiente. Mas é relativamente fácil dizer quando é
muito claro." O nível de reservas
atuais não "preocupa" os analistas, argumenta Leos.
"É verdade que, no caso brasileiro, as taxas de juros internas
são altas e, por isso, o custo de
acumular reservas também é.
Mas é aquela velha história do seguro. Se você paga um seguro de
carro durante 15 anos e nada
acontece, você pode achar que
perdeu dinheiro. Se seu carro é
roubado no terceiro mês, você fica feliz", diz Rafael Guedes, diretor-executivo da Fitch Ratings.
Guedes lembra que hoje a situação brasileira é muito mais confortável do que na época do câmbio fixo, quando o país chegou até
a ter mais reservas. Afinal, o BC
não precisa defender o valor da
moeda. Mas, diz Guedes, falar em
otimizar a relação "custo/benefício" de acumular reservas é uma
visão muito estreita. O custo, diz
ele, é perda de crescimento, por
conta de falta de investimento e
dificuldade de acesso aos mercados de crédito. "É fácil computar
o custo, mas muito difícil calcular
os benefícios do nível de reservas", diz David Beker, da Merrill
Lynch. O Brasil, diz ele, apesar dos
avanços dos últimos anos, continua sendo um país emergente e,
portanto, vulnerável às condições
de liquidez global. "Não tem cálculo mágico", diz o analista.
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