São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2007

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BENJAMIN STEINBRUCH

FisCopa


Seria recomendável a criação de um Comitê Fiscalizador de Obras e Serviços da Copa do Mundo de 2014, o FisCopa

AGORA QUE a Copa do Mundo de 2014 é nossa, cumpre prepará-la com extremo cuidado. A discussão sobre a viabilidade da candidatura brasileira está superada. Uma competição internacional desse nível traz óbvias vantagens ao país, porque exalta a nacionalidade e, mais importante, estimula governo e setor privado a promover investimentos que vão muito além do futebol.
Pelo menos 18 grandes cidades brasileiras lutam por 12 vagas entre as que terão jogos oficiais. Nenhuma delas tem estádios nem estruturas urbanas preparados para o evento.
Então, a primeira pergunta que surge é: "Quanto vai custar essa Copa?". As estimativas iniciais indicam um custo de US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões -US$ 1,2 bilhão só para reforma e construção de estádios. Na Copa de 2006, a Alemanha gastou US$ 11 bilhões, sendo US$ 2,1 bilhões em estádios. A África do Sul prevê gastar US$ 2 bilhões até 2010.
Em eventos como esses, é comum que os custos inicialmente estimados sejam largamente superados. Na Alemanha, as obras em estádios ultrapassaram a previsão inicial em 60%. O Pan-Americano deste ano, no Rio, teve orçamento inicial, apresentado em 2002, de US$ 123 milhões. Consta que o custo final atingiu R$ 1,1 bilhão só em instalações fixas e provisórias, sem contar gastos com segurança, viagens, alimentação, hospedagem etc.
Mais importante do que discutir valores é discutir controles. A preparação de um evento internacional do porte da Copa do Mundo abre grande espaço para erros e desvios. Então, é necessário agir preventivamente.
No início de 2008, devem entrar no país os primeiros US$ 100 milhões dos US$ 400 milhões pagos à Fifa pelos patrocinadores, que serão repassados ao Comitê Organizador da Copa. Antes que o primeiro dólar dessa conta seja gasto, seria recomendável a criação de um Comitê Fiscalizador de Obras e Serviços da Copa do Mundo de 2014, o FisCopa.
Formado por um pequeno número de homens e mulheres públicos ilibados, esse comitê, assessorado por auditoria independente, poderia representar uma garantia de controle de orçamento a partir do momento em que começarem os desembolsos com as obras para a Copa.
Risco de irregularidades existe em qualquer grande empreendimento, em qualquer país. A Copa da França de 1998, por exemplo, tão bem organizada, não escapou do vexame dos ingressos. Muitos torcedores, que compraram pacotes oficiais, não conseguiram entrar no estádio Saint-Denis para ver a final entre Brasil e França, porque seus ingressos foram desviados e vendidos no mercado negro a US$ 2.000 cada um.
Não devemos cair na conversa de que já existem mecanismos de fiscalização e controle no país e na própria Fifa. Eles existem, sem dúvida, mas são burocráticos e lentos, para dizer o mínimo. O FisCopa teria de funcionar como um vigia permanente das obras e serviços, de modo que possa descobrir eventuais responsáveis por desvios de recursos e outras irregularidades.
A Copa é bem-vinda, porque representa uma oportunidade para firmar a imagem brasileira de potência emergente. Não se deve, portanto, correr o risco de que esse evento exponha o país a vexames internacionais.
A Copa é tão importante para o Brasil que ultrapassa em muito os limites do futebol. Todo cuidado é pouco!


BENJAMIN STEINBRUCH , 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br


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