São Paulo, quinta-feira, 06 de dezembro de 2007

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Bancos faturam R$ 40,8 bi com tarifas

Ganho sobe 17% e supera gastos com folha de pagamento em 30%; governo baixa medidas para regular tarifas hoje

Instituições financeiras dizem que o aumento da receita reflete a ampliação dos serviços prestados e da base de clientes

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os bancos faturaram R$ 40,8 bilhões com a cobrança de tarifas entre janeiro e setembro deste ano, segundo levantamento do Banco Central a partir dos balanços das 101 instituições financeiras que operam no Brasil. A receita com a prestação de serviços nesse período cresceu 17,2% em relação aos primeiros nove meses de 2006.
Os valores incluem apenas as taxas cobradas em serviços bancários propriamente ditos. Tarifas praticadas por produtos que não são administrados diretamente por instituições financeiras, e sim por algumas de suas subsidiárias -seguros, planos de previdência e cartões de crédito, por exemplo-, não estão incluídos na pesquisa.
A cobrança de tarifas ajudou a impulsionar o lucro do sistema financeiro, que, segundo o BC, neste ano estava acumulado em R$ 31,6 bilhões até setembro, 33% a mais do que 2006. A maior lucratividade também está relacionada a fatores como a expansão do crédito e com algumas operações atípicas, como a venda da participação que alguns bancos tinham na Serasa e na Redecard.
Mas a prestação de serviços responde por fatia cada vez maior do faturamento das instituições financeiras. Um dos métodos usados no mercado para analisar esse peso é a relação entre a receita com tarifas e as despesas com funcionários.
Entre janeiro e setembro de 2006, os ganhos com tarifas superavam o valor da folha de pagamento dos bancos em 21,4%. Neste ano, foi a 29,8%.
Por outro lado, o aumento na arrecadação de tarifas é acompanhado por um forte crescimento na quantidade de reclamações contra os serviços prestados. No mês passado, o BC recebeu 5.402 reclamações de clientes contra os bancos, mais que o dobro das 2.277 em outubro de 2006.
O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, já chegou a dizer que "o ideal seria que todo o sistema financeiro brasileiro tivesse lucros um pouco menores". Hoje o governo promete anunciar um pacote de medidas para restringir a cobrança de tarifas bancárias. Entre as principais iniciativas, deve estar a limitação no número de tarifas diferentes que os bancos podem cobrar, padronização de nomenclaturas e periodicidades fixas para reajustes.
O economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Nicola Tingas, diz que a rentabilidade dos bancos apenas acompanha o bom momento da economia brasileira. "Todos os setores da economia estão tendo lucros recordes, inclusive os bancos", afirma.
Tingas ressalta ainda que a maior receita com tarifas reflete também o aumento na base de clientes e a diversificação dos serviços prestados pelos bancos. Um dos exemplos disso é o UBS Pactual, banco que normalmente não aparece entre os que mais faturam com tarifas mas que neste ano teve suas receitas impulsionadas pela participação no lançamento de ações de várias empresas na Bolsa de Valores de São Paulo.
Para Ariadne Arnosti, analista financeira do Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração), uma maior regulamentação do governo nas tarifas é positiva e deve facilitar a vida dos clientes. "As medidas devem facilitar a comparação entre as tarifas dos bancos, o que deve, portanto, incentivar a concorrência. Hoje é muito difícil um cliente mudar de banco, talvez agora isso mude."


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