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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Dom Luiz não pode morrer
É a 2ª vez que ele recorre
à greve de fome para lutar
contra a transposição das
águas do rio São Francisco
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HOJE É o décimo dia da greve
de fome do bispo de Barra,
dom Luiz Cappio. É a segunda vez que ele recorre a esse gesto
extremo para lutar contra a transposição das águas do rio São Francisco.
A primeira greve de fome, em setembro/outubro de 2005, durou 11
dias e foi encerrada por um acordo
negociado pelo então ministro Jaques Wagner, atualmente governador da Bahia, em nome do presidente Lula.
Por esse acordo, o governo
aceitou "prolongar o debate" sobre o
projeto, "ainda na fase anterior ao
início de obras, para o esclarecimento amplo de questões que ainda suscitem dúvidas e divergências".
Dom Luiz entende que o acordo
foi descumprido. Em carta enviada
na semana passada ao presidente da
República, ele lembra que "o diálogo
foi apenas iniciado e logo interrompido". Dom Luiz fez várias tentativas de retomar a discussão sobre o
controvertido projeto. Em fevereiro
deste ano, protocolou documento
no Palácio do Planalto pedindo a
reabertura e a continuidade do diálogo. A resposta foi o início das obras
de transposição pelo Exército brasileiro.
O leitor pode imaginar o que é
uma greve de fome? Quem quiser
ter uma idéia pode ler a entrevista
de dom Luiz à revista "Estudos
Avançados" da USP ("O São Francisco, a razão e a loucura", jan./abr./
2006, www.iea.usp.br/iea/revista). "É uma agressão tremenda", disse ele, "já que faz parte do
instinto humano a preservação da
vida. Só tendo uma convicção espiritual muito forte podemos vencer
o instinto.
Os quatro primeiros dias são insuportáveis e muito dolorosos porque se tem a expectativa do organismo pelo alimento que deve receber, que vem de fora. Depois disso o organismo está psicologicamente preparado, pois sabe que não vai receber nada e passa a
se autoconsumir. Você não sente
tanto a necessidade do alimento,
mas o enfraquecimento é visível e
cada vez mais você percebe a debilidade em seu corpo. Começa a faltar a memória e aparecem as dificuldades de se locomover. Depois
fiquei sabendo que, pelas previsões
médicas, eu agüentaria apenas
mais dez dias."
Mas a determinação de dom Luiz
continuou inalterada. Ele avisou
diversas vezes que voltaria ao jejum se o acordo de 2005 fosse descumprido. Na carta enviada na semana passada ao presidente Lula,
disse que desta vez só suspenderá a
greve de fome "com a retirada do
Exército nas obras do eixo norte e
do eixo leste e o arquivamento definitivo do projeto de transposição
das águas do rio São Francisco" (a
íntegra da carta e diversos outros
documentos relacionados à luta de
dom Luiz podem ser encontrados
no endereço eletrônico www.umavidapelavida.com.br).
A morte dom Luiz seria uma
imensa perda. O governo precisa
escutar o seu apelo. Em artigo publicado na Agência Carta Maior,
em março último, Leonardo Boff,
que conhece dom Luiz há muitos
anos, já advertira que, se o governo
implementasse o projeto sem levar
em conta a existência de alternativas que muitos especialistas consideram mais baratas e socialmente
mais eficazes, "podemos contar
com nova greve de fome do bispo".
E acrescentou: "Entre o povo que
não quer a transposição e as pressões de autoridades civis e eclesiásticas, dom Luiz ficará do lado do
povo. E irá até o fim. Então a transposição será aquela da maldição,
feita à custa da vida de um bispo
santo e evangélico. Estará o governo disposto a carregar essa pecha
pelo futuro afora?".
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. , 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net
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