São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2008

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Brasileiro deve gastar para manter emprego, diz Lula

Para presidente, todos precisam ajudar a movimentar a economia; segundo ele, trabalhador tem de consumir, e empresário, baixar preço

Lula afirmou ainda que o mercado não consegue resolver problemas sozinho, por isso o governo vai tomar mais medidas contra a crise

CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em São Paulo que o brasileiro precisa consumir para evitar o desemprego. E, enquanto o governo garante a oferta de crédito no mercado, o empresário deve baixar os preços e juros de financiamentos. "Movimentar a economia é uma responsabilidade nossa. Essa é minha tese", disse Lula, em entrevista após receber a ex-senadora colombiana Ingrid Betancourt.
Para Lula, a população, às vezes influenciada pelo noticiário, não vai às compras com medo de perder o emprego. Mas a lógica, segundo ele, é outra: se deixarem de comprar, o comércio venderá menos e as fábricas de automóveis e outros bens duráveis reduzirão a produção, provocando demissões.
"Se a sociedade brasileira resolve entender que não deva comprar as coisas que tinha que comprar, com medo de perder o emprego, é preciso dizer que ela pode perder o emprego porque não comprou", disse Lula, fazendo um alerta aos endividados. "Se estão devendo, paguem a dívida, não façam outra, não."
Segundo o presidente, "2008 está garantido". O problema é o próximo ano. Nesta semana, a Vale anunciou demissão de 1.300 funcionários no mundo e férias coletivas para mais 5.500. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, previu aumento no desemprego em 2009. "Esta é a hora que nós precisamos da compreensão dos empresários. É hora de baixar juros, baixar preços. Compreendermos que cada um tem que fazer seu sacrifício", disse Lula.
Lula insistiu em que o Brasil, entre os países em desenvolvimento, é o "mais preparado" para enfrentar a crise. Mas reconheceu a escassez de crédito. "O dinheiro encurtou, não sabemos onde está, o [presidente da França, Nicolas] Sarkozy não sabe onde está, o [presidente eleito dos Estados Unidos, Barack] Obama talvez não saiba onde está. Mas esse dinheiro vai aparecer", disse.
O presidente atribuiu importância decisiva, para conter a crise, à intervenção do governo na economia. Mas admitiu que as medidas tomadas até agora ainda não surtiram o efeito desejado. "O Estado tem que ser o indutor. Não é o mercado que vai se salvar por si só. Já tomamos medidas na indústria automobilística, na construção civil. Vamos tomar outras porque, entre o governo tomar medidas e o dinheiro chegar à ponta, está demorando mais que o esperado."

Alencar
Após se reunir com empresários na sede da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), o vice-presidente da República, José Alencar, reforçou que o governo está atento às demissões. "A recomendação, da nossa parte, é para que as empresas façam outros ajustes antes de cortar funcionários, de maneira que atravessemos a fase mais aguda da crise."
Questionado sobre como o governo pode ajudar o setor produtivo, Alencar disse que é necessário reduzir a taxa básica de juros da economia, atualmente em 13,75% ao ano, não paralisar investimentos, reduzir os seus próprios gastos e desonerar alguns segmentos da economia. Segundo ele, eventuais cortes de impostos ainda estão sendo avaliados pela Receita Federal. "O governo está todo dia preocupado [com a crise]. O [ministro Guido] Mantega [que também participou do encontro] anotou cada comentário dos presentes."


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