São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009

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Mercado Aberto

MARIA CRISTINA FRIAS - cristina.frias@uol.com.br

Crise reforça gestão financeira prudente

A crise internacional de 2008/2009 foi especialmente dura com os executivos que atuam na área financeira das empresas. Diante da escassez de crédito e praticamente sem nenhum horizonte de planejamento, eles tiveram que vigiar rigidamente o cofre, o que se traduziu em medidas antipáticas como cortar custos.
Das turbulências, ficou uma grande lição, segundo relatam os três finalistas do prêmio "O Equilibrista": o modelo conservador de administrar o fluxo de recursos da companhia é o mais adequado.
"A facilidade de se contratar instrumentos como os derivativos levou muitos gestores a buscar alternativas de geração de caixa que estavam fora do negócio central da empresa. Isso é um erro", diz Enéas Pestana, vice-presidente executivo do Grupo Pão de Açúcar e grande vencedor do troféu, promovido anualmente pelo Ibef (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças) para homenagear os profissionais da área que mais se destacaram.
Para Pestana, o sucesso do líder em finanças está em se colocar como um suporte aos que tomam as decisões. "O seu papel é trazer as informações que importam e fornecer as devidas interpretações."

"A facilidade de contratar instrumentos como os derivativos levou muitos gestores a buscar alternativas de geração de caixa que estavam fora do negócio central da empresa. Isso é um erro"
ENÉAS PESTANA
vice-presidente executivo do Pão de Açúcar e vencedor do prêmio "O Equilibrista"

ALÉM DA TÉCNICA
André Luís Rodrigues, 40, vice-presidente financeiro da Rhodia na América Latina, tem na cabeça uma regra informal recitada pela direção da companhia. "Se demorar mais do que um minuto para explicar uma operação para o acionista, ela não deve ser usada", diz ele, que é formado em engenharia química. Durante a crise, a sua rotina foi acelerada: as reuniões de planejamento e de avaliação dos resultados realizaram-se com mais frequência a fim de dar agilidade à tomada de decisão. Para Rodrigues, a liderança e a habilidade para o trabalho em equipe são as principais aptidões a serem desenvolvidas pelo profissional da área. "Muita gente só se preocupa em se aprimorar tecnicamente, mas é importante ter também essa preparação comportamental."

RIGIDEZ SEM MITOS
Dentre os profissionais da área, Leopoldo Saboya, 34, diretor financeiro e de relações com investidores da Brasil Foods, enfrentou uma realidade ainda mais espinhosa nos últimos meses. Engenheiro agrônomo que construiu sua carreira na Perdigão, o executivo foi um dos arquitetos da operação que possibilitou à empresa incorporar a Sadia. Difícil era explicar para seus filhos -ele tem um de sete anos e outro de três- por que estava saindo de casa para trabalhar tarde da noite. Embora defenda um modelo rigoroso de gestão de riscos, Saboya faz questão de desmistificar o uso de derivativos. "Os instrumentos de proteção são bem-vindos. Essencial é escolher bem o tipo a ser utilizado -alavancados estão fora de questão- e a quantidade", ensina.

A COMÉDIA DOS ERROS E A ECONOMIA
Regulação é tema de "Medida por Medida". Já "O Mercador de Veneza" trata mais do embate entre capital financeiro e capital produtivo, do que de usura e antissemitismo. A interpretação é de Gustavo Franco, que após escrever livros em que relaciona economia a Fernando Pessoa e Machado de Assis, volta-se para o bardo inglês.
Em "Medida por Medida", os bordéis podem ser comparados ao sistema financeiro, segundo o economista. "Há o mundo oficial e o proibido".
"Shakespeare e a Economia" era para ser um prefácio à obra de Henry Farnam, o primeiro a fazer, em 1931, alusão à economia nas peças do dramaturgo. Mas, o ex-presidente do Banco Central e sócio da Rio Bravo Investimentos diz que se "encantou" pela obra do teatrólogo e o texto ficou longo demais. Enquanto Farnam fez uma coleção de alusões do que há de econômico nas peças, Franco ficou com o entorno, o autor e o cenário do capitalismo nascente.
As obras em que a economia se faz mais presente, segundo ele, são "Hamlet", "Henrique 8º" e "Sonetos".
"Como a [crítica] Barbara Heliodora observou, Shakespeare jamais pensou a economia como ela aparece hoje, mas grandes temas estão ali", diz ele que conta não ter lido todas as peças do autor.
"Li várias e vi muitos filmes. Afinal, Shakespeare é para ser falado, não, lido."

FICHA LIMPA
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou na última quarta-feira o projeto de lei elaborado pelo ex-senador Rodolfo Tourinho para a criação do cadastro positivo. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) pressiona os parlamentares para que essa proposta -considerada pela entidade mais simples do que a do projeto de lei 836/ 2003, de objetivo semelhante- seja votada no plenário do Senado na próxima semana, por requerimento de urgência. O cadastro, nas palavras dos bancos, permitiria reduzir os juros.

CAMPANHA
O presidente da Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), Paulo Godoy, juntou-se à missão do governo que chegou à Alemanha no final da semana passada para vender aos empresários locais as possibilidades de negócios no país com o impulso dado pela Copa do Mundo, pela Olimpíada e pelo pré-sal. "Há espaço para investimentos diretos ou indiretos, via mercado de capitais e fundos", diz. Para ele, até 2014, os aportes no setor podem atingir R$ 160 bilhões por ano, contra R$ 106 bilhões em 2008.


com JOANA CUNHA e DENYSE GODOY


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