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Mercado Aberto
MARIA CRISTINA FRIAS - cristina.frias@uol.com.br
Crise reforça gestão financeira prudente
A crise internacional de
2008/2009 foi especialmente
dura com os executivos que
atuam na área financeira das
empresas. Diante da escassez
de crédito e praticamente sem
nenhum horizonte de planejamento, eles tiveram que vigiar
rigidamente o cofre, o que se
traduziu em medidas antipáticas como cortar custos.
Das turbulências, ficou uma
grande lição, segundo relatam
os três finalistas do prêmio "O
Equilibrista": o modelo conservador de administrar o fluxo de
recursos da companhia é o
mais adequado.
"A facilidade de se contratar
instrumentos como os derivativos levou muitos gestores a
buscar alternativas de geração
de caixa que estavam fora do
negócio central da empresa. Isso é um erro", diz Enéas Pestana, vice-presidente executivo
do Grupo Pão de Açúcar e grande vencedor do troféu, promovido anualmente pelo Ibef (Instituto Brasileiro de Executivos
de Finanças) para homenagear
os profissionais da área que
mais se destacaram.
Para Pestana, o sucesso do líder em finanças está em se colocar como um suporte aos que
tomam as decisões. "O seu papel é trazer as informações que
importam e fornecer as devidas
interpretações."
"A facilidade de contratar instrumentos como os
derivativos levou muitos gestores a buscar
alternativas de geração de caixa que estavam fora
do negócio central da empresa. Isso é um erro"
ENÉAS PESTANA
vice-presidente executivo do Pão de Açúcar e vencedor do prêmio "O Equilibrista"
ALÉM DA TÉCNICA
André Luís Rodrigues,
40, vice-presidente financeiro da Rhodia na América Latina, tem na cabeça
uma regra informal recitada pela direção da companhia. "Se demorar mais
do que um minuto para
explicar uma operação para o acionista, ela não deve ser usada", diz ele, que
é formado em engenharia
química. Durante a crise,
a sua rotina foi acelerada:
as reuniões de planejamento e de avaliação dos
resultados realizaram-se
com mais frequência a
fim de dar agilidade à tomada de decisão. Para Rodrigues, a liderança e a
habilidade para o trabalho
em equipe são as principais aptidões a serem desenvolvidas pelo profissional da área. "Muita
gente só se preocupa em
se aprimorar tecnicamente, mas é importante ter
também essa preparação
comportamental."
RIGIDEZ SEM MITOS
Dentre os profissionais
da área, Leopoldo Saboya,
34, diretor financeiro e de
relações com investidores
da Brasil Foods, enfrentou uma realidade ainda
mais espinhosa nos últimos meses. Engenheiro
agrônomo que construiu
sua carreira na Perdigão,
o executivo foi um dos arquitetos da operação que
possibilitou à empresa incorporar a Sadia. Difícil
era explicar para seus filhos -ele tem um de sete
anos e outro de três- por
que estava saindo de casa
para trabalhar tarde da
noite. Embora defenda
um modelo rigoroso de
gestão de riscos, Saboya
faz questão de desmistificar o uso de derivativos.
"Os instrumentos de proteção são bem-vindos. Essencial é escolher bem o
tipo a ser utilizado -alavancados estão fora de
questão- e a quantidade",
ensina.
A COMÉDIA DOS ERROS E A ECONOMIA
Regulação é tema de "Medida por Medida". Já "O
Mercador de Veneza" trata
mais do embate entre capital
financeiro e capital produtivo, do que de usura e antissemitismo. A interpretação é
de Gustavo Franco, que após
escrever livros em que relaciona economia a Fernando
Pessoa e Machado de Assis,
volta-se para o bardo inglês.
Em "Medida por Medida",
os bordéis podem ser comparados ao sistema financeiro,
segundo o economista. "Há o
mundo oficial e o proibido".
"Shakespeare e a Economia" era para ser um prefácio à obra de Henry Farnam,
o primeiro a fazer, em 1931,
alusão à economia nas peças
do dramaturgo. Mas, o ex-presidente do Banco Central
e sócio da Rio Bravo Investimentos diz que se "encantou" pela obra do teatrólogo
e o texto ficou longo demais.
Enquanto Farnam fez uma
coleção de alusões do que há
de econômico nas peças,
Franco ficou com o entorno,
o autor e o cenário do capitalismo nascente.
As obras em que a economia se faz mais presente, segundo ele, são "Hamlet",
"Henrique 8º" e "Sonetos".
"Como a [crítica] Barbara
Heliodora observou, Shakespeare jamais pensou a economia como ela aparece hoje, mas grandes temas estão
ali", diz ele que conta não ter
lido todas as peças do autor.
"Li várias e vi muitos filmes. Afinal, Shakespeare é
para ser falado, não, lido."
FICHA LIMPA
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado
aprovou na última quarta-feira o projeto de lei elaborado pelo ex-senador Rodolfo
Tourinho para a criação do
cadastro positivo. A CNI
(Confederação Nacional da
Indústria) pressiona os parlamentares para que essa
proposta -considerada pela
entidade mais simples do
que a do projeto de lei 836/
2003, de objetivo semelhante- seja votada no plenário
do Senado na próxima semana, por requerimento de
urgência. O cadastro, nas palavras dos bancos, permitiria reduzir os juros.
CAMPANHA
O presidente da Abdib
(Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de
Base), Paulo Godoy, juntou-se à missão do governo que
chegou à Alemanha no final
da semana passada para
vender aos empresários locais as possibilidades de negócios no país com o impulso dado pela Copa do Mundo, pela Olimpíada e pelo
pré-sal. "Há espaço para investimentos diretos ou indiretos, via mercado de capitais e fundos", diz. Para ele,
até 2014, os aportes no setor
podem atingir R$ 160 bilhões por ano, contra R$ 106
bilhões em 2008.
com JOANA CUNHA e DENYSE GODOY
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