São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009

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Varejo estica parcelas, mas embute juros

Com o reaquecimento da economia, redes agora oferecem até 24 prestações

Especialistas argumentam, porém, que esse tipo de parcelamento oculta juros que podem representar até 30% do valor do produto

DANILO VILELA BANDEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O reaquecimento da economia vem acompanhado por uma corrida das grandes redes varejistas pelo oferecimento de financiamentos cada vez mais longos e sem juros -mas que, segundo especialistas, iludem o consumidor ao embutir taxas de até 30% do valor do produto.
Na semana passada, a rede de hipermercados Carrefour anunciou que irá parcelar em seu cartão produtos eletroeletrônicos-a grande vedete do momento para o setor- em até 24 vezes sem juros (eram 15 meses no ano passado), numa tentativa de fazer frente à concorrência de Casas Bahia -17 vezes- e Extra (do grupo Pão de Açúcar) -15 vezes.
A iniciativa vem no momento em que, após um primeiro semestre de queda nas vendas, a recuperação do emprego e da renda e a estabilização da inadimplência permitem que as grandes redes prevejam o melhor Natal da história.
Em meio à enxurrada de crédito, porém, há quem critique o fato de os financiamentos serem anunciados como sendo sem juros.
"Não existe financiamento sem juros", diz Miguel José de Oliveira, coordenador de pesquisas de juros da Anefac (associação do setor de finanças). "Eles já estão embutidos no valor financiado. Se o consumidor for a uma dessas lojas e barganhar, sempre consegue descontos significativos à vista."
De acordo com Oliveira, as redes trabalham com juros "ocultos" de até 15% para financiamentos em 10 vezes e de até 30% para parcelamentos de 18 a 24 vezes.
Para Alvaro Musa, consultor da Partner Consulting e ex-presidente da Fininvest, os juros estão de fato acoplados ao valor final do produto, mas não prejudicam os consumidores.
"O que o varejista faz é repassar para o cliente as taxas que o banco impõe à rede, que são muito menores do que as praticadas para a pessoa física. O consumidor está feliz, e o pessoal fica tentando colocar minhoca na cabeça dele."
O Carrefour, que acaba de atingir 10,5 milhões de cartões com sua bandeira e projeta crescimento de 20% nas vendas de eletroeletrônicos neste Natal, nega a prática. "Esse é um problema que afeta os cartões de crédito", diz Ricardo Barreto, diretor de negócios do braço financeiro do grupo.


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