São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009

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Boom pós-crise deve gerar mais gigantes

Negócio entre Casas Bahia e Pão de Açúcar consolida movimento de formação de grandes grupos no mercado nacional

Média de transações passa a registrada antes da crise; neste semestre, foram fechados 61 negócios por mês e, no ano passado, 54

VERENA FORNETTI
DA REDAÇÃO

A compra da Casas Bahia pelo Pão de Açúcar, anunciada anteontem, consolida a tendência de formação de grandes grupos nacionais. Segundo consultorias especializadas em fusões e aquisições, o número de transações deve crescer ainda mais nos próximos meses.
Analistas dizem que, com o crédito em expansão, a recuperação da Bolsa e as boas perspectivas para o mercado interno, a tendência é a formação de outros gigantes brasileiros e a ampliação da presença do capital estrangeiro nas empresas.
Neste semestre, foram fechadas, em média, 61 fusões ou aquisições no país por mês. A média é maior que a do ano passado (54) e que a de 2007 (60). Os dados são da consultoria PricewaterhouseCoopers.
Alexandre Pierantoni, sócio da Price, afirma que a retração da economia diminuiu a disposição dos empresários para comprar outras companhias, mas acelerou a consolidação de alguns setores, como o de alimentos, depois da fusão de Sadia e Perdigão, e o de papel e celulose, com a compra da Aracruz pela VCP (Votorantim Celulose e Papel) e pelo BNDES.
Tanto a Sadia quanto a Aracruz estavam expostas, quando a crise estourou no país, aos derivativos cambiais. O instrumento foi usado como proteção contra desvalorização do dólar, mas causou prejuízos quando a moeda disparou em 2008.
Pierantoni destaca que, com a volta do crescimento econômico, começa outro movimento, em que as empresas farão aquisições principalmente nos setores em que o mercado é fragmentado, como alimentos, varejo e tecnologia. "As oportunidades de negócios devem motivar não só empresas nacionais mas também estrangeiras a fazer aquisições e fusões."
Segundo o boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, a previsão para o crescimento da economia no ano que vem é de 5%. Para a produção da indústria, a estimativa é de alta de 6,88%.
Fundos de "private equity" (de compra de participações em empresas) também devem ampliar a presença no país. O fundo americano Carlyle, por exemplo, anunciou na semana passada que está prestes a fechar duas ou três transações.
"O PIB brasileiro provavelmente estará entre os cinco maiores do mundo na próxima década, e nós precisamos estar lá", disse o cofundador do Carlyle, David Rubenstein, em entrevista à agência Reuters.
De acordo com a Price, há dois anos fundos de "private equity" estavam presentes em 15% das fusões e aquisições no Brasil. O percentual neste ano alcançou 29% até outubro.

Gigantes nacionais
Nos últimos anos, o BNDES incentivou as empresas brasileiras a adquirir concorrentes e a formar gigantes brasileiros. O banco apoiou fusões como as de Oi/Brasil Telecom e Sadia/Perdigão e estimulou as negociações entre Bertin e Marfrig, entre outros negócios que receberam injeção de recursos ou participações na oferta de ações das novas empresas.
Luís Motta, sócio de fusões e aquisições da consultoria KPMG, ressalta que o ambiente econômico no país é favorável à formação de outros grandes grupos nacionais. O real valorizado, as projeções positivas para o mercado interno e a ampliação do crédito facilitam os negócios. Motta diz que a recuperação do mercado de capitais, para onde empresas podem se voltar para se capitalizar após a pior fase da crise, viabiliza novos negócios.
"Muitas empresas colocaram seus projetos na gaveta com a crise. A recuperação está vindo com força e vamos ter um salto no número de fusões até abril."


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