São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2004

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Empresa subornou políticos, diz diretor financeiro

DA REDAÇÃO

Fausto Tonna, ex-diretor financeiro da Parmalat, afirmou, em depoimento à Justiça italiana, que a empresa subornou políticos durante sua fase de expansão. Mas o executivo não citou nomes de políticos nem revelou em que países houve pagamento de propina.
As informações estão em reportagem de hoje do jornal britânico "Financial Times", que cita fontes judiciais. Ainda de acordo com o "FT", pessoas ligadas à empresa disseram que a Parmalat tinha como costume inflar o preço de empresas compradas na América Latina para incluir o valor a ser pago no suborno a políticos.
Tonna, que está detido em Parma, foi interrogado ontem pelo segundo dia consecutivo. O executivo nega o envolvimento direto nas fraudes e afirma que apenas seguia as instruções de Calisto Tanzi, 65, fundador e ex-presidente da Parmalat.
Tanzi, que está detido em Milão, comandou a empresa até o mês passado, quando a crise na empresa provocou sua renúncia. O empresário confessou ter desviado, para empreendimentos particulares, cerca de 500 milhões em recursos da empresa, o que é irregular, por tratar-se de uma companhia de capital aberto.
Os promotores italianos estão cruzando os depoimentos dos antigos diretores da empresa com as informações obtidas em documentos recolhidos na sede do grupo e nas firmas de auditoria Grant Thorton e Deloitte & Touche Tohmatsu.
No depoimento de ontem, Tonna também deu detalhes sobre o papel dos bancos italianos e estrangeiros no financiamento da expansão da multinacional, que nasceu como uma modesta empresa de laticínios, há 40 anos, e hoje está presente em 30 países.
A Parmalat entrou em concordata no mês passado, após a revelação de fraudes em seu balanço financeiro. A companhia está sendo administrada por um interventor do governo italiano. Estima-se que o buraco no balanço seja da ordem de 10 bilhões, o equivalente a fraude da tele norte-americana WorldCom.

Acionistas processam
Começam a aparecer os primeiros processos civis contra a Parmalat. Investidores tentaram recuperar na Justiça o dinheiro que perderam com a desvalorização dos papéis da empresa.
Até ontem, pelo menos três grupos de investidores abriram processo nos EUA. Em dois casos, aparecem também como réus o Citigroup e as auditorias Grant Thorton e Deloitte. As empresas informaram que ainda não foram notificadas sobre o processo e não poderiam comentá-los.
O Citigroup criou para a Parmalat um instrumento financeiro, conhecido como "Buconero" (buraco negro, em italiano), para que as subsidiárias do grupo emprestassem recursos umas para as outras. Existe a suspeita de que o mecanismo era utilizado para o desvio de recursos do grupo.
A Parmalat contratou a firma de advocacia Weil Gotshal & Manges, a mesma que defendeu a Enron (do setor de energia) e WorldCom, para assessorá-la nos EUA. Ambas as empresas protagonizaram os maiores escândalos da história recente dos EUA.


Com agências internacionais


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