São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2004

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Fundo no Brasil pode ser liquidado

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os cotistas do fundo de recebíveis de crédito Parmalat, administrado pelo banco Itaú, decidiram ontem convocar assembléia para o próximo dia 19 para deliberar sobre a liquidação antecipada do fundo.
A decisão foi tomada após analisarem a crise pela qual passa o grupo italiano e seus reflexos nas operações da Parmalat do Brasil. O fundo foi criado em 27 de novembro passado, e sua carteira é composta por contas a receber da Parmalat e vendidas ao banco como forma de financiar o capital de giro da empresa. O Itaú comprou os recebíveis da Parmalat e emitiu cotas do fundo captando R$ 110,5 milhões de investidores.
O fundo Parmalat é um fundo fechado, protegido contra falência e no qual só entram investidores qualificados (em geral empresas e instituições financeiras). As cotas emitidas vencem em novembro de 2006, mas os cotistas temem que a deterioração da situação financeira da Parmalat acabe, no futuro, afetando os papéis que o fundo tem de ter em carteira. Eles temem que, numa crise mais aguda, a Parmalat deixe de entregar mercadorias e os recebíveis virem pó.
De acordo com as normas da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), até o final de fevereiro o fundo tem de ter 50% de seus ativos composto por recebíveis da empresa. Como esses papéis vencem a cada dez dias, em média, os gestores do fundo têm de comprar, continuamente, novos recebíveis para recompor a carteira.
No entanto, com a crise do grupo italiano, que entrou em "default" em dezembro ao não honrar uma opção de compra de ações da Parmalat do Brasil, os gestores do fundo suspenderam a compra de novos recebíveis no dia 19 de dezembro. A partir desse momento, começaram a fazer caixa para honrar o compromisso com os investidores.
Hoje, segundo Sérgio Garibian, diretor-adjunto da Standard & Poor's, o fundo tem apenas 23% do seu patrimônio alocado em recebíveis da Parmalat. "E todos vencem em dez dias, portanto se for decidida a liquidação antecipada do fundo, dá para pagar os cotistas", diz ele.
A S&P mantém o rating "brAAAf" atribuído ao fundo, um dos mais altos na escala de análise de risco da empresa. "Os ativos do fundo não se misturam aos ativos da Parmalat, e os recebíveis estão sendo honrados: as mercadorias foram entregues pela empresa e seus clientes estão pagando o banco", diz Garibian.
Segundo o diretor da S&P, a decisão de encerrar o fundo, a ser tomada no próximo dia 19, independe da avaliação de risco que a agência faz dele. "Os investidores se baseiam nas perspectivas da empresa", diz Garibian.
A CVM está acompanhando de perto a situação do fundo. Segundo seu presidente, Luiz Cantidiano, "não deve haver problema para pagar os cotistas, pois o fundo tem em caixa 90% do valor captado junto aos investidores".


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