São Paulo, domingo, 07 de janeiro de 2007

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Excesso de pó e móveis com mancha na sala já foram critério de classificação

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das escalas mais antigas de definição do status social das famílias foi baseada nos equipamentos existentes na sala de estar das residências no início dos anos 1930. Desenvolvido no intervalo das duas Grandes Guerras pelo professor de sociologia norte-americano Francis Stuart Chapin, o método de estratificação social -muito criticado posteriormente- concedia mais pontos àqueles que tinham a melhor sala de visitas. E ponto final.
A presença de lareira, tapetes de bom tamanho, luz elétrica e piano, por exemplo, aumentava a pontuação total da família na análise geral. Excesso de pó ou mobília com manchas fazia com que a casa fosse preterida -artigos espalhados ou em desordem levavam a casa a perder dois pontos. Móveis consertados, menos dois pontos também, e uma sala "bizarra, chocante, desarmoniosa ou agressiva", pior ainda: quatro pontos eram tirados do total.
Descartado pelos estudiosos nos anos 40 -por retratar apenas o nível de conforto das famílias, e não a escolaridade, por exemplo, ou o efeito da renda-, esse modelo de estratificação social ainda foi testado nos EUA em 1942. Uma pequena amostra de 67 famílias negras em Minneapolis participou do teste, e chegou-se à conclusão de que era preciso fazer algumas alterações. Logo depois, caiu em desuso, segundo relata em artigo o professor e doutor em administração pela FEA-USP Fauze Mattar.

Estranhos conceitos
Nos anos seguintes, outros modelos apareceram. Em 1940, a revista "Fortune" resolveu fazer um levantamento com 5.207 pessoas para que elas mesmas definissem a que classe pertenciam. Cerca de 80% dos americanos se autoclassificaram de classe média. Como na pesquisa havia só três opções a escolher (classe alta, média ou baixa), os economistas criticaram a tentativa por considerá-la distorcida e tendenciosa. Foi então que se resolveu somar na lista de escolhas a opção "classe trabalhadora". Resultado: 51% achavam que pertenciam a esse grupo -a classe média se reduziu para 43%.
Nos anos 80, dois economistas concluíram que a pesquisa da "Fortune" tinha uma série de manipulações, de maneira que o pesquisador pudesse ter o resultado que bem entendesse.
Quando os dados da "Fortune" foram publicados pela primeira vez, a revista concluía que o capitalismo não havia criado divisão de classes e que o povo americano era consciente do status alcançado.
Foi nos anos 60 que se chegou, nos EUA, a um modelo um pouco mais próximo do aceitável -porém estatísticos ainda o criticavam. Nele, variáveis como educação e renda passaram a ser as principais determinantes do status econômico do indivíduo na sociedade.
Nos últimos 20 anos, com o crescimento no número dos institutos de pesquisa que fazem levantamentos nas áreas de consumo e poder de compra, houve uma evolução nos modelos de análise econômica das classes no mundo. Hoje, os modelos de pesquisa de classificação variam de país a país. A diferença está, basicamente, na forma como é feita a classificação: se por renda ou por posses de bens e nível educacional do chefe de família. (AM)


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