São Paulo, segunda-feira, 07 de janeiro de 2008

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Recessão e alta dos preços assustam BCs

Escolha da política monetária num momento de inflação e desaceleração da economia domina debate em reunião na Suíça

Contágio da crise nos EUA no restante do mundo e pressão dos preços de alimentos e do petróleo são principais preocupações

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL À BASILÉIA

As incertezas que rondam a economia mundial, que começa 2008 entre pressões inflacionárias e a ameaça de recessão, dominam a primeira reunião do ano do BIS (Banco de Compensações Internacionais), que será concluída hoje na cidade de Basiléia, na Suíça.
No encontro, que reúne presidentes de bancos centrais de vários países do mundo, entre eles o brasileiro Henrique Meirelles, persiste o temor de um cenário de "estagflação" para 2008. Ou seja, estagnação econômica -sob a influência da crise hipotecária nos EUA- e inflação -causada pelo aumento das matérias-primas, principalmente petróleo e alimentos.
Entre os banqueiros que participam da reunião bimestral do BIS, encontrar a melhor política de juros entre esses dois perigos é "a pergunta de US$ 1 bilhão", como definiu um deles. Se a crise imobiliária desacelera a maior economia do mundo e cria ameaças de contágio global, do outro lado do Atlântico, a maior preocupação entre as autoridades monetárias continua a ser a inflação.
"As altas dos preços das commodities agrícolas e do petróleo criam uma séria pressão inflacionária", disse o presidente do BC polonês, Slawomir Skrzypek, acrescentando que a taxa de inflação em seu país estava um pouco acima meta estabelecida pelo governo.
Por outro lado, ninguém esconde o receio de que a falta de liquidez no mercado causada pela crise do "subprime" (hipotecas de alto risco) nos EUA poderá persistir ainda por um bom tempo, esfriando as grandes economias do mundo. Num temido cenário de recessão americana, nem as economias emergentes como a do Brasil, que até agora sofreram impacto limitado, ficariam imunes.
Para o presidente do BC mexicano, Guillermo Ortiz, a crise americana e suas conseqüências na economia mundial devem se prolongar. Ortiz citou uma frase do economista alemão Rudiger Dornbusch para ilustrar que espera um ano de incertezas. "Os acontecimentos sempre demoram mais do que se espera. Mas, quando chegam, ocorrem em uma velocidade também inesperada."
O maior motivo de tensão entre os banqueiros é em relação ao comportamento dos consumidores nos EUA e o conseqüente desempenho da economia americana neste ano. Em menor escala, o efeito sobre a Europa. A ação recente das autoridades monetárias nos dois lados do Atlântico mostra claramente quais são suas prioridades e ilustra o dilema atual.
O BCE (Banco Central Europeu) mantém-se firme na decisão de não cortar as taxas de juros, hoje em 4%, para afastar o fantasma da inflação, que no fim de 2007 atingiu 3,1% na zona do euro, a maior taxa em seis anos. Nos EUA, o Fed fez três cortes seguidos na taxa de juros, que chegou a 4,25%, a mais baixa desde que Ben Bernanke assumiu a presidência do BC americano, em 2006.
Segundo o analista Robert Ward, diretor de previsões globais da Economist Intelligence Unit, a alta do petróleo, cujo preço do barril bateu na semana passada a marca de US$ 100 pela primeira vez na história em termos nominais, aumenta a dor de cabeça para os BCs.
"Os altos preços do petróleo complicam o trabalho dos presidentes de bancos centrais", explica. "Eles precisam cortar as taxas de juros, mas são limitados pelo impacto inflacionário da subida nos preços das matérias-primas. Isso significa que eles poderão ter menos capacidade de cortar os juros na medida em que gostariam."


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