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Recessão e alta dos preços assustam BCs
Escolha da política monetária num momento de inflação e desaceleração da economia domina debate em reunião na Suíça
Contágio da crise nos EUA
no restante do mundo e
pressão dos preços de
alimentos e do petróleo são
principais preocupações
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL À BASILÉIA
As incertezas que rondam a
economia mundial, que começa 2008 entre pressões inflacionárias e a ameaça de recessão, dominam a primeira reunião do ano do BIS (Banco de
Compensações Internacionais), que será concluída hoje
na cidade de Basiléia, na Suíça.
No encontro, que reúne presidentes de bancos centrais de
vários países do mundo, entre
eles o brasileiro Henrique Meirelles, persiste o temor de um
cenário de "estagflação" para
2008. Ou seja, estagnação econômica -sob a influência da
crise hipotecária nos EUA- e
inflação -causada pelo aumento das matérias-primas, principalmente petróleo e alimentos.
Entre os banqueiros que participam da reunião bimestral
do BIS, encontrar a melhor política de juros entre esses dois
perigos é "a pergunta de US$ 1
bilhão", como definiu um deles.
Se a crise imobiliária desacelera a maior economia do mundo
e cria ameaças de contágio global, do outro lado do Atlântico,
a maior preocupação entre as
autoridades monetárias continua a ser a inflação.
"As altas dos preços das commodities agrícolas e do petróleo criam uma séria pressão inflacionária", disse o presidente
do BC polonês, Slawomir
Skrzypek, acrescentando que a
taxa de inflação em seu país estava um pouco acima meta estabelecida pelo governo.
Por outro lado, ninguém esconde o receio de que a falta de
liquidez no mercado causada
pela crise do "subprime" (hipotecas de alto risco) nos EUA poderá persistir ainda por um
bom tempo, esfriando as grandes economias do mundo. Num
temido cenário de recessão
americana, nem as economias
emergentes como a do Brasil,
que até agora sofreram impacto
limitado, ficariam imunes.
Para o presidente do BC mexicano, Guillermo Ortiz, a crise
americana e suas conseqüências na economia mundial devem se prolongar. Ortiz citou
uma frase do economista alemão Rudiger Dornbusch para
ilustrar que espera um ano de
incertezas. "Os acontecimentos sempre demoram mais do
que se espera. Mas, quando
chegam, ocorrem em uma velocidade também inesperada."
O maior motivo de tensão entre os banqueiros é em relação
ao comportamento dos consumidores nos EUA e o conseqüente desempenho da economia americana neste ano. Em
menor escala, o efeito sobre a
Europa. A ação recente das autoridades monetárias nos dois
lados do Atlântico mostra claramente quais são suas prioridades e ilustra o dilema atual.
O BCE (Banco Central Europeu) mantém-se firme na decisão de não cortar as taxas de juros, hoje em 4%, para afastar o
fantasma da inflação, que no
fim de 2007 atingiu 3,1% na zona do euro, a maior taxa em seis
anos. Nos EUA, o Fed fez três
cortes seguidos na taxa de juros, que chegou a 4,25%, a mais
baixa desde que Ben Bernanke
assumiu a presidência do BC
americano, em 2006.
Segundo o analista Robert
Ward, diretor de previsões globais da Economist Intelligence
Unit, a alta do petróleo, cujo
preço do barril bateu na semana passada a marca de US$ 100
pela primeira vez na história
em termos nominais, aumenta
a dor de cabeça para os BCs.
"Os altos preços do petróleo
complicam o trabalho dos presidentes de bancos centrais",
explica. "Eles precisam cortar
as taxas de juros, mas são limitados pelo impacto inflacionário da subida nos preços das
matérias-primas. Isso significa
que eles poderão ter menos capacidade de cortar os juros na
medida em que gostariam."
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