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Analistas descartam redução do consumo
Aumento do IOF não deve reduzir busca por crédito nem ter efeito no controle do aumento da inflação
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Especialistas e representantes de instituições de crédito e
financeiras discordam da avaliação da equipe econômica do
governo de que o aumento do
IOF (Imposto sobre Operações
Financeiras) vai ajudar a frear a
expansão do consumo e, assim,
impedir que o Banco Central
seja obrigado a elevar a taxa básica de juros, a Selic, para conter o aumento da inflação.
Para Gilberto Braga, professor do Ibmec-RJ, o aumento do
imposto que incide diretamente sobre as operações de crédito
foi mal recebido pela população. Por isso, o governo difundiu que um dos objetivos da
elevação do IOF seria conter
também a taxa básica de juros.
"O pacote foi elaborado para
repor a perda de R$ 38 bilhões
com a CPMF. Não havia nenhuma intenção macroeconômica no aumento de impostos.
Mas, como pegou mal com a
população, agora o governo
vem com a história de que não
vai precisar aumentar juros."
O aumento do IOF de 1,5%
para 3,38% para pessoas físicas
foi divulgado na quarta-feira
junto com a elevação da CSLL
(Contribuição Social sobre Lucro Líquido) dos bancos de 9%
para 15%. Na ocasião, o ministro Guido Mantega (Fazenda)
disse que o imposto mais alto
poderia "jogar um pouquinho
de água na fervura, mas mantém aceso o fogo do crédito".
Naquele momento, fazia questão de mostrar que o pacote não
teria impacto no crescimento
econômico e no volume crescente de financiamentos.
O vice-presidente da Acrefi
(Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimentos), José
Arthur Assunção, afirma que o
pacote não vai sequer "jogar
água na fervura do crédito". Ele
argumenta que o aumento do
nível de emprego e de renda vai
sustentar a elevação do consumo e do crédito, mesmo com a
alíquota mais alta do imposto.
Isto porque, diz Assunção, o
consumidor está mais preocupado com o tamanho da prestação do que dos juros a serem
pagos. "Ninguém vai deixar de
comprar um carro porque a
prestação aumentou R$ 10."
Simulação feita pela gestora
de recursos Quest Investimentos, do ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, mostrou que o valor da prestação de um veículo
de R$ 30.000,00 financiado subiria R$ 13, para R$ 899,80.
A consultoria mostrou também que o aumento do IOF
substituiu uma elevação de
quase um ponto percentual na
taxa Selic. Braga, do Ibmec, admite que, teoricamente, o aumento de carga tributária tem o
mesmo efeito da política monetária, neste caso, da alta dos juros na economia. Mas afirma
que este resultado no curto
prazo seria quase nulo.
Ele concorda com o vice-presidente da Acrefi de que o consumidor, principalmente de
classe média e baixa, está com
poder de compra maior e não
deixará de fazer empréstimos
por causa do aumento do IOF.
Braga lembra, ainda, que o
BC não sinalizou no final do
ano passado a possibilidade de
ter que aumentar a Selic neste
ano. Ao contrário, a previsão do
mercado financeiro era de queda da taxa básica de juros no segundo semestre de 2008. "Nem
o governo nem o BC sinalizaram que havia risco para a inflação a ponto de a autoridade
monetária ter que elevar a Selic", conclui.
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