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LUÍS NASSIF
O investimento externo e a poupança
No chamado mercado há
três classes de profissionais: os estrategistas, os economistas e os operadores. Os primeiros tentam pensar a economia mundial e as nacionais de
forma sistêmica, valendo-se
bastante da intuição e do conhecimento para entender as
inter-relações entre setores e
países. Os segundos trabalham
com métodos quantitativos,
sendo uma espécie de linha auxiliar dos estrategistas. Já os
operadores são os que não querem saber muito de conversa.
Percebem para onde os ventos
caminham e vão atrás, sem esperar por explicações mais sofisticadas dos estrategistas e economistas.
Pois os operadores -com exceção dos bancos de investimentos norte-americanos- já não
acordam de manhã olhando as
taxas longas dos títulos americanos. Primeiro olham para a
China e a Ásia. Depois, pela Europa. Só então vão olhar a economia norte-americana.
Não que os EUA tenham deixado de ser potência, mas sua
economia não conduz mais a
economia mundial. Na cabeça
objetiva dos operadores, o centro é a China e, momentaneamente, os países emergentes
-pela possibilidade de uma enxurrada de dólares atrás das
perspectivas de crescimento dos
países saudáveis, ou dos juros
elevados dos países doentes.
E aí se entra em uma questão
tabu: vale a pena o Brasil continuar recebendo essa enxurrada
de dólares, com a redução do
custo Brasil?
Há um setor claramente beneficiado pela melhoria do rating
que são as empresas brasileiras
com acesso a crédito internacional. Nesse grupo, há três tipos de
empresa: as que utilizam esses
recursos internamente, como
substituto do crédito interno; as
que utilizam para financiamento de exportações e/ou importações e as que utilizam para investimentos no exterior.
A captação externa seria relevante se, por meio do instrumento da arbitragem, permitisse uma redução das taxas internas, para acompanhar as externas. Mas o que o Tesouro faz de
dia o Banco Central desfaz à
noite.
Sejam quais forem os beneficiários, se a captação não for para exportação ou para financiar
importação, ou para investimentos externos, será que o país
teria a ganhar mantendo esse
fluxo? Há o chamado efeito-substituição quando o BC aumenta as reservas -emite reais
para comprar os dólares e depois emite títulos para enxugar
os reais. Se não compra, há a
apreciação do câmbio.
Há poupança interna suficiente para financiar o desenvolvimento. Neste mês mesmo, o
Tesouro começará a troca de
LFTs (pós fixadas) por LTNs
(prefixadas). Em breve, os prazos se esticarão e se acabará
com essa jabuticaba brasileira,
de um investimento sem risco,
com liquidez total e rentabilidade absurda -os títulos públicos.
É hora de começar a pensar
nesse novo mundo que vem por
aí. Com a redução das taxas de
juros e a mudança de pós para
pré dos títulos, com a ampliação
dos prazos, poderá haver uma
mera troca de ativos, ou se poderá canalizar esse dinheiro para a produção.
Provavelmente, não na fórmula "bife a cavalo" proposta
ontem pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci -em que
os contribuintes entram com a
carne, e o BC com o ovo da política monetária.
E-mail:
Luisnassif@uol.com.br
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