|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
País precisa de cem novas usinas de etanol até 2010
Estimativa é de estudo do BNDES para atender somente o mercado interno
Desembolsos do banco para o setor cresceram 248,27% em três anos; carteira de projetos em análise
já soma R$ 7 bilhões
Joel Silva - 5.jan.05/Folha Imagem
|
Tanque de álcool combustível em usina em Sertãozinho, na região nordeste de São Paulo |
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
MAURO ZAFALON
DA REPORTAGEM LOCAL
O país precisa construir cem
novas usinas até 2010 para a
produção de mais 8 bilhões de
litros de álcool, diz estudo do
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social). A capacidade atual já é
de 17 bilhões de litros.
Segundo a estimativa do banco, esse seria o patamar necessário para atender a evolução
da demanda interna, principalmente com o aumento do número de carros flex.
O tamanho médio de cada
nova usina seria de 1,8 milhão
de toneladas de cana, de acordo
com o estudo. Dados do mercado já apontam projetos de 77
usinas até 2012. Atualmente
existem 248 usinas na região
Centro-Sul e 88 no Nordeste.
A produção de cana-de-açúcar, que está em 425 milhões de
toneladas, deverá atingir 685
milhões na safra de 2012/13.
O setor de etanol é um dos
destaques na procura por financiamentos do BNDES. Em
2004, o banco desembolsou R$
580 milhões. Em 2006, R$ 2,02
bilhões, alta de 248,27%.
"O etanol é uma coqueluche
no mundo inteiro. Além do
problema econômico e ambiental existe também o fator
estratégico, já que você reduz a
dependência de petróleo de
países concentrados em regiões politicamente instáveis",
disse Carlos Gastaldoni, assessor da presidência do banco.
Os custos de financiamento
do banco foram reduzidos em
razão da queda da TJLP (Taxa
de Juros de Longo Prazo),
atualmente em 6,5% ao ano. O
banco cobra juros de 2% ao ano
para projetos da indústria, de
1,5% para aquisição de equipamentos e de 1% para projetos
de bioeletricidade.
A carteira de projetos da área
nas mais diversas etapas de trâmite no banco, como enquadramento, análise e contratação, soma R$ 7 bilhões em financiamentos. Os projetos requerem investimentos totais
de R$ 12 bilhões.
Dados do mercado apontam
que a produção de etanol é rentável enquanto o petróleo estiver acima de US$ 36. Está hoje
na faixa de US$ 58.
Na análise do banco, a expansão do setor deverá ocorrer por
meio de empresas tradicionais
do segmento e de novos investidores, inclusive estrangeiros.
O cenário desenhado pelo
banco prevê a manutenção dos
preços elevados do petróleo, a
necessidade de diversificação
da matriz energética mundial e
a preocupação com os efeitos
ambientais negativos da queima de combustíveis fósseis.
Nesse contexto, o Brasil teria
condições de liderar a produção de etanol. A idéia não é concentrar a produção aqui, mas
criar alternativas em outros
países. Segundo o banco, o Brasil tem condições de liderar a
produção com os custos mais
competitivos do mundo e produtividade de 70 toneladas por
hectare. Dados de 2004 mostram que o Brasil respondeu
por 36% da produção de etanol.
Os EUA, que usam mais o milho, ficaram com 33%.
"O Brasil pode contribuir decisivamente para uma meta de
10% de substituição da gasolina
no cenário mundial [220 bilhões de litros]", afirma o banco. Se o país conquistar 50%
desse mercado, terá que multiplicar por sete sua produção de
etanol, algo em torno de 110 bilhões de litros.
Na avaliação de Gastaldoni, o
êxito da colocação do etanol no
mercado internacional deve
ocorrer com a mistura do combustível à gasolina.
"Para usar o carro flexível,
tem que ter uma bomba específica, muda toda a logística de
distribuição do produto. Com a
mistura à gasolina, a estrutura
econômica dos outros países
não muda. É possível queimar
menos petróleo e com preço
mais baixo", disse.
Texto Anterior: Alexandre Schwartsman: Cui bono? Próximo Texto: Secretário dos EUA diz que país pode criar reserva de combustível Índice
|