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IMPOSTOS
Deputados repudiam taxação de exportações agrícolas
Ruralistas ameaçam votar contra a CPMF
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
A bancada ruralista no Congresso (parlamentares de vários partidos
que defendem
os interesses dos
produtores agrícolas) está ameaçando o governo
de se juntar à oposição contra a
emenda constitucional que cria a
CPMF.
Dois líderes do grupo disseram
que essa será a consequência, caso
produtos agrícolas sejam taxados
com imposto sobre exportação.
O motivo que desencadeou a
ameaça de rebelião contra uma das
medidas mais importantes do
ajuste fiscal acertado entre o Brasil
e o Fundo Monetário Internacional foi uma interpretação exagerada de um item da pauta da reunião
ministerial de quinta-feira da Câmara de Comércio Exterior.
No encontro, discutiu-se a possibilidade de se taxar em 3% as exportações de grãos de soja.
O assunto tem estado na pauta da
Câmara há meses. A indústria de
derivados de soja quer que o imposto seja aplicado para que os
seus produtos tenham mais competitividade nos mercados interno
e externo.
A Argentina, por exemplo, é um
país que usa essa política.
Quando o assunto foi discutido
na Câmara, um dos participantes
levantou a possibilidade de que
outros produtos agrícolas também
pudessem vir a ser taxados.
Nenhuma decisão foi tomada sobre a soja ou qualquer outro produto. Mas as versões que circularam em Brasília sobre a possibilidade de mais impostos inflamaram os parlamentares ruralistas.
"Se fizerem isso contra os agricultores, que carregaram o Plano
Real nas costas, será um crime de
lesa-pátria", disse à Folha o deputado Abelardo Lupion (PFL-PR).
"Seria uma burrice, uma leviandade, que, se acontecer, vai colocar
a bancada ruralista na oposição ao
governo em todos os itens da pauta
do Congresso", afirmou.
O deputado Nelson Marquezelli
(PTB-SP) não foi menos enfático:
"A bancada ruralista não vai aceitar pacificamente" a taxação de
produtos agrícolas exportados.
O raciocínio que embasa a suposição de que esses impostos virão é
que a alteração cambial favorece a
exportação e os produtos que mais
rapidamente se beneficiarão dela
serão as "commodities" agrícolas
(soja, milho, café, açúcar, entre outras), que precisam de menos tempo para se posicionar no mercado
internacional.
Em consequência, teme-se possível desabastecimento do mercado
interno, seguido de aumento de
preços e explosão inflacionária.
O Ministério da Fazenda dispõe
de instrumentos legais para usar
impostos regulatórios para impedir que isso aconteça.
Mas os ruralistas não admitem
essa hipótese. Marquezelli diz que,
se houver ameaça de desabastecimento (que ele acha improvável),
o governo dispõe do recurso de
impor quotas de produção para o
mercado interno, opção mais aceitável para os ruralistas.
Não se sabe ao certo o tamanho
da bancada ruralista. Lupion diz
que eles são 170, Marquezelli fala
em 208. É provável que não cheguem a 110. Mas, de qualquer modo, são um peso significativo.
Imposto verde
A aprovação da emenda constitucional que recria a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) por 36 meses exige três quintos dos votos da
Câmara em duas votações. No Senado, a medida já foi aprovada.
Para o governo, a CPMF é vital, e
os ruralistas não são a única ameaça à sua aprovação.
O PMDB, que faz parte da base
parlamentar do governo, também
está condicionando o seu apoio a
uma medida que encontra oposição no próprio governo, em especial no Ministério da Fazenda.
Trata-se do chamado "imposto
verde" sobre a gasolina, que vai gerar recursos específicos para o Ministério dos Transportes, do peemedebista Eliseu Padilha.
O "imposto verde" (chamado pelos adversários de "imposto preto"
porque vai financiar asfaltamento
de estradas) é uma fonte de prestígio político para o PMDB e de
pressões inflacionárias.
Líderes do PFL e o PSDB, outros
dois partidos da base governista,
estão irritados com a atitude dos
peemedebistas. O PMDB, que saiu
das eleições com 83 deputados
(terceira maior bancada da Câmara), chegou a 94 (um a mais que o
PSDB) devido a parlamentares que
trocaram de partido por motivos
considerados suspeitos por muitos
no PSDB e no PFL.
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