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Para o Ministério do Trabalho e analistas, crescimento será retomado sem que haja recomposição proporcional de vagas
Desemprego só cai em 2005, dizem analistas
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A esperada queda do desemprego deverá ficar, mais uma vez, para o próximo ano. Na avaliação de
especialistas ouvidos pela Folha,
o Brasil passará pela mesma situação que os EUA já experimentaram no passado recente. O ritmo
do crescimento econômico será
retomado, mas sem que haja recomposição proporcional dos
postos de trabalho -o chamado
"jobless recovery".
O secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho,
Paul Singer, admite que os setores
formais não proporcionarão aumento do nível de emprego em
2004. "Na queda da conjuntura,
os empresários esperam antes de
demitir. Na recuperação, esperam
até começar a admitir."
Os economistas Edward Amadeo, Delfim Netto e Ricardo Carneiro apontam três fatores para o
desemprego não cair em 2004.
Primeiro: vários setores da indústria ainda trabalham com alto
grau de capacidade ociosa instalada. Assim, poderiam atender a
um aumento de demanda, em um
primeiro momento, sem precisar
contratar novos funcionários.
A segunda razão seria o efeito
que a retomada do crescimento
costuma ter sobre os desempregados desmotivados. O aumento
da oferta de trabalho em alguns
setores, como serviços, seria o suficiente para animar os desiludidos a voltar a procurar emprego,
o que pressionaria a taxa.
"O chefe de família vai sempre
procurar emprego. Mas os mais
novos e os mais velhos, que têm
maior dificuldade de ingressar ou
de se recolocar no mercado de
trabalho, vão se sentir mais animados a buscar emprego novamente", disse Amadeo.
Como as estatísticas oficiais de
desemprego não consideram desempregados os que deixam de
procurar trabalho durante determinado tempo, o retorno de muitos dos desocupados para as filas
das agências de emprego contribuiria para a manutenção da alta
taxa de desemprego, mesmo que
houvesse alguma melhora na
oferta de postos de trabalho.
Por último, o governo não conseguiria pôr em prática neste ano
as medidas anunciadas para gerar
emprego, como o aumento dos
investimentos em infra-estrutura
e saneamento básico. As novas regras para estimular a construção
civil, setor que mais emprega no
país, também não teriam tempo
suficiente de maturação para este
ano. "O governo deveria parar de
anunciar medidas e executar os
projetos", disse Delfim.
Peças importadas
Para Ricardo Carneiro, além do
alto grau de capacidade ociosa, o
nível de emprego na indústria não
aumentará em 2004 também por
outro motivo. Segundo ele, as linhas de produtos manufaturados
(eletroeletrônicos e automóveis)
feitos (ou montados) no país contam com elevado nível de peças e
componentes importados. "Antes de gerar empregos aqui, a indústria vai exportá-los."
Carneiro critica o otimismo do
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, de projetar
em termos anuais a taxa de crescimento verificada no último trimestre de 2003 sobre os três meses antecedentes. Segundo Meirelles, a expansão de 1,5% no último
trimestre corresponderia a uma
taxa anualizada superior a 6%.
"Fiquei pasmo ao ouvi-lo falar
aquilo", disse. Carneiro acha que
o crescimento ocorreu basicamente nos setores de bens de consumo duráveis. Mas isso se deu
sobretudo devido às promoções
que a indústria automobilística
realizou para reduzir o alto nível
dos estoques, embalada pela redução do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado). Neste mês,
a alíquota voltou ao normal. "O
crescimento nas vendas de carros
não vai se manter."
Para Delfim Netto, "a recuperação do emprego neste ano será
muito difícil". Ele disse que só
ocorreria se houvesse um crescimento muito robusto, o que não é
esperado nem pelo governo, que
estima expansão do PIB de 3,5%.
Na avaliação de Amadeo, o setor de serviços, como comunicações, transportes e logística, é que
deve responder por algum aumento da oferta de empregos. "Se
a produção aumenta, as mercadorias precisam ser transportadas. Mas tudo [maior oferta de
empregos] vai depender de quão
confiantes estarão os empresários
na recuperação da economia",
disse.
Amadeo também não acredita
que a solução virá das obras de saneamento, que dependem da liberação de dinheiro público.
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