|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GIRO EM FALSO
Governo admite que desemprego pode não cair em 2004; 39,8% dos ocupados trabalham mais de 44 horas semanais
Economia vive "síndrome" da hora extra
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As pessoas que preservaram
seus empregos durante o crescimento pífio da economia brasileira nos últimos 15 anos estão trabalhando muito mais.
Em 2002, cerca de 31 milhões de
brasileiros -ou 39,8% da população ocupada- trabalhavam
mais do que 44 horas semanais.
Em 1988, quando entrou em vigor a jornada legal de 44 horas, esse número era de apenas 16,1 milhões de trabalhadores (27,4%
dos ocupados).
Os cálculos são da Secretaria do
Trabalho da Prefeitura de São
Paulo, com base em dados da
Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios) do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística).
"Uma dose não exagerada de
hora extra não é ruim, é sinal de
aquecimento econômico", afirma
Fabio Silveira, diretor da MS Consult. "Mas, quando a hora extra é
crônica e crescente, como estamos observando, é sintoma de
disfunção da economia."
Na avaliação de especialistas
ouvidos pela Folha, o uso de horas extras alastrou-se de tal maneira que a prática tende a inibir
contratações mesmo se a economia recuperar-se em 2004.
Segundo eles, o mercado de trabalho brasileiro passará por uma
situação similar à dos EUA, onde
a expansão econômica ocorre
sem a recomposição proporcional dos postos de trabalho.
O secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho,
Paul Singer, reconhece que não
haverá aumento do nível de emprego nos setores formais da economia em 2004.
"Na queda da conjuntura, os
empresários esperam antes de demitir. Na recuperação, esperam
até começar a admitir", disse ele.
Os economistas Edward Amadeo, Delfim Netto e Ricardo Carneiro prevêem que o desemprego
não deva cair em 2004.
Segundo Delfim, o desemprego
só cairia se o PIB (Produto Interno Bruto) crescesse a um ritmo
muito maior do que os 3,5% previstos oficialmente.
O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, admite que o desemprego estatístico pode não cair em
2004, já que uma eventual retomada poderia estimular desocupados a buscar empregos, pressionando a taxa. "Mas este é um
ano eleitoral, em que o conjunto
de Estados e municípios tem um
volume de investimento maior."
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Desemprego só cai em 2005, dizem analistas Índice
|