São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BEBIDAS

InterbrewAmBev consolida tendência de concentração; mercados latino, chinês e do Leste Europeu têm maior expansão

Emergentes atraem gigantes da cerveja

MARCELO SAKATE
DA REDAÇÃO

O interesse da belga Interbrew pela brasileira AmBev, que resultou na criação da maior fabricante de cerveja do mundo, consolida tendência de expansão das maiores cervejarias mundiais rumo aos países emergentes.
Pesquisas mostram que o consumo de bebidas tem crescido mais nas economias em expansão do que nos já saturados mercados norte-americano e europeu.
Nos anos 90, o mercado de cerveja no mundo teve crescimento de 2%, liderado pela região da Ásia e do Pacífico, cuja taxa foi o dobro da média global. A China foi o motor dessa expansão.
Em 2002, o país ultrapassou os Estados Unidos para se tornar o maior mercado mundial, com estimados 24 bilhões de litros de cerveja consumidos. Entre 1999 e 2002, o consumo no país cresceu cerca de 3,5 bilhões de litros, de acordo com a consultoria Canadean, especializada no ramo.
Enquanto o mercado chinês expandiu mais de 15% no período, o norte-americano subiu 3%.
E o potencial de ganho é promissor, pois o consumo per capita ainda está longe das primeiras colocações. Em 2001, cada chinês bebia menos de 20 litros por ano, o que não conferia ao país uma posição nem entre os "top 30". Na líder República Tcheca, por exemplo, o consumo anual por cabeça era de 158,1 litros, segundo a consultoria Euromonitor.
Para os próximos cinco anos, a instituição prevê que o segmento da cerveja tipo lager, o principal para as vendas, cresça 15% na média mundial. Porém os principais mercados, EUA/Canadá e Europa Ocidental, são menos promissores e devem ter alta de 1,9% e 1,3%, respectivamente. Na América Latina, a estimativa é de 14%.
Não por acaso, a SAB (South African Breweries), ao comprar a Miller Brewing, segunda maior fabricante norte-americana, em maio de 2002, levou no pacote a Pilsner Urquell e a Castle Lager, populares no Leste Europeu e na África, respectivamente. Essas regiões são as outras duas com maior potencial de expansão.
Mas havia mais em jogo por trás da aquisição da sexta maior cervejaria do mundo (Miller) pela quarta. "As duas maiores fabricantes possuem juntas só 20% do mercado mundial. A Miller precisa aumentar sua participação global para seguir competitiva", explicou na época o presidente-executivo da Philip Morris, Louis Camilleri, então dona da Miller -vendida por US$ 5,6 bilhões.
Hoje as duas líderes em volume produzido têm 25% do mercado: a InterbrewAmBev possui 14%, e a norte-americana Anheuser-Busch (A-B), 11%.
Em 2003 -um ano depois de comprar a Miller-, a SAB-Miller ainda tinha apetite. Comprou entre 51% e 60% do controle da Peroni, líder na Itália (com 25% das vendas no país), o que lhe permitiu entrar em um dos dois mercados da Europa Ocidental que ainda crescem (o outro é o espanhol).
A holandesa Heineken, com presença na China, nos EUA e na África, adquiriu em junho passado a austríaca BBAG, o que lhe rendeu a liderança na Europa Central. No Brasil, a empresa está presente por meio da Molson, controladora da Kaiser.
Entre as gigantes do setor, a belga Interbrew foi quem se mostrou mais ambiciosa, tendo adquirido mais de 30 empresas desde o início da década passada. Há três anos, em um intervalo de apenas duas semanas, ela comprou duas alemãs, a Diebels e a Beck's.

Jóia da coroa
Mas faltava presença maior na América Latina. Quinta produtora mundial, a Ambev era tida como uma "jóia da coroa", expressão utilizada pelo diretor-executivo da Interbrew, John Brock, ao explicar o interesse pela "aliança" (termo usado pelas duas companhias) na quarta-feira.
Responsável por cerca de dois terços das vendas de cerveja no mercado brasileiro (o quarto maior do mundo em volume, com 8,4 bilhões de litros em 2001), a AmBev também é a líder na América Latina. A Skol, de sua propriedade, é a terceira marca mais vendida no mundo, atrás apenas da Budweiser e da Bud Light, ambas da A-B.
"Depois de olhar com atenção, a fusão agora parece melhor: você agora tem um líder mundial com boas margens [de lucro] e melhores oportunidades de crescimento", afirmou Marc Leemans, do banco KBC Securities.
Analistas classificaram a venda como uma oportunidade perdida pela A-B, então líder mundial em vendas -ainda é a primeira em receita, com US$ 14 bilhões em 2003, ante US$ 12 bilhões somados da Interbrew e da AmBev.
Mas mesmo a líder do mercado norte-americano, onde estão concentrados 80% de seu faturamento, tem investido no exterior. Com aquisições esparsas nos últimos dez anos, a A-B já detém 50,2% do Grupo Modelo, líder no México, embora não tenha o controle administrativo. Ela possui ainda 9,9% da maior cervejaria chinesa, a Tsingtao Brewery.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Tributação: Valores "congelados" elevam IR sobre bens
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.