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VINICIUS TORRES FREIRE
O problema de Bush com o álcool
Além da oferta de miçangas, visita pode não render mais que vagos acordos científicos no álcool e politiquices
BUSH foi mão-de-vaca na distribuição de miçangas aos nativos, nós. As ataduras que
prometeu são fichinha diante dos
petrodólares populistas do novo
"guia genial dos povos", Hugo Chávez. O que Bush veio fazer além de
faturar a mercê que oferece a Lula, a
"photo opportunity", e o tradicional
"tour" de responsabilidade social, a
nova versão do chá de caridade?
Álcool? Os produtores brasileiros
dizem que a visita de Bush é política.
Como se sabe, Bush não tem como
atropelar a bancada ruralista dos
EUA e suas tarifas de importação do
álcool do Brasil. Embora os EUA já
levem mais da metade das exportações brasileiras de álcool, parte do produto nacional tem de ser vendida via triangulação, pelo Caribe e América Central.
O Caribe pode vender aos EUA o
equivalente a 7% do consumo americano de álcool, sem tarifa de importação (trata-se de um incentivo à
indústria da região, a "Caribbean
Basin Initiative"). O bloco Caribe-América Central é o segundo maior
importador de álcool do Brasil.
Americanos e brasileiros instalam
usinas no Caribe e na América Central a fim de converter em álcool anidro o hidratado que compram do
Brasil e exportá-lo para os EUA. A
trading brasileira Coimex fez uma
usina na Jamaica. A Crystalsev e a
Cargill desidratam álcool em El Salvador. Juntas, reciclam mais de 300
milhões de litros de álcool, 10% da
exportação brasileira. Projetam
mais usinas. Os equipamentos industriais são paulistas, da Dedini, de
Piracicaba, e da Sermatec, de Sertãozinho. É negócio. O Itamaraty
auxilia a expansão caribenha.
Bush quer que os brasileiros ajudem a criar um mercado mundial de
álcool. Que o Brasil exporte tecnologia de agricultura tropical a fim de
implantar fazendas de cana nas
Américas, na África e no sul da Ásia.
Também seria do interesse do Brasil
poder importar álcool, a fim de regular a oferta em momentos de crise,
diz Heloisa Burnquist, especialista
em economia da cana na escola de
agricultura da USP, a Esalq.
O Brasil pode se beneficiar da pesquisa americana sobre a conversão
de bagaço e palha em álcool, diz Heloisa (o Brasil também pesquisa,
mas tem muito menos dinheiro). Isso é coisa para 2010, porém.
Mas o produtor brasileiro não
quer produzir alhures. As condições
ambientais, técnicas e de mercado
são muito superiores no Brasil, que
ainda tem terras disponíveis, as únicas no mundo "prontas" para a expansão da cana. De resto, parte dos
brasileiros desconfia do negócio caribenho. Por ora, é um desvio razoável. E se a tarifa americana cai, o que
fazer com o investimento?
O mercado seguirá o caminho do
seu interesse e as tarifas barram o
aumento do comércio com os EUA.
Se Bush ficar em vagos "protocolos
de cooperação científica", a visita
tende a ser outro fiasco diplomático
de Lula. Lembram da China? Pfui.
vinit@uol.com.br
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