São Paulo, domingo, 07 de março de 2010

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Inovação vem das adversidades, diz autor

DE JERUSALÉM

Um livro lançado nos EUA tenta explicar como um país menor que Sergipe, com apenas 7 milhões de habitantes e constantemente em guerra tornou-se um dos maiores celeiros tecnológicos do mundo.
Para escrever "Start-Up Nation" ("A Nação "Startup'", ainda sem tradução para o português), os americanos Saul Singer e Dan Senor fizeram centenas de entrevistas e mergulharam em pesquisa histórica para explicar um milagre econômico geralmente ofuscado pelas notícias sobre o conflito na região de Israel.
Em entrevista à Folha num café de Jerusalém, onde vive, o jornalista Singer contou que o motor do fenômeno é uma cultura de empreendedorismo que tem origem na história judaica, é forjada no serviço militar e gera uma inesgotável fonte de inovação que coloca Israel à frente de gigantes como China, Índia e Japão em número de empresas de tecnologia.

 


FOLHA - O que explica a enorme fecundidade do setor de tecnologia israelense?
SAUL SINGER
- Uma teia cultural com muitos atributos diferentes. Entre eles a história dos judeus e de Israel, as permanentes condições adversas, os boicotes e guerras, a imigração, os poucos recursos naturais. Tudo isso convergiu para formar uma cultura que é ao mesmo tempo inovadora e também empreendedora.
Há países que são tão inovadores quanto Israel no que diz respeito ao número de patentes, como Japão e Coreia do Sul. Mas neles as pessoas criativas tendem a trabalhar em grandes empresas. Em Israel elas abrem uma "startup". Países como Brasil têm alto nível de empreendedorismo, mas isso não se traduz em igual volume de inovação tecnológica.

FOLHA - Como isso ajudou a proteger Israel da crise?
SINGER
- Um economia baseada em "startups" é menos vulnerável a crises, pois essas empresas não precisam de muito dinheiro para surgir. Como um país de 7 milhões de pessoas capta 2,5 vezes mais capital de risco per capita do que os EUA?
Não é que a crise não afetou Israel, mas afetou menos. Em 2009, o capital de risco caiu em Israel 40%, mas a queda foi de 59% nos EUA. Toda vez em que há uma crise, Israel aumenta sua fatia de captação de capital. Além disso, "startups" tendem a surgir em épocas de vacas magras, como aconteceu com a Microsoft e o Google.

FOLHA - Qual o papel do Exército israelense?
SINGER
- O mais interessante é seu papel social e cultural. Não falamos só de tecnologias civis desenvolvidas em projetos militares, o que acontece em muitos outros países. O que o Exército israelense tem é uma experiência diferente, não é universidade, não são negócios, é algo entre os dois.
Isso dá maturidade, produz liderança, trabalho em equipe, improvisação, um sentido de missão, todos elementos muito fortes da cultura. Sempre pensamos na estrutura militar com uma hierarquia sólida, formal, de cima para baixo, mas em Israel isso só existe no treinamento básico.
Depois, é tudo muito informal, oficiais de 22 anos tratam generais pelo primeiro nome. Você é ensinado a seguir a sua cabeça, não só a cumprir ordens, e é forçado a improvisar.

FOLHA - Como isso conduz ao empreendedorismo?
SINGER
- O mundo do "startup" também é não hierárquico, não respeita regras. Os israelenses terminam o serviço militar e encontram o mesmo ambiente fora. Além disso, o Exército tem unidades específicas voltadas para a tecnologia. A mais conhecida é a unidade 8200, cujo objetivo é desenvolver alta tecnologia para fins de inteligência, mas que acaba gerando ideias para fins civis.
Há muitos exemplos, como a FraudSciences, empresa israelense que detecta fraudes de cartões de crédito [foi vendida em 2008 para o Ebay por US$ 169 milhões]. Eles usaram tecnologia feita para localizar terroristas na internet para pegar fraudes.
(MN)


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