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Inovação vem das adversidades, diz autor
DE JERUSALÉM
Um livro lançado nos EUA
tenta explicar como um país
menor que Sergipe, com apenas 7 milhões de habitantes e
constantemente em guerra tornou-se um dos maiores celeiros
tecnológicos do mundo.
Para escrever "Start-Up Nation" ("A Nação "Startup'", ainda sem tradução para o português), os americanos Saul Singer e Dan Senor fizeram centenas de entrevistas e mergulharam em pesquisa histórica para
explicar um milagre econômico geralmente ofuscado pelas
notícias sobre o conflito na região de Israel.
Em entrevista à Folha num
café de Jerusalém, onde vive, o
jornalista Singer contou que o
motor do fenômeno é uma cultura de empreendedorismo
que tem origem na história judaica, é forjada no serviço militar e gera uma inesgotável fonte de inovação que coloca Israel
à frente de gigantes como China, Índia e Japão em número
de empresas de tecnologia.
FOLHA - O que explica a enorme fecundidade do setor de tecnologia israelense?
SAUL SINGER - Uma teia cultural
com muitos atributos diferentes. Entre eles a história dos judeus e de Israel, as permanentes condições adversas, os boicotes e guerras, a imigração, os
poucos recursos naturais. Tudo
isso convergiu para formar
uma cultura que é ao mesmo
tempo inovadora e também
empreendedora.
Há países que são tão inovadores quanto Israel no que diz
respeito ao número de patentes, como Japão e Coreia do
Sul. Mas neles as pessoas criativas tendem a trabalhar em
grandes empresas. Em Israel
elas abrem uma "startup". Países como Brasil têm alto nível
de empreendedorismo, mas isso não se traduz em igual volume de inovação tecnológica.
FOLHA - Como isso ajudou a proteger Israel da crise?
SINGER - Um economia baseada em "startups" é menos vulnerável a crises, pois essas empresas não precisam de muito
dinheiro para surgir. Como um
país de 7 milhões de pessoas
capta 2,5 vezes mais capital de
risco per capita do que os EUA?
Não é que a crise não afetou
Israel, mas afetou menos. Em
2009, o capital de risco caiu em
Israel 40%, mas a queda foi de
59% nos EUA. Toda vez em que
há uma crise, Israel aumenta
sua fatia de captação de capital.
Além disso, "startups" tendem
a surgir em épocas de vacas magras, como aconteceu com a
Microsoft e o Google.
FOLHA - Qual o papel do Exército
israelense?
SINGER - O mais interessante é
seu papel social e cultural. Não
falamos só de tecnologias civis
desenvolvidas em projetos militares, o que acontece em muitos outros países. O que o Exército israelense tem é uma experiência diferente, não é universidade, não são negócios, é algo
entre os dois.
Isso dá maturidade, produz
liderança, trabalho em equipe,
improvisação, um sentido de
missão, todos elementos muito
fortes da cultura.
Sempre pensamos na estrutura militar com uma hierarquia sólida, formal, de cima para baixo, mas em Israel isso só
existe no treinamento básico.
Depois, é tudo muito informal,
oficiais de 22 anos tratam generais pelo primeiro nome. Você é
ensinado a seguir a sua cabeça,
não só a cumprir ordens, e é
forçado a improvisar.
FOLHA - Como isso conduz ao empreendedorismo?
SINGER - O mundo do "startup"
também é não hierárquico, não
respeita regras. Os israelenses
terminam o serviço militar e
encontram o mesmo ambiente
fora. Além disso, o Exército tem
unidades específicas voltadas
para a tecnologia. A mais conhecida é a unidade 8200, cujo
objetivo é desenvolver alta tecnologia para fins de inteligência, mas que acaba gerando
ideias para fins civis.
Há muitos exemplos, como a
FraudSciences, empresa israelense que detecta fraudes de
cartões de crédito [foi vendida
em 2008 para o Ebay por US$
169 milhões]. Eles usaram tecnologia feita para localizar terroristas na internet para pegar
fraudes.
(MN)
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