São Paulo, domingo, 07 de março de 2010

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Cresce pressão contra papel que inflou crise

Especulação em mercado de CDS, que protege credores de moratória, preocupa governos e analistas

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

Cresceu nos últimos dias o número de analistas e autoridades na Europa que pedem a regulamentação -ou a suspensão- do mercado de Credit Default Swaps (CDS), instrumento financeiro criado para que os credores se protejam de uma eventual moratória, mas que tem sido usado como aposta para precipitar a quebradeira.
Com a penitência de Atenas pelos anos de gasto descontrolado já explícita em dois pacotes de cortes drásticos no Orçamento, a atenção de analistas e governos europeus se volta aos poucos para outro "vilão" do drama de turno. E esses derivativos, cuja negociação explodiu nos últimos quatro meses, são o exemplo de quem culpa a especulação por inflar a crise.
O comprador do CDS adquire um contrato pelo qual o vendedor se compromete a ressarci-lo se o país devedor quebrar. Para tanto, ele paga um ágio com base no valor original do título que quer proteger. Se o país não quebrar, o vendedor embolsa o ágio. Se quebrar, tem de pagar ao comprador o valor integral do título em default. É uma apólice de seguro.
O problema é que boa parte desses CDS está sendo comprada por especuladores que apostam no calote.
Fato é que hoje a negociação aumenta o risco de uma moratória, ao inflar juros de títulos. Por conta disso, os governos da França e da Alemanha propuseram que a negociação seja restrita e regulada.
"Não consigo entender como ainda permitem a negociação de CDS para quem não tem os títulos que estão sendo assegurados", escreveu Wolfgang Munchau, colunista de economia do "Financial Times", na semana passada. "Sobretudo na zona do euro, hoje alvo de ataques especulativos, um veto sobre os chamados CDS "pelados" deveria ser óbvio."
Munchau não está sozinho em seu espanto com o avançar desse papel na Europa.
"A atividade no mercado de CDS para a dívida soberana de países desenvolvidos subiu significativamente (...) O mercado era virtualmente inexistente há alguns anos, quando os CDS se concentravam em economias emergentes. Desde então cresceu rapidamente para um volume surpreendente", escreveu o BIS (Banco para Compensações Internacionais, o BC dos BCs), neste mês, em relatório.
Duas coisas no trimestre passado explicam o salto. Em outubro, com a troca de governo na Grécia, veio à tona que a dívida do país era o triplo do que declarava à UE. Um mês antes, um índice que rastreia o mercado europeu de CDS (e permite apostar nele) fora lançado pela consultoria londrina Markit, que opera com grandes bancos europeus e americanos -como o Goldman Sachs, investigado nos EUA por vender os títulos que ajudaram Atenas a maquiar sua dívida.
Procurada pela Folha, a Markit não quis dar entrevista sobre a acusação de incentivar a especulação. Mas enviou um comunicado para dizer que seu índice ajuda o mercado a ser mais transparente. "Nosso índice é objetivo, independente e baseado em regras. Sem ele, as posições poderiam ser tomadas com outros instrumentos."


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