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Cresce pressão contra papel que inflou crise
Especulação em mercado de CDS, que protege credores de moratória, preocupa governos e analistas
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Cresceu nos últimos dias o
número de analistas e autoridades na Europa que pedem a
regulamentação -ou a suspensão- do mercado de Credit Default Swaps (CDS), instrumento financeiro criado para que os
credores se protejam de uma
eventual moratória, mas que
tem sido usado como aposta
para precipitar a quebradeira.
Com a penitência de Atenas
pelos anos de gasto descontrolado já explícita em dois pacotes de cortes drásticos no Orçamento, a atenção de analistas e
governos europeus se volta aos
poucos para outro "vilão" do
drama de turno. E esses derivativos, cuja negociação explodiu
nos últimos quatro meses, são o
exemplo de quem culpa a especulação por inflar a crise.
O comprador do CDS adquire um contrato pelo qual o vendedor se compromete a ressarci-lo se o país devedor quebrar.
Para tanto, ele paga um ágio
com base no valor original do
título que quer proteger. Se o
país não quebrar, o vendedor
embolsa o ágio. Se quebrar, tem
de pagar ao comprador o valor
integral do título em default. É
uma apólice de seguro.
O problema é que boa parte
desses CDS está sendo comprada por especuladores que apostam no calote.
Fato é que hoje a negociação
aumenta o risco de uma moratória, ao inflar juros de títulos.
Por conta disso, os governos da
França e da Alemanha propuseram que a negociação seja
restrita e regulada.
"Não consigo entender como
ainda permitem a negociação
de CDS para quem não tem os
títulos que estão sendo assegurados", escreveu Wolfgang
Munchau, colunista de economia do "Financial Times", na
semana passada. "Sobretudo
na zona do euro, hoje alvo de
ataques especulativos, um veto
sobre os chamados CDS "pelados" deveria ser óbvio."
Munchau não está sozinho
em seu espanto com o avançar
desse papel na Europa.
"A atividade no mercado de
CDS para a dívida soberana de
países desenvolvidos subiu significativamente (...) O mercado
era virtualmente inexistente há
alguns anos, quando os CDS se
concentravam em economias
emergentes. Desde então cresceu rapidamente para um volume surpreendente", escreveu o
BIS (Banco para Compensações Internacionais, o BC dos
BCs), neste mês, em relatório.
Duas coisas no trimestre passado explicam o salto. Em outubro, com a troca de governo
na Grécia, veio à tona que a dívida do país era o triplo do que
declarava à UE. Um mês antes,
um índice que rastreia o mercado europeu de CDS (e permite
apostar nele) fora lançado pela
consultoria londrina Markit,
que opera com grandes bancos
europeus e americanos -como
o Goldman Sachs, investigado
nos EUA por vender os títulos
que ajudaram Atenas a maquiar sua dívida.
Procurada pela Folha, a
Markit não quis dar entrevista
sobre a acusação de incentivar
a especulação. Mas enviou um
comunicado para dizer que seu
índice ajuda o mercado a ser
mais transparente. "Nosso índice é objetivo, independente e
baseado em regras. Sem ele, as
posições poderiam ser tomadas com outros instrumentos."
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