São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2006

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CRISE NO AR

Há resistência à injeção de verba pública, e prioridade é ajudar passageiros; ministérios, aéreas e credores estatais são convocados

Governo faz plano para paralisação da Varig

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O governo resiste a soluções financeiras definitivas para salvar a Varig e já trabalha com a possibilidade real de a empresa parar de voar. O diretor-geral da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Milton Zuanazzi, fez ontem um périplo por três ministérios para acelerar um "plano de contingência" em duas frentes: garantir as linhas e proteger os milhares de consumidores que podem ficar em situação difícil, inclusive no exterior.
Enquanto a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, assumia em regime de emergência o comando das discussões sobre as questões financeiras, Zuanazzi cuidava das questões práticas relativas aos usuários, reunindo-se com ela e com os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores) e Walfrido dos Mares Guia (Turismo).
"Estamos torcendo para que não aconteça [a falência], porque a Varig é uma marca muito importante para todos nós, mas, se acontecer, posso assegurar que os usuários não ficarão desprotegidos", disse à Folha um dos diretores da Anac, Leur Lomanto.
Dilma reuniu-se no final da tarde com os credores estatais da Varig, como Infraero (infra-estrutura aeroportuária), BR Distribuidora e Previdência Social. Ninguém falou ao final da reunião. Conforme a Folha apurou, o governo só admite discutir protelação de alguns pagamentos, mas não quer usar o BNDES para sanear a companhia, que acumula um passivo de R$ 7 bilhões.
Zuanazzi e Amorim reuniram-se no Itamaraty, primeiro sozinhos e depois com uma equipe de assessores e diplomatas para tratar da questão. Estavam preocupados, entre outras coisas, com relatos de ansiedade e temor de brasileiros que estão no Reino Unido com passagens da Varig.
Dois departamentos do Itamaraty cuidam da questão. Um é o Departamento Econômico, responsável pelos acordos governo-a-governo para que companhias aéreas possam operar vôos internacionais no Brasil com base na reciprocidade.
O outro é o Departamento de Assistência às Comunidades Brasileiras no exterior, que ficaria responsável por passageiros surpreendidos pela súbita falta de vôos de volta. Os dois órgãos foram acionados por Amorim, mas o temor no Itamaraty é que se crie uma espécie de pânico no mercado e que o governo seja acusado de prejudicar ainda mais a situação da Varig.
No diagnóstico que a Anac herdou do antigo DAC (Departamento de Aviação Civil), não haverá problemas para reposição de linhas domésticas, porque a Varig já tinha caído para o terceiro lugar (atrás de TAM e Gol) e só detém hoje 14% do mercado interno, descontada a malha que dá continuação a vôos internacionais. Nesse caso, a empresa detém entre 16% e 17% do mercado.
A Anac já se reuniu, na terça e na quarta-feira, com os presidentes da TAM, da Gol, da BRA e da Ocean Air para que se preparem para a eventualidade de assumir linhas da Varig repentinamente. Todas elas já tinham essa perspectiva há algum tempo.
Quanto às rotas internacionais, o maior problema está na Europa. Mas a área técnica do governo avalia que os vôos para o Reino Unido, para a Itália e para a Alemanha, entre outros, poderiam ser automaticamente assumidos por companhias da Star Alliance -o grupo das aéreas do qual a Varig faz parte.
Na América do Sul, também não são previstos problemas, porque há um acordo praticamente fechado em que não há necessidade de reciprocidade. As empresas têm mais liberdade para viajar de um país a outro. Só faltam dois países assinarem o tratado -um deles é a Venezuela.
A mais nova crise da Varig chega num momento em que o controle da aviação civil migra da área militar para a civil, como aconteceu na própria Anac.


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