|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRISE NO AR
Há resistência à injeção de verba pública, e prioridade é ajudar passageiros; ministérios, aéreas e credores estatais são convocados
Governo faz plano para paralisação da Varig
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O governo resiste a soluções financeiras definitivas para salvar a
Varig e já trabalha com a possibilidade real de a empresa parar de
voar. O diretor-geral da Anac
(Agência Nacional de Aviação Civil), Milton Zuanazzi, fez ontem
um périplo por três ministérios
para acelerar um "plano de contingência" em duas frentes: garantir as linhas e proteger os milhares de consumidores que podem ficar em situação difícil, inclusive no exterior.
Enquanto a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, assumia em
regime de emergência o comando
das discussões sobre as questões
financeiras, Zuanazzi cuidava das
questões práticas relativas aos
usuários, reunindo-se com ela e
com os ministros Celso Amorim
(Relações Exteriores) e Walfrido
dos Mares Guia (Turismo).
"Estamos torcendo para que
não aconteça [a falência], porque
a Varig é uma marca muito importante para todos nós, mas, se
acontecer, posso assegurar que os
usuários não ficarão desprotegidos", disse à Folha um dos diretores da Anac, Leur Lomanto.
Dilma reuniu-se no final da tarde com os credores estatais da Varig, como Infraero (infra-estrutura aeroportuária), BR Distribuidora e Previdência Social. Ninguém falou ao final da reunião.
Conforme a Folha apurou, o governo só admite discutir protelação de alguns pagamentos, mas
não quer usar o BNDES para sanear a companhia, que acumula
um passivo de R$ 7 bilhões.
Zuanazzi e Amorim reuniram-se no Itamaraty, primeiro sozinhos e depois com uma equipe de
assessores e diplomatas para tratar da questão. Estavam preocupados, entre outras coisas, com
relatos de ansiedade e temor de
brasileiros que estão no Reino
Unido com passagens da Varig.
Dois departamentos do Itamaraty cuidam da questão. Um é o
Departamento Econômico, responsável pelos acordos governo-a-governo para que companhias
aéreas possam operar vôos internacionais no Brasil com base na
reciprocidade.
O outro é o Departamento de
Assistência às Comunidades Brasileiras no exterior, que ficaria
responsável por passageiros surpreendidos pela súbita falta de
vôos de volta. Os dois órgãos foram acionados por Amorim, mas
o temor no Itamaraty é que se crie
uma espécie de pânico no mercado e que o governo seja acusado
de prejudicar ainda mais a situação da Varig.
No diagnóstico que a Anac herdou do antigo DAC (Departamento de Aviação Civil), não haverá problemas para reposição de
linhas domésticas, porque a Varig
já tinha caído para o terceiro lugar
(atrás de TAM e Gol) e só detém
hoje 14% do mercado interno,
descontada a malha que dá continuação a vôos internacionais.
Nesse caso, a empresa detém entre 16% e 17% do mercado.
A Anac já se reuniu, na terça e
na quarta-feira, com os presidentes da TAM, da Gol, da BRA e da
Ocean Air para que se preparem
para a eventualidade de assumir
linhas da Varig repentinamente.
Todas elas já tinham essa perspectiva há algum tempo.
Quanto às rotas internacionais,
o maior problema está na Europa.
Mas a área técnica do governo
avalia que os vôos para o Reino
Unido, para a Itália e para a Alemanha, entre outros, poderiam
ser automaticamente assumidos
por companhias da Star Alliance
-o grupo das aéreas do qual a
Varig faz parte.
Na América do Sul, também
não são previstos problemas, porque há um acordo praticamente
fechado em que não há necessidade de reciprocidade. As empresas
têm mais liberdade para viajar de
um país a outro. Só faltam dois
países assinarem o tratado -um
deles é a Venezuela.
A mais nova crise da Varig chega num momento em que o controle da aviação civil migra da
área militar para a civil, como
aconteceu na própria Anac.
Texto Anterior: Política monetária: BCE mantém juros em 2,5% ao ano Próximo Texto: Vôos podem ser compartilhados com Ocean Air Índice
|