São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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MERCADO TENSO

Risco-país, indicativo de juros cobrados do país, atinge a maior alta desde dezembro, no pico da crise argentina

Crise tucana eleva risco de investir no Brasil

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise política tucana provocou uma alta da desconfiança dos investidores na economia brasileira e turbulências nos mercados financeiros domésticos.
O risco de investir no Brasil, medido pelo banco JP Morgan, disparou, subindo 3,3%, para 908 pontos, a maior alta desde a crise argentina de dezembro, que resultou na queda do governo de Fernando de la Rúa [leia quadro ao lado sobre o risco-país".
A crise da candidatura do senador José Serra à Presidência foi detonada pelas denúncias contra Ricardo Sérgio, ex-diretor do Banco do Brasil e tesoureiro de campanhas do PSDB.
A cotação dos C-Bonds, títulos da dívida externa brasileira e também um termômetro do humor dos investidores estrangeiros em relação ao país, fechou em baixa de 1,04%. "O mercado doméstico já comentava há dias e até esperava uma capa da "Veja" que daria um banho de água fria na candidatura de Serra", afirma Luiz Antonio Vaz das Neves, da corretora Planner. "A notícia preocupa mais aos olhos dos investidores internacionais."
A Bolsa de Valores de São Paulo, que chegou a cair 2,68% ontem, encerrou o dia em baixa de 1,42%. O dólar que, no pior momento do dia subiu 1,37%, fechou em alta de 0,5%, cotado a R$ 2,42.
Desde a semana passada, amparados por pesquisas que mostraram uma melhora no desempenho do pré-candidato da oposição Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a deterioração do cenário econômico do país, quatro bancos reduziram suas recomendações para a compra de títulos brasileiros: Merrill Lynch, Morgan Stanley, ABN Amro e Santander.
Ontem, o banco americano Goldman Sachs recomendou a seus clientes que reduzam aplicações em ações de bancos, empresas de telecomunicações e energia. Também sugeriu que transferissem investimentos do Brasil para o México.
Para o mercado, a vitória do candidato oficial em tese representa a continuidade da política monetária restritiva (contenção da inflação) e de superávits fiscais, que, nessa versão, torna mais seguros os investimentos no país.
Pedro Thomazoni, diretor de tesouraria do Lloyds TSB, resume o motivo do crescimento das preocupações dos bancos internacionais. "O Lula passou oito anos fazendo duras críticas aos bancos internacionais. A reação deles, embora infantil e precipitada, pois as eleições estão muito distantes, é natural."
O Lloyds TSB foi um dos bancos que, na semana passada, mantiveram inalteradas suas recomendações para os papéis brasileiros -ao lado de JP Morgan, ING Barings, Barclays e Dresdner Bank.
Para Alan Gandelman, da corretora Ágora Sênior, o mercado apenas se ajusta ao cenário eleitoral. "Antes ninguém cogitava uma vitória do Lula. Agora é hora de embutir esse risco nas cotações."

Volatilidade
Como um indicativo de que o mercado vive um período de volatilidade, os mercados de dólar e ações reduziram suas perdas no final do dia. Os ânimos começaram a melhorar após notícias de que o presidente Fernando Henrique encontraria dirigentes do PFL a fim de evitar a abertura de uma CPI para investigar a privatização da Vale do Rio Doce. O mercado especulava que, desse encontro, poderia sair até um novo nome para assumir o posto de atual candidato governista.
Logo em seguida, analistas afirmavam que o mercado iria comemorar com euforia uma eventual desistência de José Serra de disputar as eleições. Pela manhã, os indicadores financeiros pioravam, dada a perspectiva de que a candidatura Serra seria abalada.
O comportamento do dólar também foi atribuído a rumores, confirmados no início da noite pelo Banco Central, de que a instituição ofertaria apenas operações de "swap" cambial sem obrigar o investidor a comprar LFTs.



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