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MERCADO TENSO
Risco-país, indicativo de juros cobrados do país, atinge a maior alta desde dezembro, no pico da crise argentina
Crise tucana eleva risco de investir no Brasil
ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise política tucana provocou
uma alta da desconfiança dos investidores na economia brasileira
e turbulências nos mercados financeiros domésticos.
O risco de investir no Brasil, medido pelo banco JP Morgan, disparou, subindo 3,3%, para 908
pontos, a maior alta desde a crise
argentina de dezembro, que resultou na queda do governo de
Fernando de la Rúa [leia quadro
ao lado sobre o risco-país".
A crise da candidatura do senador José Serra à Presidência foi
detonada pelas denúncias contra
Ricardo Sérgio, ex-diretor do
Banco do Brasil e tesoureiro de
campanhas do PSDB.
A cotação dos C-Bonds, títulos
da dívida externa brasileira e também um termômetro do humor
dos investidores estrangeiros em
relação ao país, fechou em baixa
de 1,04%. "O mercado doméstico
já comentava há dias e até esperava uma capa da "Veja" que daria
um banho de água fria na candidatura de Serra", afirma Luiz Antonio Vaz das Neves, da corretora
Planner. "A notícia preocupa
mais aos olhos dos investidores
internacionais."
A Bolsa de Valores de São Paulo,
que chegou a cair 2,68% ontem,
encerrou o dia em baixa de 1,42%.
O dólar que, no pior momento do
dia subiu 1,37%, fechou em alta de
0,5%, cotado a R$ 2,42.
Desde a semana passada, amparados por pesquisas que mostraram uma melhora no desempenho do pré-candidato da oposição Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
e a deterioração do cenário econômico do país, quatro bancos reduziram suas recomendações para a compra de títulos brasileiros:
Merrill Lynch, Morgan Stanley,
ABN Amro e Santander.
Ontem, o banco americano
Goldman Sachs recomendou a
seus clientes que reduzam aplicações em ações de bancos, empresas de telecomunicações e energia. Também sugeriu que transferissem investimentos do Brasil
para o México.
Para o mercado, a vitória do
candidato oficial em tese representa a continuidade da política
monetária restritiva (contenção
da inflação) e de superávits fiscais,
que, nessa versão, torna mais seguros os investimentos no país.
Pedro Thomazoni, diretor de
tesouraria do Lloyds TSB, resume
o motivo do crescimento das
preocupações dos bancos internacionais. "O Lula passou oito
anos fazendo duras críticas aos
bancos internacionais. A reação
deles, embora infantil e precipitada, pois as eleições estão muito
distantes, é natural."
O Lloyds TSB foi um dos bancos
que, na semana passada, mantiveram inalteradas suas recomendações para os papéis brasileiros
-ao lado de JP Morgan, ING Barings, Barclays e Dresdner Bank.
Para Alan Gandelman, da corretora Ágora Sênior, o mercado
apenas se ajusta ao cenário eleitoral. "Antes ninguém cogitava uma
vitória do Lula. Agora é hora de
embutir esse risco nas cotações."
Volatilidade
Como um indicativo de que o
mercado vive um período de volatilidade, os mercados de dólar e
ações reduziram suas perdas no
final do dia. Os ânimos começaram a melhorar após notícias de
que o presidente Fernando Henrique encontraria dirigentes do
PFL a fim de evitar a abertura de
uma CPI para investigar a privatização da Vale do Rio Doce. O
mercado especulava que, desse
encontro, poderia sair até um novo nome para assumir o posto de
atual candidato governista.
Logo em seguida, analistas afirmavam que o mercado iria comemorar com euforia uma eventual
desistência de José Serra de disputar as eleições. Pela manhã, os indicadores financeiros pioravam,
dada a perspectiva de que a candidatura Serra seria abalada.
O comportamento do dólar
também foi atribuído a rumores,
confirmados no início da noite
pelo Banco Central, de que a instituição ofertaria apenas operações
de "swap" cambial sem obrigar o investidor a comprar LFTs.
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