São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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AGROFOLHA

PECUÁRIA

Raças com sangue zebu são 80% do rebanho brasileiro, o que torna importante a produção de leite desses animais

Gado leiteiro é destaque na Expozebu

JOSÉ SERGIO OSSE
ENVIADO ESPECIAL A UBERABA

O gado zebu leiteiro é um dos destaques da Expozebu deste ano. Fruto de pesquisas e programas de melhoramento de raças, a produtividade das vacas com sangue zebu vem aumentando ano a ano. Além disso, essa mudança, a longo prazo, pode alterar bastante o perfil do rebanho leiteiro brasileiro que, hoje, tem grande participação de raças européias.
As raças zebuínas não são, tradicionalmente, boas produtoras de leite, principalmente em comparação às raças européias, muitas delas desenvolvidas especificamente para essa atividade. Mas, como o gado com sangue zebuíno corresponde a cerca de 80% do rebanho do Brasil, a utilização desses animais para a produção de leite se torna importante, diz Mário Luiz Martinez, chefe adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Gado de Leite.
A Embrapa é um dos órgãos oficiais que têm programas para o melhoramento das raças zebuínas para a produção de leite. O principal, chefiado por Martinez, começou em 1984. Durante o programa, os técnicos da Embrapa selecionam, por comparação, os animais com melhor potencial genético para a produção de leite.
Em 84, antes do início do programa, poucas vacas zebuínas no país produziam mais de 6.000 kg por lactação. Hoje, após o melhoramento genético, alguns animais já produzem mais de 10 mil kg por lactação. Isso ainda não é tão bom quanto o gado de raça holandesa (uma das melhores produtoras de leite), que, em média, produz 9.000 kg por lactação por animal.
"O problema é que o gado europeu, como o holandês, não é adaptado às condições brasileiras e, por isso, é preciso ter cuidados maiores -e mais custosos- com eles", diz Martinez. "Melhorando a produtividade do gado zebu, mais rústico, poderemos não apenas obter ganho na produção dos zebuínos leiteiros puros, mas também nos cruzamentos com gado europeu."
Hoje no Brasil, a raça girolando, mistura do zebuíno gir e do europeu holandês, é a que vem ganhando mais mercado -apesar de sua participação ainda ser pequena, segundo os pecuaristas. Com a mistura, o gado passa a ter mais rusticidade (característica dos zebuínos puros), apesar de perder um pouco em produtividade de leite. O projeto da Embrapa fez com que o aumento de volume de leite obtido pelos zebuínos não tornasse tão grande a perda de produtividade do híbrido.
"Mesmo que a melhora nas raças puras seja pouco significativa economicamente, já que a participação delas é restrita, isso é importante por causa do potencial das raças híbridas", diz Martinez. "A melhora no gado puro acaba, de uma forma ou de outra, chegando aos híbridos e melhorando a produtividade desses animais mais resistentes."

Melhoramento
Essa técnica, conhecida como melhoramento de raça e bastante utilizada no gado de corte, é feita dentro de um sistema desenvolvido pela Embrapa.
A partir do método da empresa, é possível, segundo Martinez, dar uma "nota" para cada animal. Essa nota determina qual o potencial dele ou de seus descendentes de produzir leite. Assim é possível comparar quais animais têm mais aptidão para a produção.
Segundo Martinez, o gado usado no estudo é de propriedade da Embrapa e de fazendas colaboradoras. Mesmo assim, é possível, a longo prazo, adotar as técnicas nas fazendas dos produtores. O problema é o custo: cerca de R$ 50 mil por ano, por animal que passa pelo teste (progênese).
Durante esses 17 anos de pesquisa, foram gastos, de acordo com Martinez, cerca de R$ 220 mil anualmente no programa.
"O custo por animal é alto, mas, no geral, não é tão elevado, ainda mais se considerarmos que é impossível perder os melhoramentos que alcançamos. Afinal, ele está preservado nos genes dos animais", diz Martinez.
Para o produtor comum, que pode gastar tanto com a progênese e que não tem os anos necessários para o levantamento de quais animais são melhores, há a opção de comprar material genético de animais já estudados.
"As vendas de sêmen de animais já testados crescem a cada ano. Em 1993, foram vendidas 80 mil doses, número que pulou para 380 mil no ano passado", diz o pesquisador da Embrapa. "Assim, as melhorias que alcançamos chegam rapidamente ao rebanho comum e se espalham."


O jornalista José Sergio Osse viajou a convite da ABCZ


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