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AGROFOLHA
PECUÁRIA
Raças com sangue zebu são 80% do rebanho brasileiro, o que torna importante a produção de leite desses animais
Gado leiteiro é destaque na Expozebu
JOSÉ SERGIO OSSE
ENVIADO ESPECIAL A UBERABA
O gado zebu leiteiro é um dos
destaques da Expozebu deste ano.
Fruto de pesquisas e programas
de melhoramento de raças, a produtividade das vacas com sangue
zebu vem aumentando ano a ano.
Além disso, essa mudança, a longo prazo, pode alterar bastante o
perfil do rebanho leiteiro brasileiro que, hoje, tem grande participação de raças européias.
As raças zebuínas não são, tradicionalmente, boas produtoras
de leite, principalmente em comparação às raças européias, muitas delas desenvolvidas especificamente para essa atividade. Mas,
como o gado com sangue zebuíno
corresponde a cerca de 80% do rebanho do Brasil, a utilização desses animais para a produção de
leite se torna importante, diz Mário Luiz Martinez, chefe adjunto
de pesquisa e desenvolvimento da
Embrapa (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária) Gado de
Leite.
A Embrapa é um dos órgãos oficiais que têm programas para o
melhoramento das raças zebuínas para a produção de leite. O
principal, chefiado por Martinez,
começou em 1984. Durante o programa, os técnicos da Embrapa
selecionam, por comparação, os
animais com melhor potencial genético para a produção de leite.
Em 84, antes do início do programa, poucas vacas zebuínas no
país produziam mais de 6.000 kg
por lactação. Hoje, após o melhoramento genético, alguns animais
já produzem mais de 10 mil kg por
lactação. Isso ainda não é tão bom
quanto o gado de raça holandesa
(uma das melhores produtoras de
leite), que, em média, produz
9.000 kg por lactação por animal.
"O problema é que o gado europeu, como o holandês, não é
adaptado às condições brasileiras
e, por isso, é preciso ter cuidados
maiores -e mais custosos-
com eles", diz Martinez. "Melhorando a produtividade do gado
zebu, mais rústico, poderemos
não apenas obter ganho na produção dos zebuínos leiteiros puros, mas também nos cruzamentos com gado europeu."
Hoje no Brasil, a raça girolando,
mistura do zebuíno gir e do europeu holandês, é a que vem ganhando mais mercado -apesar
de sua participação ainda ser pequena, segundo os pecuaristas.
Com a mistura, o gado passa a ter
mais rusticidade (característica
dos zebuínos puros), apesar de
perder um pouco em produtividade de leite. O projeto da Embrapa fez com que o aumento de volume de leite obtido pelos zebuínos não tornasse tão grande a perda de produtividade do híbrido.
"Mesmo que a melhora nas raças puras seja pouco significativa
economicamente, já que a participação delas é restrita, isso é importante por causa do potencial
das raças híbridas", diz Martinez.
"A melhora no gado puro acaba,
de uma forma ou de outra, chegando aos híbridos e melhorando
a produtividade desses animais
mais resistentes."
Melhoramento
Essa técnica, conhecida como
melhoramento de raça e bastante
utilizada no gado de corte, é feita
dentro de um sistema desenvolvido pela Embrapa.
A partir do método da empresa,
é possível, segundo Martinez, dar
uma "nota" para cada animal. Essa nota determina qual o potencial dele ou de seus descendentes
de produzir leite. Assim é possível
comparar quais animais têm mais
aptidão para a produção.
Segundo Martinez, o gado usado no estudo é de propriedade da
Embrapa e de fazendas colaboradoras. Mesmo assim, é possível, a
longo prazo, adotar as técnicas
nas fazendas dos produtores. O
problema é o custo: cerca de R$ 50
mil por ano, por animal que passa
pelo teste (progênese).
Durante esses 17 anos de pesquisa, foram gastos, de acordo
com Martinez, cerca de R$ 220
mil anualmente no programa.
"O custo por animal é alto, mas,
no geral, não é tão elevado, ainda
mais se considerarmos que é impossível perder os melhoramentos que alcançamos. Afinal, ele está preservado nos genes dos animais", diz Martinez.
Para o produtor comum, que
pode gastar tanto com a progênese e que não tem os anos necessários para o levantamento de quais
animais são melhores, há a opção
de comprar material genético de
animais já estudados.
"As vendas de sêmen de animais já testados crescem a cada
ano. Em 1993, foram vendidas 80
mil doses, número que pulou para 380 mil no ano passado", diz o
pesquisador da Embrapa. "Assim, as melhorias que alcançamos
chegam rapidamente ao rebanho
comum e se espalham."
O jornalista José Sergio Osse viajou a
convite da ABCZ
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