São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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RASTREABILIDADE

Associação diz que o país não tem como cumprir prazo para certificar processo de identificação animal

Pecuária não vai atender exigência da UE

DO ENVIADO A UBERABA

"O Brasil ainda não está pronto para atender as exigências de rastreabilidade da União Européia e acho difícil que consiga atendê-las a tempo." Essa é a opinião de Nelson Pineda, diretor de Informática da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu). Segundo ele, a demora do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em alguns pontos do processo pode prejudicar o país.
Pineda, que é o principal especialista no assunto da ABCZ, diz que, até agora, nenhuma empresa foi cadastrada pelo Ministério para fazer a certificação dos procedimentos de rastreabilidade.
Os europeus exigem que, até julho, o Brasil seja capaz de identificar cada animal de seu rebanho e, mais que isso, rastrear as informações importantes sobre cada um deles, como vacinas tomadas, data e forma de abate. Além disso, é preciso que a identificação e a rastreabilidade sejam certificadas por empresas cadastradas no Brasil e na Europa.
Outro problema na legislação em vigor apontado por Pineda é que não há a preocupação de adotar um método único para a identificação ou para a rastreabilidade. "É como se tivéssemos um monte de regras diferentes para o mesmo jogo", diz. "Empresas que fornecem os sistemas de rastreabilidade impõem seus próprios métodos de identificação e querem fazer, elas mesmas, a certificação do processo. Um absurdo."
A decisão de que as associações de criadores não podem fazer a certificação da rastreabilidade também não agradou à ABCZ.
"Temos o maior banco de dados sobre genealogia bovina do mundo. Fazemos, sob a tutela do próprio governo, a certificação das raças, e não podemos fazer a certificação da rastreabilidade?", reclama Pineda.
Segundo o diretor da ABCZ, a UE provavelmente vai relaxar o prazo caso o Brasil não consiga se adequar às novas regras em tempo. Se isso não ocorrer, porém, ele crê que o preço da carne vai cair ainda mais no mercado interno por causa do aumento da oferta.

Potencial exportador
Apenas 10% da produção brasileira de carne bovina é exportada, enquanto na Austrália essa cifra chega a 68% da produção. E isso porque o Brasil é o terceiro maior exportador do planeta.
Mas a exploração do potencial brasileiro depende, ainda, da resolução de alguns entraves. Os principais problemas são, para os especialistas, as barreiras fitossanitárias e a falta de financiamento.
"Países na própria América Latina não importam carne brasileira por causa de barreiras sanitárias", diz Sílvio de Castro Cunha Jr., diretor de relações internacionais da ABCZ.
Já a influência da falta de financiamento, segundo Cunha Jr., faz com que se perca a vantagem que os brasileiros têm por causa do baixo preço da arroba no país.
Durante a Expozebu, feira promovida pela ABCZ em Uberaba, cerca de 300 estrangeiros, entre representantes de embaixadas e pecuaristas, discutirão a quebra ou a redução dessas barreiras.
"Sou a favor de que países como a Bolívia e o Brasil sejam complementares na produção e exportação de carne", disse Luis Fernando Saavedra, pecuarista e banqueiro boliviano, durante a feira, na qual lançou um livro sobre a criação de gado em seu país.
Para ele, seria vantajoso para ambos os países trabalharem juntos para reduzir os custos e elevar os lucros. Esse tipo de parceria, segundo Saavedra, também poderia ser firmado com outros países da região, beneficiando a todos. (JOSÉ SERGIO OSSE)


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