São Paulo, domingo, 07 de maio de 2006

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Governo descarta crise e racionamento

DA REPORTAGEM LOCAL

Maurício Tolmasquim, presidente da EPE, nega que o governo seja demasiadamente otimista com a situação de oferta de energia no país e que exista risco futuro de racionamento. (FCZ)
 

Folha - Como conciliar a crise da Bolívia no Plano Decenal?
Maurício Tolmasquim -
O plano não é muito dependente de térmicas a gás. Do total da oferta de energia, 23% são cobertos por térmicas, mas aí estão incluídas a biomassa, o carvão e o gás, que pode ser da Bolívia ou nacional.

Folha - O melhor não é o gás?
Tolmasquim -
O mais barato é a utilização do bagaço da cana.

Folha - Há oferta suficiente?
Tolmasquim -
Não, ela é mais centrada em São Paulo e um pouco no Nordeste. Não há uma oferta suficiente para atender toda a demanda. Depois, teríamos o gás, dependendo do preço. O gás hoje, ao preço que vem da Bolívia, é a fonte mais competitiva.

Folha - Se tivermos um preço na faixa de US$ 5 o milhão de BTUs, ainda é competitivo?
Tolmasquim -
Já fica caro quando temos outras alternativas, como carvão no Sul e no Nordeste, para onde se pode levar carvão importado. A US$ 5 passa a perder a vantagem, mas não quer dizer que fique muito mais cara.

Folha - As empresas reclamam da falta de realismo do governo com as hidrelétricas. O que o sr. acha?
Tolmasquim -
A hidroeletricidade continua majoritária. A termoeletricidade representa apenas 23% da oferta. Temos importantes projetos hidrelétricos, como no rio Madeira (Rondônia) e na usina de Belomonte (Pará).

Folha - A critica é que há muitos obstáculos para as obras.
Tolmasquim -
O que importa agora são as usinas do Madeira. A Belomonte é só em 2014. Se aparecer uma outra alternativa melhor a ela, isso pode ser alterado. No Madeira, esperamos que o licenciamento ambiental saia este ano. Daí, é possível cumprir o prazo (2011 na de Jirau e 2012 na de Santo Antônio, ambas no Madeira).

Folha - No mercado, é unânime a opinião de que a energia no Brasil tende a ficar mais cara por causa da Bolívia. O que o sr. acha?
Tolmasquim -
O Brasil é majoritariamente hidrelétrico. Vai afetar, mas proporcionalmente ao peso do gás. Eu concordo. Mas vai ficar mais cara para as termoelétricas que forem construídas, pois as que estão aí já têm contrato.

Folha - Qual a estimativa que o sr. tem para a exploração do campo de Mexilhão, na bacia de Santos?
Tolmasquim -
A estimativa que tenho é de algo entre 50 e 54 milhões de m3/dia a partir de 2008.

Folha- A estimativa da Apine (reúne os produtores independentes de energia) é de 6 milhões de m3 em 2008 e 25 milhões de m3 em 2010. As estimativas privadas são sempre bem menos otimistas.
Tolmasquim -
Veja, nós temos um estudo superdetalhado, com todas as hipóteses, plantas, datas e cronogramas. As outras informações que eu vejo são declarações de jornal. Não que eu esteja desmerecendo, mas são declarações soltas. Não vi nada completo.


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