São Paulo, domingo, 07 de maio de 2006

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DIREITA, VOLVER

Presidente Tabaré Vázquez assume agenda pró-mercado, aproxima-se de Bush e destoa de parceiros do Mercosul

Socialista uruguaio abraça o capitalismo

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MONTEVIDÉU

O Uruguai, sócio menor do Mercosul, encontrou a fórmula para se diferenciar dos seus parceiros e acelerar seu próprio desenvolvimento: assumir o capitalismo em atos e discursos, apesar de, paradoxalmente, ter há 14 meses um presidente socialista, Tabaré Vázquez.
Conhecido antigamente como ""Suíça latino-americana", por seu alto grau de desenvolvimento social em um país pequeno, o Uruguai, nas últimas três décadas, cresceu a um ritmo de 1% ao ano. Atualmente, com 3,4 milhões de habitantes, seu índice de desemprego atinge 12,4%.
A Frente Ampla governa. É um conglomerado de 21 facções, como o Partido Socialista (que se diz marxista), de Vázquez; comunistas; tupamaros (antigos guerrilheiros); democratas-cristãos; Vertente Artiguista; Novo Espaço; e os radicais Corrente Esquerda e Movimento 26 de Março.
Mas essas forças internas passaram a reclamar do pouco espaço destinado a rubricas sociais no Orçamento de 2006, do envio de tropas para o Haiti e da aproximação com os Estados Unidos.
Para justificar tal aproximação, Vázquez diz que ela já ocorre de fato, na medida em que os Estados Unidos são o principal destino das exportações uruguaias, suplantando o Brasil e a Argentina nos últimos seis anos.
De 1999 para 2005, os Estados Unidos passaram a importar de 6% a 22% dos produtos uruguaios. O Brasil, porém, baixou de 25% para 14%. A Argentina, de 16% para 7%.
Os uruguaios enfatizam a necessidade de exportar, especialmente carne, têxteis, laticínios e software. Com inflação crescente (4,9% em 2005 e 2,9% nos primeiros quatro meses de 2006; sendo 6% no acumulado dos últimos 12 meses), o déficit comercial (exportações menos exportações) é de US$ 500 milhões.

Não a "estrangeiro"
Em discurso realizado no Conselho das Américas (entidade empresarial norte-americana), Vázquez se diferenciou de outros países da região e definiu o Mercosul como um bloco que tem "dificuldades, limitações e bloqueios".
No encontro que manteve nesta semana com o presidente norte-americano, George W. Bush, Vázquez voltou a criticar o que considera limitações do Mercosul.
Antes, o presidente uruguaio sinalizou que deixaria o bloco comercial. Depois, recuou. Mas insiste em dizer que o tratado, para os países menores (Uruguai e Paraguai), não serve como está.
Ainda no discurso no Conselho das Américas, Vázquez voltou a defender a economia de mercado e sua ampliação. "Reclamamos liberalismo, porque o autoritarismo é, para a democracia, o mesmo que o protecionismo é para o comércio."
Definição do Uruguai pelo seu presidente socialista: "Nunca, jamais, nem ainda nas piores circunstâncias, o Uruguai deixou de cumprir seus compromissos ou deixou de respeitar contratos. Não gostamos de dizer a palavra "estrangeiro'".
Bem diferente de sua sócia no Mercosul -a Argentina-, que recentemente deixou de pagar dívidas e estatizou empresas.
Com a Argentina, aliás, iniciou um contencioso na fronteira, depois que o presidente Néstor Kirchner se posicionou contra a instalação de duas multinacionais de papel no país vizinho, às margens do Rio Uruguai, por considerá-las poluidoras.
Para completar o convite aos estrangeiros, Vázquez afirmou: "No Uruguai, o empresário não precisa de custódia ou carro blindado".
O presidente do oposicionista Partido Nacional (Blanco, de centro), senador Jorge Larrañaga, diz que Vázquez foi generoso na campanha eleitoral, mas avarento ao cumprir promessas.
"O governo se postulou como sendo de mudança. Diria que tem duas mudanças: a primeira e a ré. Faz um ano, Vázquez estava na praça com o PIT-CNT (principal central sindical do país). Hoje, está com o Império [numa alusão aos Estados Unidos]", criticou Larrañaga.


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