São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2010

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Crise na Grécia afeta real e derruba Bolsas

Moeda brasileira tem maior variação em 13 meses, euro tem a pior cotação em oito anos e nervosismo se espalha pelo mundo

Pacote de ajuda de 110 bi é considerado insuficiente; calote grego pode atingir outros endividados como Itália, Espanha e Portugal

EPAMINONDAS NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O risco de calote grego que afeta grandes bancos europeus e a decepção com a aparente falta de ação das autoridades europeias provocaram ontem um dia de tensão que lembrou momentos da crise global de 2008 e espalhou temores muito além da Europa.
O real sofreu a maior variação em 13 meses e o euro atingiu a pior cotação em oito anos.
O dólar mostrou algumas das variações mais bruscas do dia: oscilou entre R$ 1,79 e R$ 1,89 no momento de maior estresse.
No final do dia, foi trocado por R$ 1,849, salto de 2,83%, o maior desde março de 2009.
A Bovespa afundou 6,4% em seu pior momento, mas também se recuperou perto do fechamento: o índice Ibovespa cedeu 2,31%, praticamente anulando os ganhos acumulados desde o início de fevereiro.
A derrocada foi generalizada: a Bolsa de Nova York deu mergulho de 9% no meio do dia, assustando investidores em todo o mundo. Mas encerrou o dia com perdas mais modestas, de 3,20%.
Mais tarde, agências internacionais relataram que uma possível falha técnica em uma ordem de mercado pode ter afetado o pregão americano -por conta dela, a Bolsa de Nova York e a Bolsa eletrônica Nasdaq informaram que cancelariam as ordens executadas no período. A SEC (espécie de CVM dos EUA) investigará. Na Europa e na Ásia, as Bolsas caíram entre 0,9% e 3%.
Há meses, a Grécia se tornou "a bola da vez" de especuladores, ao vir a público a fragilidade de suas contas públicas. A União Europeia e o FMI costuraram o maior pacote de ajuda financeira da história recente (de € 110 bilhões).

Europa endividada
O que os mercados sinalizaram ontem é que essa ajuda pode não ser suficiente para salvar a economia europeia de um colapso, cujo estopim seria a supostamente inevitável moratória grega (a dívida pública do país é mais de duas vezes o valor do resgate bilionário).
Uma consequencia direta do não pagamento será um forte abalo sobre o sistema financeiro europeu, que detém 80% das dívidas do país. Bancos alemães e franceses (que detêm 50% do montante) perderiam dinheiro e ficariam com menos capital, uma espiral que poderia redundar em seguros de crédito mais caros e juros mais altos.
A fragilidade grega pode contagiar os também endividados Espanha, Portugal e Itália, provocando estrago muito maior: somente a Itália tem uma economia seis vezes maior que a Grécia; e o que a Espanha deve aos bancos alemães (US$ 238 bilhões) já equivale a quase toda a dívida grega.
"Não há sinais de que pode haver solução no curto prazo", afirma Mário Paiva, analista da corretora BGC Liquidez.
Muitos analistas culparam o presidente do BCE (Banco Central Europeu), Jean-Claude Trichet, pelo nervosismo que derrubou as Bolsas.
A autoridade europeia provocou uma onda de frustração ao declarar que não pretende adquirir títulos de dívida de países da zona do euro, ativos que recheiam a carteira de muitos bancos e sofrem um processo de depreciação, num cenário de desconfiança generalizada sobre a capacidade dos países em saldar compromissos.
Analistas elogiam os fundamentos da economia brasileira, que podem ajudar o mercado doméstico a sofrer menos numa eventual piora da crise.
"Muitos dizem que a Bovespa está um pouco "descolada" da crise mundial, mas, num episódio de estresse como esse, os investidores fogem: vendem Brasil e correm para os títulos do Tesouro americano", afirma o superintendente da Banif Corretora, Raffi Dokuzian.

FOLHA ONLINE
Leia a coluna de Clóvis Rossi
www.folha.com.br/1012612



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