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Crise na Grécia afeta real e derruba Bolsas
Moeda brasileira tem maior variação em 13 meses, euro tem a pior cotação em oito anos e nervosismo se espalha pelo mundo
Pacote de ajuda de 110 bi
é considerado insuficiente; calote grego pode atingir outros endividados como Itália, Espanha e Portugal
EPAMINONDAS NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O risco de calote grego que
afeta grandes bancos europeus
e a decepção com a aparente
falta de ação das autoridades
europeias provocaram ontem
um dia de tensão que lembrou
momentos da crise global de
2008 e espalhou temores muito além da Europa.
O real sofreu a maior variação em 13 meses e o euro atingiu a pior cotação em oito anos.
O dólar mostrou algumas das
variações mais bruscas do dia:
oscilou entre R$ 1,79 e R$ 1,89
no momento de maior estresse.
No final do dia, foi trocado por
R$ 1,849, salto de 2,83%, o
maior desde março de 2009.
A Bovespa afundou 6,4% em
seu pior momento, mas também se recuperou perto do fechamento: o índice Ibovespa
cedeu 2,31%, praticamente
anulando os ganhos acumulados desde o início de fevereiro.
A derrocada foi generalizada:
a Bolsa de Nova York deu mergulho de 9% no meio do dia, assustando investidores em todo
o mundo. Mas encerrou o dia
com perdas mais modestas, de
3,20%.
Mais tarde, agências internacionais relataram que uma possível falha técnica em uma ordem de mercado pode ter afetado o pregão americano -por
conta dela, a Bolsa de Nova
York e a Bolsa eletrônica Nasdaq informaram que cancelariam as ordens executadas no
período. A SEC (espécie de
CVM dos EUA) investigará.
Na Europa e na Ásia, as Bolsas caíram entre 0,9% e 3%.
Há meses, a Grécia se tornou
"a bola da vez" de especuladores, ao vir a público a fragilidade de suas contas públicas. A
União Europeia e o FMI costuraram o maior pacote de ajuda
financeira da história recente
(de € 110 bilhões).
Europa endividada
O que os mercados sinalizaram ontem é que essa ajuda pode não ser suficiente para salvar a economia europeia de um
colapso, cujo estopim seria a
supostamente inevitável moratória grega (a dívida pública do
país é mais de duas vezes o valor do resgate bilionário).
Uma consequencia direta do
não pagamento será um forte
abalo sobre o sistema financeiro europeu, que detém 80% das
dívidas do país. Bancos alemães
e franceses (que detêm 50% do
montante) perderiam dinheiro
e ficariam com menos capital,
uma espiral que poderia redundar em seguros de crédito mais
caros e juros mais altos.
A fragilidade grega pode contagiar os também endividados
Espanha, Portugal e Itália, provocando estrago muito maior:
somente a Itália tem uma economia seis vezes maior que a
Grécia; e o que a Espanha deve
aos bancos alemães (US$ 238
bilhões) já equivale a quase toda a dívida grega.
"Não há sinais de que pode
haver solução no curto prazo",
afirma Mário Paiva, analista da
corretora BGC Liquidez.
Muitos analistas culparam o
presidente do BCE (Banco
Central Europeu), Jean-Claude Trichet, pelo nervosismo
que derrubou as Bolsas.
A autoridade europeia provocou uma onda de frustração
ao declarar que não pretende
adquirir títulos de dívida de
países da zona do euro, ativos
que recheiam a carteira de muitos bancos e sofrem um processo de depreciação, num cenário
de desconfiança generalizada
sobre a capacidade dos países
em saldar compromissos.
Analistas elogiam os fundamentos da economia brasileira,
que podem ajudar o mercado
doméstico a sofrer menos numa eventual piora da crise.
"Muitos dizem que a Bovespa
está um pouco "descolada" da
crise mundial, mas, num episódio de estresse como esse, os
investidores fogem: vendem
Brasil e correm para os títulos
do Tesouro americano", afirma
o superintendente da Banif
Corretora, Raffi Dokuzian.
FOLHA ONLINE
Leia a coluna de Clóvis
Rossi
www.folha.com.br/1012612
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