São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002

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FINANÇAS

Porta-voz do Fundo reitera apoio e confiança na economia, e diretor-gerente diz não temer vitória de Lula

FMI e EUA tentam abafar crise no Brasil

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

A turbulência financeira no Brasil acordou Washington. Preocupados com os sinais negativos vindos dos mercados brasileiros, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Tesouro dos EUA fizeram esforços para reiterar o apoio e a confiança na economia do país com o objetivo de inverter o quadro de pessimismo.
"As autoridades brasileiras têm um excelente histórico na administração da economia", disse ontem o porta-voz do FMI, Tom Dawson. "Estamos confiantes em que eles possuem os instrumentos, a capacidade e a vontade para adotar as políticas necessárias."
Dawson reconheceu a existência de "uma grande quantidade de nervosismo em antecipação às eleições", mas creditou esse nervosismo à "natureza" dos mercados. "Não é surpreendente que os mercados estejam nervosos. Essa é uma das naturezas dos mercados. Os mercados reagem, os mercados exageram."
As palavras de Dawson fazem parte de uma estratégia iniciada pelo FMI e apoiada pelo Tesouro norte-americano para conter o pessimismo crescente com relação à economia brasileira.
Essa estratégia inclui também uma mudança de postura com relação à Argentina, país que era severamente criticado pelo Fundo até terça-feira passada e que ontem ganhou elogios e uma promessa de que um novo acordo começará a ser negociado em breve. O FMI pretende dar todos os sinais possíveis para aumentar o apetite dos investidores na região.
Foi o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, quem deu início à "operação abafa-crise", numa entrevista à agência de notícias Reuters, na terça-feira passada. Köhler disse que o Fundo confia na solidez da política econômica brasileira e não acredita que os avanços institucionais no país possam ser invertidos por causa de um processo eleitoral.
Köhler chegou a dizer que não teme uma vitória do pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, mas essas declarações tiveram divulgação extremamente limitada.
"Apesar do debate sobre as incertezas decorrentes de uma [eventual" mudança [em favor" do sr. Lula, a democracia no Brasil ganhou raízes fortes e o país fortaleceu suas instituições de forma significativa", disse Köhler. "Se o sr. Lula ou qualquer outro chegar ao poder, isso não mudará."
Para o Tesouro dos EUA, a turbulência no Brasil põe em jogo a credibilidade do próprio secretário Paul O'Neill, para quem a Argentina não merece ajuda financeira e os investidores não sairiam do Brasil porque sabem premiar uma boa política econômica.
Na quarta-feira à noite, o subsecretário para assuntos internacionais do Tesouro dos EUA, John Taylor, disse continuar acreditando em que os mercados estão focados única e exclusivamente nos fundamentos das economias latino-americanas e não se deixariam levar por "contágio" ou fuga irracional de recursos. Um assessor do Tesouro disse que o governo americano "está monitorando" a situação da economia brasileira, mas que "não vê motivo para grandes preocupações". Publicamente, o FMI e o Tesouro norte-americano divulgam a política econômica brasileira como um caso de sucesso, apesar do tamanho da dívida pública do país e das recentes turbulências.



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