São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002

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Dívida pública deve chegar a 57% do PIB com a disparada do dólar

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A recente disparada do dólar deve provocar um aumento de R$ 32 bilhões na dívida do governo. Embora os números oficiais ainda não tenham sido divulgados, estimativas feitas a partir de dados do Banco Central indicam que o endividamento do setor público deve chegar a 57% do PIB.
Quase metade da dívida líquida do setor público (União, Estados, municípios e estatais) é corrigida pela variação cambial. Além das dívidas contraídas no exterior, o impacto da alta do dólar também é sentido nos empréstimos feitos dentro do Brasil, mas corrigidos pelo câmbio.
No dia 30 de abril, a dívida líquida totalizava R$ 684,6 bilhões, ou 54,5% do PIB. Desde então, a cotação média do dólar passou de R$ 2,36 para R$ 2,64, alta de 11,9%. Isso faz o endividamento atrelado ao câmbio crescer. Segundo o BC, cada 1% de alta do dólar eleva a relação dívida/PIB em 0,23 ponto percentual.
A proporção entre dívida e PIB é um dos principais indicadores sobre a capacidade de o país honrar seus compromissos -seria o equivalente a comparar a dívida de uma pessoa com o seu salário. O crescimento dessa relação pode trazer ainda mais nervosismo ao mercado.
O governo toma empréstimos por meio da emissão de títulos, comprados por bancos e fundos de investimento. Nos últimos meses, esses títulos se desvalorizaram, trazendo prejuízos aos investidores. A desvalorização dos papéis é consequência da combinação de vários fatores.
Em fevereiro, o BC criou um novo instrumento para rolar parcelas da dívida pública atreladas ao dólar. Parte dos títulos cambiais (que pagam uma taxa de juros mais a variação do câmbio) foi resgatada e substituída por contratos de "swap" cambial (que pagam ao investidor apenas a variação do câmbio).
Para fechar o negócio, porém, o BC exigia que todos os que comprassem o "swap" adquirissem também uma certa quantidade de títulos pós-fixados, corrigidos pelos juros básicos da economia. O problema é que muitos investidores estavam interessados apenas no "swap" e, assim que tinham uma oportunidade, vendiam os títulos pós-fixados.
Se muitas pessoas vendem o mesmo título ao mesmo tempo, sua cotação cai. Além disso, a proximidade das eleições aumentou a preocupação do mercado com a capacidade do governo de honrar seus compromissos.
Muitos investidores têm dúvidas em relação ao tratamento que o futuro presidente dará ao problema do aumento da dívida pública. Por isso, o mercado passou a pedir um "desconto" para comprar títulos do governo que vencem a partir de 2003. Além disso, esse cenário aumentou a procura pelo dólar, elevando sua cotação.
A situação se agravou na semana passada, quando o BC e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) obrigaram os fundos a contabilizar os papéis de suas carteiras segundo o valor de mercado. Foi então que a desvalorização dos títulos públicos se refletiu no bolso do investidor.



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