São Paulo, quarta-feira, 07 de junho de 2006

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Crise da soja termina em 2008, prevê especialista

Renda atual dos produtores alcança apenas 40% da obtida em 2002/2003

Desequilíbrio no setor teve início em 2002, pelo excesso de crédito, especialmente do setor privado, e pela chegada de "aventureiros"


MAURO ZAFALON
ENVIADO ESPECIAL A LONDRINA

"A soja é um gigante muito machucado, mas ainda está vivo." Assim o especialista no setor Anderson Galvão, da consultoria Céleres, definiu o grave momento por que passa a sojicultura brasileira.
Setor responsável pela movimentação de R$ 64 bilhões por ano, incluindo toda a cadeia, os problemas vividos pela soja se espalham por toda a economia. A profunda crise que vive o setor, no entanto, tem prazo para terminar -e deve ser em 2008.
Até lá, no entanto, muitos produtores vão ter de deixar a atividade, afirmou Galvão a 970 participantes do setor, ontem, no 4º Congresso Brasileiro de Soja, promovido pela Embrapa, em Londrina (PR).
Com renda atual de apenas 40% em relação à atingida em 2002/2003, período em que o setor começou a viver a euforia de crescimento, os produtores vivem hoje uma das piores crises da história da cultura, segundo Galvão.
Essa crise tem origem, no entanto, nessa boa fase vivida pelo setor a partir de 2002. A abundância de crédito, principalmente do setor privado, e a chegada de "aventureiros" ao setor foram o início do desequilíbrio.
Esses aventureiros foram investidores de fora da atividade que entraram no setor em busca de lucro fácil. Na visão de Galvão, nessa depuração que ocorrerá, eles serão os primeiros a deixa a soja.
Parte dessa crise vem também do fato de a soja ter alcançado R$ 60 por saca. Produtores do Rio Grande do Sul ao Maranhão seguraram o produto à espera de novos aumentos e viram a oleaginosa despencar para R$ 25.
Mas os problemas não são apenas internos. O mercado de soja mudou e passou a ser atrativo também para os investidores internacionais, que saíram de 160 mil para 400 mil contratos negociados na Bolsa de Chicago em pouco tempo.

Choque de eficiência
Se essa participação é boa porque dá liquidez às negociações, traz instabilidade aos preços, o que é ruim para produtores e para indústrias. Já os fundos, ao contrário, vivem do nervosismo do mercado.
Na visão do especialista, vão sobreviver os produtores que passarem por um choque de eficiência. Essa eficiência inclui, também, as indústrias fornecedoras de insumos, que terão como desafio a redução dos custos. Atualmente, os produtores têm custos 75% superiores aos da safra 1999/2000.
A sobrevivência da soja no país depende da expansão da área, exatamente um dos motivos que levou o setor ao chão nos dois últimos anos. Essa nova expansão, no entanto, tem de ser limitada à capacidade de cada produtor.
A expansão desordenada dos últimos anos deixou o produtor de soja economicamente rico -acrescentou terras e maquinários ao patrimônio-, mas financeiramente pobre -acumulou dívidas que levarão pelo menos três safras para serem regularizadas.
Para Galvão, 2006 vai ser o ano da superação para o produtor de soja, 2007, o da estabilidade e 2008, o da recuperação.


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