São Paulo, quinta-feira, 07 de junho de 2007

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BC acelera a redução da taxa de juros

Copom decide cortar Selic em meio ponto, "neste momento", de 12,5% para 12%; dos 7 membros, 2 votam por diminuição de 0,25 ponto

Foi a primeira reunião do comitê que teve voto do diretor Mario Torós, que substituiu o conservador Rodrigo Azevedo


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central decidiu acelerar um pouco o processo de queda dos juros e reduziu a taxa Selic de 12,5% para 12% ao ano. O corte de 0,5 ponto foi decidido ontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC).
Mesmo entre os diretores do BC, porém, não houve unanimidade. Dos sete membros do Copom, dois votaram por corte de 0,25 ponto. Na nota divulgada após a reunião do comitê, o BC informou que, "avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, neste momento, reduzir a taxa Selic".
Foi a 16ª redução seguida nos juros, que estão em queda desde setembro de 2005. Também foi a primeira decisão a contar com a participação do novo diretor de Política Monetária, Mario Torós. Ele substituiu o economista Rodrigo Azevedo, considerado um dos membros mais conservadores do Copom.
No encontro de abril, já havia uma sinalização de que a queda dos juros poderia ser acelerada. Na ocasião, três dos sete diretores do BC votaram por redução de 0,5 ponto.
Embora tenha prevalecido a decisão da maioria, de queda de 0,25 ponto, analistas de mercado entenderam a falta de unanimidade como uma indicação de que, em algum momento, os juros começariam a cair de forma mais acelerada.
Já a falta de consenso observada ontem deixa em aberto a decisão a ser tomada na próxima reunião do Copom, no mês que vem. Para analistas de mercado, um corte de 0,5 ponto por unanimidade poderia ser entendido como um sinal de que novas quedas da mesma magnitude voltariam a acontecer nos próximos meses. Como isso não aconteceu, fica difícil prever qual será o rumo da política monetária de agora em diante.
O BC vinha adotando a política de reduzir os juros em doses de 0,5 ponto até janeiro deste ano. De lá para cá, a Selic vinha sendo reduzida em 0,25 ponto por reunião do Copom.
Para justificar essa maior cautela, o BC argumentou que os juros já haviam caído muito nos últimos anos -em setembro de 2005, a taxa Selic estava em 19,75%- e, por isso, seria melhor esperar um pouco para ver com mais clareza como a economia reagiria a essa queda.
Mesmo com os cortes efetuados recentemente pelo BC, porém, os juros brasileiros continuam entre os mais altos do mundo. E vários fatores sugeriam um corte mais acelerado dos juros.
Um deles foi a melhora na nota atribuída ao Brasil pela Fitch e pela Standard & Poor's, duas das principais agências internacionais de classificação de risco. Com essa melhora, o país ficou a um degrau do chamado "grau de investimento", nota atribuída a países que são considerados destinos seguros para os investidores.
A notícia trouxe ânimo aos mercados e ajudou a trazer a cotação do dólar para baixo da barreira de R$ 2. A valorização do real é outro motivo apontado por analistas para justificar um corte maior dos juros, já que a queda do dólar barateia produtos importados e ajuda no controle da inflação.
De acordo com pesquisa feita pelo BC na sexta-feira passada com cerca de cem analistas de mercado, a expectativa é que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) tenha alta de 3,5% neste ano e de 4% no ano que vem -em ambos os casos, abaixo da meta de 4,5% estabelecida pelo governo.
Apesar desse cenário favorável à queda dos juros, nos últimos dias analistas começaram a considerar a possibilidade de um corte de 0,25 ponto, devido, principalmente, a preocupações com uma possível alta dos juros nos Estados Unidos.
Anteontem, o presidente do Fed (o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, disse esperar que a economia norte-americana continue crescendo num ritmo moderado, mas ressaltou que a inflação permanecia num nível elevado. O discurso foi entendido pelo mercado como um sinal de que os juros norte-americanos não serão reduzidos tão cedo, o que prejudicaria o fluxo de capital para países emergentes como o Brasil.


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