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Programas de diversidade correm risco de cair em descrédito
DA REPORTAGEM LOCAL
Criados para estimular os
funcionários a saírem do armário, especialmente nas multinacionais, os programas de diversidade sexual em vigor nas
grandes empresas correm o risco de cair em descrédito.
Com raras exceções, eles foram implementados por imposição das matrizes estrangeiras
-rigorosas na aplicação de políticas antidiscriminação-,
mas sucumbem diante da cultura machista dominante no
país. É o que afirmam consultores contratados pelas filiais
brasileiras para desenvolvê-los.
Pesquisadores da UnB, UFMG
e FGV, que estudam o assunto,
têm a mesma opinião.
"Basta observar o engajamento dos funcionários", afirma Ana Paula Diniz, pesquisadora do Núcleo de Estudos Organizacionais da UFMG. "Pesquisamos empresas com milhares de empregados e só quatro assumidos." Até na IBM,
que possui o melhor programa,
na opinião dos consultores, só
74 são abertamente gays num
total de 18 mil funcionários.
"O problema é que eles não se
sentem devidamente protegidos pelos programas para se assumirem", diz Marcus Vinicius
Siqueira, da UnB, outro estudioso do tema. "As brincadeiras
de mau gosto e a falta de sanções aos funcionários que discriminam seus colegas de trabalho arranham a credibilidade
desses programas."
Ruim com eles, pior sem
Embora apresentem falhas,
os programas asseguram aos
funcionários homossexuais
com relações estáveis benefícios corporativos impensáveis
há cinco anos. Uma pesquisa da
consultoria Mercer realizada
com 210 companhias brasileiras de grande e médio portes
mostra que, em 2008, 25% delas permitiam aos seus funcionários incluir os companheiros
nos planos de saúde e odontológico. Há cinco anos, esse índice era de apenas 8,7%.
Na área previdenciária, a
Mercer estima que, atualmente, metade das entidades de
previdência fechada (públicas e
privadas) prevê o pagamento
de pensão aos parceiros de
mesmo sexo em caso de morte
do titular do plano.
A limitação, nesse caso, é das
empresas, que, muitas vezes,
não querem gastar mais para
oferecer esses planos aos casais
de mesmo sexo. As estatais estão na dianteira desse processo
ao conceder o benefício. Na
Previ, fundo dos funcionários
do Banco do Brasil, já existem
200 casais gays inscritos.
Sindicatos também avançam
nas negociações trabalhistas,
incluindo benefícios a funcionários homossexuais e a seus
companheiros nos acordos coletivos de categorias.
Em 2008, sete acordos dos
220 acompanhados pelo Dieese previam a extensão de direitos a dependentes gays. Bancários, eletricitários e empregados em processamento de dados estão entre os contemplados. Em 2005, eram quatro.
"São poucos acordos, mas os
homossexuais estão buscando
ampliar seus direitos. É um sinal positivo", diz Luís Augusto
Ribeiro da Costa, técnico do
Dieese.
(JW e CR)
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